Por João Calvino
Antes que o primeiro homem fosse criado, Deus por um decreto determinou o que aconteceria a toda a raça humana.
Através deste oculto decreto de Deus, foi decidido que Adão cairia do seu perfeito estado de sua natureza e arrastaria toda a sua posteridade em culpa e morte eterna.
Sobre o mesmo decreto penderia a discriminação entre o eleito e o réprobo: pois, alguns Ele para si mesmo adotou para a salvação; no entanto, Ele destinou outros para a destruição eterna.
Apesar do réprobo ser vaso da justa vingança de Deus e, o eleito ser vaso de misericórdia, todavia, não há outra causa da discriminação encontrada em Deus, senão a sua simples vontade, a qual é a suprema regra de justiça.
Apesar disto, é pela fé que o eleito recebe a graça da adoção, todavia, a eleição não depende da fé, mas é anterior a ela em tempo e em ordem.
Portanto, a origem e perseverança da fé decorrem da gratuita eleição de Deus, sendo que nenhum outro é verdadeiramente iluminado com fé, nem são dotados com o Espírito de regeneração, a não ser aqueles que Deus tenha escolhido: mas, o réprobo inevitavelmente mantém-se em sua escuridão e distante queda da fé, mesmo que haja qualquer coisa boa nele.
Apesar de sermos escolhidos em Cristo, todavia, o Senhor que considera-nos entre os seus, está ordenado para si fazer-nos membros de Cristo.
Apesar da vontade de Deus ser a suprema e primeira causa de todas as coisas, e Deus dirigir o demônio e todos os ímpios segundo a sua vontade, entretanto, a Deus nunca pode ser atribuído a causa do pecado, nem a autoria do mal, nem é Ele aberto para alguma culpa.
Apesar de Deus ser verdadeiramente hostil ao pecado e condenar todo a iniquidade dos homens, pois lhe são ofensivos, todavia, não acontecem meramente pela sua permissão revelada, mas pela sua vontade e decreto secreto em que todas as coisas ocorrem e os homens são governados.
Apesar do demônio e réprobos serem servos e instrumentos para conduzir suas decisões secretas, entretanto, de uma maneira incompreensível, Deus assim opera neles, e através deles, ao restringir sem, todavia, contaminar-se com o seu vício, porque a sua malícia é usada num justo e correto caminho para um bom propósito, apesar da maneira como é feito, muitas vezes para nós isto é ocultado.
Eles agem ignorantes e com calúnias, ao dizer que Deus se torna o autor do pecado, se todas as coisas ocorrem pela sua vontade e ordenança; pois, não distinguem entre a obstinada depravação dos homens e os ocultos desígnios de Deus.
Extraído de B.B. Warfield, Studies in Theology (Grand Rapids, Baker Books, 2002), pp. 193-194
Traduzido por Rev. Ewerton B. Tokashiki
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segunda-feira, 19 de março de 2018
segunda-feira, 25 de maio de 2015
As obras de Deus e os decretos divinos em geral - Johannes Wollebius
(1)
Até agora Deus foi considerado em si mesmo. Agora ele também precisa ser considerado em suas obras.
1. Isto inclui tanto as obras essenciais como as pessoais.
2. As obras essenciais são aquelas que são realizadas por toda a Santíssima Trindade operando como sendo apenas um Ser.
3. As obras pessoais são aquelas que são peculiares a uma pessoa em particular.
4. Tanto as obras essenciais como as pessoais incluem aquilo que afeta Deus somente [ad intra] e aqueles efeitos são percebidos fora de Deus [ad extra].
5. A primeira espécie não tem outro objeto [terminus] além de Deus. [A esta espécie pertencem] tais assuntos como a inteligência pela qual Deus conhece a si mesmo, a geração do Filho e a procedência do Espírito Santo.
6. As obras da segunda espécie têm alguns outros objetos além da Santíssima Trindade. Tais como a predestinação, criação e coisas semelhantes que concernem às criaturas como objetos externos a Deus.
PROPOSIÇÕES
I. A mesma obra externa é tanto pessoal como essencial de diferentes pontos de vista. Assim, a encarnação de Cristo, em seu aspecto eterno [inaugurativo] é uma obra essencial, comum à toda a Trindade; em seu aspecto histórico [consumativo] ela é uma obra pessoal apenas do Filho. Embora o Pai e o Espírito sejam causas da encarnação, somente o Filho tornou-se encarnado. Do mesmo modo, embora a criação, redenção e santificação são obras de toda a Santíssima Trindade, todavia, de um ponto de vista, elas podem ser chamadas de pessoais. O Pai é chamado criador, porque ele é, como era a origem [fons] da operação da Trindade, e o Filho e Espírito Santo agem pelo Pai. O Filho é chamado redentor, porque ele consumou a obra da redenção assumindo a natureza humana. O Espírito Santo é chamado santificador, porque ele é enviado pelo Cristo como um confortador e santificador.
II. As obras externas são indivisíveis ou comuns a todas as pessoas. Desta proposição segue do que foi declarado acima; uma vez que a essência é comum a todas as pessoas, as obras essenciais também precisam ser comuns a todos os três.
III. Toda obra específica sempre preserva o mesmo princípio essencial, causa eficiente e efeito.
(2)
1. As obras de Deus que tem a sua realização fora dele são tanto imanente e interna, como exposta e externa. As obras imanentes e internas de Deus são aquelas que recebem lugar dentro de sua divina essência, e deste modo são os decretos de Deus.
PROPOSIÇÕES
I. Nem todas as obras cujo objeto é fora de Deus [ad extra] é uma obra externa. Um decreto de Deus é ad extra naquilo que se refere à criatura ou alguma coisa além de Deus, mas ela é interna naquilo que ela permanece em toda a essência de Deus.
II. As obras imanentes e internas de Deus são as realidades [res] não diferem da essência de Deus. Tudo o que estiver em Deus é Deus, como apresentamos acima como uma consequência da simplicidade da essência divina; e como essência e ser [essentia et esse] não são diferentes em Deus, assim, em sua vontade e o ato da vontade não são realidades [realiter] diferentes.
(3)
Um decreto é um ato interno da vontade divina, pelo qual ele determina, da eternidade, livremente, com absoluta certeza, aqueles assuntos que acontecerão no tempo.
PROPOSIÇÕES
I. Os decretos são chamados “o plano definitivo” (At 2:23), “a mão e plano de Deus” (At 4:28), “o beneplácito de Deus” (Ef 1:9), e a eterna providência de Deus. Eles são chamados de “eterna providência” em distinção da atual providência que não é outra senão que a execução dos decretos de Deus.
II. Eles também são chamados de vontade de Deus, e o que Deus intenta fazer [voluntas beneplaciti]. Na realidade, o decreto é a própria vontade de Deus; mas, para o propósito de ensino a vontade é tratada como a causa eficiente, e o decreto como o efeito. Outra nomenclatura acerca da vontade pode ser adotada para vários propósitos e várias distinções são feitas pelos teólogos; a distinção entre o que Deus intenta fazer e o que ele nos quer fazer [voluntas beneplaciti et signi], entre vontades antecedente e consequente, absoluta e condicional, oculta e revelada. Estas não são divisões reais, ou partes da vontade divina de Deus, pois de fato, ela é propriamente chamada àquilo que Deus intenta fazer [voluntas beneplaciti] porque pela sua completa liberdade e beneplácito, ele decretou tudo que acontecerá. O mesmo é “antecedente” porque ele existiu antes das coisas criadas, e foi contado com Deus desde a eternidade. Ele é chamado “absoluto” porque se baseia unicamente na boa vontade de Deus e não de nada no tempo, e finalmente, ele é chamado de “oculto” porque nem anjos, ou homens entendem-no sem auxílio [a priori]. Mas como está numa cantiga popular “Ele comanda e ele proíbe, permite, divide e completa” possa ser vagamente chamado pela designação da vontade divina. Assim como os editos de um magistrado são chamados de sua vontade, do mesmo modo a designação da vontade pode ser dada aos preceitos, proibições, promessas e bem como aos fatos e eventos. Assim, a divina vontade também é chamada daquilo que Deus quer fazer [voluntas signi], pois ela significa o que é aceitável a Deus; o que ele quer fazer a nosso favor. O decreto é chamado de “consequente” porque ele segue aquela vontade que antecede a eternidade; ele é “condicional” porque os mandamentos, proibições ou desobediência estão ligados a ele. Finalmente, ele é chamado de “revelado” porque é o modo explicado na palavra de Deus. É necessário observarmos que este espécie de discussão não postula outra realidade diversa, ou contraditória, como se fossem vontades de Deus.
III. Ao lado da vontade de Deus não há causas que podem ser contrárias a sua vontade. De fato, muitas coisas podem ser contrárias àquilo que Deus quer [voluntas signi], no entanto, elas se conformam ao plano divino [voluntas beneplaciti]. Deus não criou o pecado do homem, pelo contrário, mais estritamente ele o proibiu. Contudo, ao mesmo tempo ele o decretou de acordo com a esta vontade [beneplaciti] como um meio de revelar a sua glória.
IV. Tanto o bem como mal, entretanto, resultam do decreto e vontade de Deus; primeiro ele causa, e depois ele permite.
V. Contudo, o decreto e vontade de Deus não têm o mesmo sentido como causa do mal ou do pecado, embora tudo o que Deus decreta assume a posição de necessidade. Desde os males que são decretados, não efetivamente, mas permissivamente, o decreto de Deus não é a causa do mal. Nem são os decretos de Deus a causa do mal sobre a explicação da inevitabilidade de seu resultado, ou mesmo que eles conduzam os resultados não por uma necessidade coerciva, mas meramente por algo imutável.
VI. A inevitabilidade [necessitas] dos decretos de Deus não destrói a liberdade nas criaturas racionais. A razão é que a necessidade não é uma necessidade da coerção, mas da imutabilidade. Que a queda de Adão aconteceu pela necessidade com respeito a um decreto divino; todavia, Adão pecou livremente, nem ordenado, nem coagido, ou influenciado por Deus; de fato, ele teve a mais estrita advertência para não pecar.
VII. A inevitabilidade dos decretos de Deus não destrói a contingência das causas secundárias. Muitos eventos que acontecem pela necessidade com respeito aos planos de Deus são contingentes com as causas secundárias.
VIII. Não existe uma causa ativa [causa impulsiva] além da absolutamente livre vontade e prazer de Deus capaz de determinar os decretos divinos.
IX. O propósito [finis] dos divinos decretos é a glória de Deus.
X. Um decreto de Deus é singular e simples em si mesmo; nele não existe algo que seja anterior ou posterior.
XI. Com respeito a todas as coisas decretadas, deve ser especificado que na ordem em que ocorrem, Deus diz ter decretado quais deveriam ocorrer.
Tais questões como se Deus primeiro decretou isto ou aquilo, ou se ele decretou primeiro e o fim, ou os meios, são tolice. Desde que um decreto de Deus é em si mesmo um ato absolutamente simples, não há nela nem antecedente ou posterior; apenas com respeito às coisas decretadas podem ser especificadas. Com este entendimento podemos dizer que Deus decretou (1) criar o homem, (2) dar-lhe a sua imagem, mas de um modo que pudesse se perder, (3) permitir a queda, (4) e deixar alguns dos caídos entregues a si mesmos, mas eleger outros e preservá-los para a vida eterna.
Traduzido de Johannes Wollebius, Compendium Theologicae Christianae in: John W. Beardslee III, Reformed Dogmatics: seventeenth-century Reformed Theology through the Writings of Wollebius, Voetius, and Turretin (Grand Rapids, Baker Books, 1977).
Até agora Deus foi considerado em si mesmo. Agora ele também precisa ser considerado em suas obras.
1. Isto inclui tanto as obras essenciais como as pessoais.
2. As obras essenciais são aquelas que são realizadas por toda a Santíssima Trindade operando como sendo apenas um Ser.
3. As obras pessoais são aquelas que são peculiares a uma pessoa em particular.
4. Tanto as obras essenciais como as pessoais incluem aquilo que afeta Deus somente [ad intra] e aqueles efeitos são percebidos fora de Deus [ad extra].
5. A primeira espécie não tem outro objeto [terminus] além de Deus. [A esta espécie pertencem] tais assuntos como a inteligência pela qual Deus conhece a si mesmo, a geração do Filho e a procedência do Espírito Santo.
6. As obras da segunda espécie têm alguns outros objetos além da Santíssima Trindade. Tais como a predestinação, criação e coisas semelhantes que concernem às criaturas como objetos externos a Deus.
PROPOSIÇÕES
I. A mesma obra externa é tanto pessoal como essencial de diferentes pontos de vista. Assim, a encarnação de Cristo, em seu aspecto eterno [inaugurativo] é uma obra essencial, comum à toda a Trindade; em seu aspecto histórico [consumativo] ela é uma obra pessoal apenas do Filho. Embora o Pai e o Espírito sejam causas da encarnação, somente o Filho tornou-se encarnado. Do mesmo modo, embora a criação, redenção e santificação são obras de toda a Santíssima Trindade, todavia, de um ponto de vista, elas podem ser chamadas de pessoais. O Pai é chamado criador, porque ele é, como era a origem [fons] da operação da Trindade, e o Filho e Espírito Santo agem pelo Pai. O Filho é chamado redentor, porque ele consumou a obra da redenção assumindo a natureza humana. O Espírito Santo é chamado santificador, porque ele é enviado pelo Cristo como um confortador e santificador.
II. As obras externas são indivisíveis ou comuns a todas as pessoas. Desta proposição segue do que foi declarado acima; uma vez que a essência é comum a todas as pessoas, as obras essenciais também precisam ser comuns a todos os três.
III. Toda obra específica sempre preserva o mesmo princípio essencial, causa eficiente e efeito.
(2)
1. As obras de Deus que tem a sua realização fora dele são tanto imanente e interna, como exposta e externa. As obras imanentes e internas de Deus são aquelas que recebem lugar dentro de sua divina essência, e deste modo são os decretos de Deus.
PROPOSIÇÕES
I. Nem todas as obras cujo objeto é fora de Deus [ad extra] é uma obra externa. Um decreto de Deus é ad extra naquilo que se refere à criatura ou alguma coisa além de Deus, mas ela é interna naquilo que ela permanece em toda a essência de Deus.
II. As obras imanentes e internas de Deus são as realidades [res] não diferem da essência de Deus. Tudo o que estiver em Deus é Deus, como apresentamos acima como uma consequência da simplicidade da essência divina; e como essência e ser [essentia et esse] não são diferentes em Deus, assim, em sua vontade e o ato da vontade não são realidades [realiter] diferentes.
(3)
Um decreto é um ato interno da vontade divina, pelo qual ele determina, da eternidade, livremente, com absoluta certeza, aqueles assuntos que acontecerão no tempo.
PROPOSIÇÕES
I. Os decretos são chamados “o plano definitivo” (At 2:23), “a mão e plano de Deus” (At 4:28), “o beneplácito de Deus” (Ef 1:9), e a eterna providência de Deus. Eles são chamados de “eterna providência” em distinção da atual providência que não é outra senão que a execução dos decretos de Deus.
II. Eles também são chamados de vontade de Deus, e o que Deus intenta fazer [voluntas beneplaciti]. Na realidade, o decreto é a própria vontade de Deus; mas, para o propósito de ensino a vontade é tratada como a causa eficiente, e o decreto como o efeito. Outra nomenclatura acerca da vontade pode ser adotada para vários propósitos e várias distinções são feitas pelos teólogos; a distinção entre o que Deus intenta fazer e o que ele nos quer fazer [voluntas beneplaciti et signi], entre vontades antecedente e consequente, absoluta e condicional, oculta e revelada. Estas não são divisões reais, ou partes da vontade divina de Deus, pois de fato, ela é propriamente chamada àquilo que Deus intenta fazer [voluntas beneplaciti] porque pela sua completa liberdade e beneplácito, ele decretou tudo que acontecerá. O mesmo é “antecedente” porque ele existiu antes das coisas criadas, e foi contado com Deus desde a eternidade. Ele é chamado “absoluto” porque se baseia unicamente na boa vontade de Deus e não de nada no tempo, e finalmente, ele é chamado de “oculto” porque nem anjos, ou homens entendem-no sem auxílio [a priori]. Mas como está numa cantiga popular “Ele comanda e ele proíbe, permite, divide e completa” possa ser vagamente chamado pela designação da vontade divina. Assim como os editos de um magistrado são chamados de sua vontade, do mesmo modo a designação da vontade pode ser dada aos preceitos, proibições, promessas e bem como aos fatos e eventos. Assim, a divina vontade também é chamada daquilo que Deus quer fazer [voluntas signi], pois ela significa o que é aceitável a Deus; o que ele quer fazer a nosso favor. O decreto é chamado de “consequente” porque ele segue aquela vontade que antecede a eternidade; ele é “condicional” porque os mandamentos, proibições ou desobediência estão ligados a ele. Finalmente, ele é chamado de “revelado” porque é o modo explicado na palavra de Deus. É necessário observarmos que este espécie de discussão não postula outra realidade diversa, ou contraditória, como se fossem vontades de Deus.
III. Ao lado da vontade de Deus não há causas que podem ser contrárias a sua vontade. De fato, muitas coisas podem ser contrárias àquilo que Deus quer [voluntas signi], no entanto, elas se conformam ao plano divino [voluntas beneplaciti]. Deus não criou o pecado do homem, pelo contrário, mais estritamente ele o proibiu. Contudo, ao mesmo tempo ele o decretou de acordo com a esta vontade [beneplaciti] como um meio de revelar a sua glória.
IV. Tanto o bem como mal, entretanto, resultam do decreto e vontade de Deus; primeiro ele causa, e depois ele permite.
V. Contudo, o decreto e vontade de Deus não têm o mesmo sentido como causa do mal ou do pecado, embora tudo o que Deus decreta assume a posição de necessidade. Desde os males que são decretados, não efetivamente, mas permissivamente, o decreto de Deus não é a causa do mal. Nem são os decretos de Deus a causa do mal sobre a explicação da inevitabilidade de seu resultado, ou mesmo que eles conduzam os resultados não por uma necessidade coerciva, mas meramente por algo imutável.
VI. A inevitabilidade [necessitas] dos decretos de Deus não destrói a liberdade nas criaturas racionais. A razão é que a necessidade não é uma necessidade da coerção, mas da imutabilidade. Que a queda de Adão aconteceu pela necessidade com respeito a um decreto divino; todavia, Adão pecou livremente, nem ordenado, nem coagido, ou influenciado por Deus; de fato, ele teve a mais estrita advertência para não pecar.
VII. A inevitabilidade dos decretos de Deus não destrói a contingência das causas secundárias. Muitos eventos que acontecem pela necessidade com respeito aos planos de Deus são contingentes com as causas secundárias.
VIII. Não existe uma causa ativa [causa impulsiva] além da absolutamente livre vontade e prazer de Deus capaz de determinar os decretos divinos.
IX. O propósito [finis] dos divinos decretos é a glória de Deus.
X. Um decreto de Deus é singular e simples em si mesmo; nele não existe algo que seja anterior ou posterior.
XI. Com respeito a todas as coisas decretadas, deve ser especificado que na ordem em que ocorrem, Deus diz ter decretado quais deveriam ocorrer.
Tais questões como se Deus primeiro decretou isto ou aquilo, ou se ele decretou primeiro e o fim, ou os meios, são tolice. Desde que um decreto de Deus é em si mesmo um ato absolutamente simples, não há nela nem antecedente ou posterior; apenas com respeito às coisas decretadas podem ser especificadas. Com este entendimento podemos dizer que Deus decretou (1) criar o homem, (2) dar-lhe a sua imagem, mas de um modo que pudesse se perder, (3) permitir a queda, (4) e deixar alguns dos caídos entregues a si mesmos, mas eleger outros e preservá-los para a vida eterna.
Traduzido de Johannes Wollebius, Compendium Theologicae Christianae in: John W. Beardslee III, Reformed Dogmatics: seventeenth-century Reformed Theology through the Writings of Wollebius, Voetius, and Turretin (Grand Rapids, Baker Books, 1977).
sábado, 14 de março de 2015
As Pessoas da Trindade
por Johannes Wollebius
(1)
As pessoas da divindade são subsistentes que possuem a completa essência de Deus, mas diferem pelas propriedades incomunicáveis.
PROPOSIÇÕES
I. A palavra “pessoa”, “Trindade”, e homoousion, não se encontram na Escritura, todavia, são consistentes com a Escritura, e são sabiamente usadas na igreja.
II. As palavras “hypostasis” e “hypostasized” são de significado amplo do que a palavra “pessoa” [persona]. Uma hypostasis é uma substância individual. Uma pessoa [persona] é uma substância pessoal racional completa, diferindo das outras por uma propriedade incomunicável. Mas o apóstolo (Hb 1:3) usou “hypostasis” para “pessoa” pela metalepsis.
III. Um pessoa da Trindade [persona divina] não é uma espécie de Deus, ou da Divindade ou parte dele, ou alguma coisa de Deus, ou modo, ou mero relacionamento, ou simplesmente um modo de existência, pelo contrário, a essência de Deus em um específico modo de existência.
IV. Uma pessoa da Trindade não é um composto de dois seres, nem é a essência de Deus e o modo de existência para ser considerado como duas entidades da mesma ordem [res et res], mas eles são realmente ou ser e o modo [modus] deste ser.
(2)
1. As pessoas da Divindade são três: Pai, Filho e Espírito Santo.
2. O Pai é a primeira pessoa da Trindade, auto-existente, gerando [gignens] o Filho desde a eternidade e com o Filho produzindo [producens] o Espírito Santo.
3. O Filho é a segunda pessoa, gerado pelo Pai desde a eternidade, e com o Pai produzindo o Espírito Santo.
4. O Espírito Santo é a terceira procedendo desde a eternidade do Pai e do Filho.
PROPOSIÇÕES
I. A Trindade não é um processo, mas um completo estado do ser [non numerus numerans, sed numeratus].
II. O dogma da Trindade não é meramente uma tradição da igreja, mas um ensino proclamado na Escritura Sagrada. Isto é mantido contra os papistas, que a fim de afirmar a imperfeição da Escritura não se envergonham de defender o contrário.
III. Embora a doutrina da Santíssima Trindade este obscura no tempo do Antigo Testamento, ela não estava completamente desconhecida. Em Gn 1:1 diz “No princípio Deus criou os céus e a terra”; e o vs. 2 “O Espírito de Deus estava pairando sobre a face das águas”; e o vs. 26 “Façamos o homem”. O Sl 33:6 diz “Pela a palavra de Jehovah os céus se fizeram, e todas as hostes pelo Espírito de sua boca.”[1] Em 2 Sm 23:2 “o Espírito de Jehovah falou através de mim, e a sua palavra pela minha língua.” Em Is 6:3 diz “santo, santo, santo é Jehovah dos Exércitos.” Em Is 63:9 “O anjo de sua presença (isto é, Deus o Pai) salvou lhes.” Em Is 63:10 diz “Eles se rebelaram e entristeceram o seu Santo Espírito.” Estas testemunhas são suficientes para a mente cristã, embora eles aludem a teimosia dos judeus.
IV. Entretanto, há textos mais explícitos no Novo Testamento. Em Mt 3:16 diz “E, os céus estavam abertos para ele, e ele viu o Espírito de Deus descendo sobre ele.” E em Mt 3:17 está “e vendo, havia uma voz do céu que dizia: ‘este é o meu filho amado, em quem tenho prazer.’” Em Mt 28:19, “batize-os em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo.” Em Jo 14:16 “eu orarei ao Pai, e ele dará um outro consolador.” Jo 15:26 “quando o confortador vier, ele é quem enviaria você do Pai. Em 2 Co 13:14 diz “A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vocês.” 1 Jo 5:8 diz “Há três pessoas que testificam no céu, o Pai, a Palavra e o Espírito Santo.”[2]
V. Para isto podem ser acrescentadas provas da divindade do Filho e do Espírito Santo a partir de seus nomes, seus atributos, suas obras e suas honras divinas. Assim, a deidade do Filho é provada por:
I. Os seus nomes divinos.
No Antigo Testamento o “Anjo da aliança” (Ml 3:1) que aparecia frequentemente aos pais como uma preparação para a encarnação, era o Filho de Deus, e é muitas vezes chamado de Jehovah e Deus (Gn 16:13, 18:1; 32:9, e também Os 12:4; Êx 3:15; Js 6:2; Zc 1:12 e 3:1-2).[3] No Novo Testamento o testemunho é muito mais simples. João 1:1 declara “a Palavra era Deus”. João 17:3 “esta é a vida eterna que eles conheçam a ti, o único verdadeiro Deus, e Jesus Cristo a quem tu enviaste.” João 20:31 “estes foram escritos, para que tu possa crer que Jesus é o Cristo, o filho de Deus.” Atos 20:28 “Deus redimiu a igreja com o seu próprio sangue.” Romanos 9:5 “Deus bendito para sempre.”[4] Tito 2:13 “aquele grande Deus.” Estas expressões são muito comuns em Apocalipse.
II. Os seus atributos divinos.
1. Eternidade. João 8:58 “antes de Abraão, eu sou.” Apocalipse 1:8 “eu sou o alfa e ômega, que é, e era, e ainda há de vir.”
2. Onisciência. João 2:24-25 “ele conhece todos os homens, e não necessita de que alguém lhe testemunho do que é o ser humano, pois ele conhece o que está no homem.”
3. Onipresença. Mateus 28:20 “eu estarei convosco até o fim dos tempos.”
4. Onipotência. João 5:19 “tudo o Pai faz, o Filho também faz.” Hebreus 1:3 “Ele sustenta todas as coisas pela sua palavra de poder.”
III. A sua divina obra. João 14:11 “crê que o Pai está em mim e, eu no Pai, ou também creia por causa da glória das mesmas obras.”
IV. Divina honra. As pessoas precisam crer nele (Jo 3:16). Em seu nome pessoas são batizadas (Mt 28:19). Em seu nome todo joelho se dobrará (Fp 2:10).
A deidade do Espírito Santo prova que:
I. O nome “Deus”. Atos 5:3-4 “Pedro lhe disse: ‘Ananias, porque Satanás encheu o seu coração, para que você mentisse ao Espírito Santo? Você não mentiu a homens, mas a Deus.”
II. Os seus atributos divinos.
1. Eternidade. Gênesis 1:2 “O Espírito de Deus se movia sobre a face das águas.”
2. Onipresença. Salmo 139:7 “para onde fugirei de teu Espírito?”
3. Onisciência. 1 Corintians 2:10 “o Espírito busca todas as coisas, em todos os caminhos de Deus.”
4. Onipotência. Isto é óbvio pelas suas obras.
III. As suas obras divina.
1. A criação de todas as coisas (Gn 1:2; Sl 33:6; Jó 26:13; 38:4).
2. A preservação de todas as coisas. Gênesis 1:2 “Ele pairava sobre as águas” de modo semelhante a uma ave sobre os seus filhotes e deles cuida.
3. O seu envio e unção de Cristo. Isaías 61:1 “o Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele ungiu-me.”
4. Os dons de línguas e milagres. 1 Corintians 12:4 “vários dons, mas o mesmo Espírito.”
IV. A sua divina honra.
V. As pessoas creem nele de acordo com o credo. As pessoas precisam ser batizadas em seu nome (Mt 28:19). Orações são feitas por ele (2 Co 13:14; Ap 1:4; onde são chamados sete espíritos, não com respeito ao número, mas referindo-se aos seus dons, quando a antiga igreja cantava “Tu com sete dons”).[5]
VI. As diferenças entre as pessoas aparecem na posição, atributos e na maneira de operar. Na posição, o Pai é primeiro, o Filho em segundo e o Espírito Santo em terceiro. Nos atributos, o Pai existe por si mesmo, não somente considera a sua essência, mas também com respeito a sua pessoa. O Filho existe por meio do Pai; o Espírito Santo, pelo Pai e do Filho. No modo de operar, o Pai sempre age por si mesmo, o Filho pelo Pai, e o Espírito Santo por ambos.
VII. A Trindade de pessoas não destrói a unidade da essência: há três pessoas, mas um Deus. Deuteronômio 6:4 “ouve Israel, Jehovah nosso Deus é o único Jehovah.” 1 Coríntians 8:6 “pois conhecemos um Deus, o Pai de quem são todas as coisas, e a quem somos, e o único Senhor Jesus Cristo, através de quem todas as coisas, e nós existimos.” Efésios 4:6 “um Deus e Pai de todos.” 1 Timóteo 2:5 “há um Deus e único mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo.” 1 João 5:7 “e estes três são um.”
VIII. Entretanto, a palavra “Deus” pode ser usada tanto para toda a Santa Trindade, ou para uma específica pessoa desta Trindade. Em Atos 20:18 “Deus redimiu a igreja pelo seu próprio sangue”, a palavra “Deus” precisa ser entendida como sendo uma referência ao Filho.
IX. A unidade das três pessoas da Santa Trindade consiste de identidade de essência, igualdade e relação entre elas [circumcessio].
X. Identidade, ou unicidade da essência [omousía seu enousía] significa que as três pessoas são coessenciais, ou da mesma essência. Eles não são de essência semelhante [omoioúsioi], nem de diferentes essências [anómoioi], nem de diversas essências [eterousioi], nem são eles de indivíduos diferentes da mesma espécie [tautousioi, isto é, eiusdem essentiae specificae].
XI. Por igualdade de pessoas entende-se que as três pessoas da divindade são iguais em essência, atributos, ações essenciais, glória e honra. O Filho e o Espírito Santo são em si mesmos auto-existentes e justos tanto quanto o Pai.
XII. Por circumcessio entende-se que as pessoas são mais intimamente unidas, todavia, cada uma sempre mantém relação umas com as outras.[6]
NOTA:
[1] As versões AV a RSV “breath of his mouth”; Vulgata traduz: spiritus oris eius. Nota de John W. Beardslee III.
[2] A autenticidade deste verso tem sido questionada. O escolasticismo “ortodoxo” defende-o por todo aquele século. Veja Francis Turrentin, Disputatio de Tribus Testibus Coelestibus (texto não traduzido). Nota de John W. Beardslee III.
[3] Transcrevo as citações das Escrituras conforme Wollebius as fez. O leitor muitas vezes terá que ler uma longa porção da Bíblia, de modo que, possa ver o completo sentido da referência. Em cada caso o contexto inclui um “anjo” que pode ser considerado como não criado. Este anjo é “o Filho de Deus” que claramente oferece uma específica e tradicional dedução cristã. Veja Francis Turrentin, Compêndio de Teologia Apologética, Terceiro Tópico, Questões IV e VII. [publicado pela Editora Cultura Cristã]. Nota de John W. Beardslee III.
[4] Wollebius claramente aceita o tradicional entendimento desta passagem, diferenciando como termina na RSV. Nota de John W. Beardslee III.
[5] Do cântigo Veni Creator Spiritus. Nota de John W. Beardslee III.
[6] Para um breve esclarecimento sobre circumcessio, ou, da relação das pessoas da Trindade veja AQUI. Nota de Ewerton B. Tokashiki.
Texto de John W. Beardslee III, Reformed Dogmatics: seventeenth-century Reformed Theology through the Writings of Wollebius, Voetius, and Turretin (Grand Rapids, Baker Books, 1977), pp. 40-45.
Traduzido 14 de Março de 2015.
Rev. Ewerton B. Tokashiki
Pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Porto Velho
Professor de Teologia Sistemática no SPBC-RO
(1)
As pessoas da divindade são subsistentes que possuem a completa essência de Deus, mas diferem pelas propriedades incomunicáveis.
PROPOSIÇÕES
I. A palavra “pessoa”, “Trindade”, e homoousion, não se encontram na Escritura, todavia, são consistentes com a Escritura, e são sabiamente usadas na igreja.
II. As palavras “hypostasis” e “hypostasized” são de significado amplo do que a palavra “pessoa” [persona]. Uma hypostasis é uma substância individual. Uma pessoa [persona] é uma substância pessoal racional completa, diferindo das outras por uma propriedade incomunicável. Mas o apóstolo (Hb 1:3) usou “hypostasis” para “pessoa” pela metalepsis.
III. Um pessoa da Trindade [persona divina] não é uma espécie de Deus, ou da Divindade ou parte dele, ou alguma coisa de Deus, ou modo, ou mero relacionamento, ou simplesmente um modo de existência, pelo contrário, a essência de Deus em um específico modo de existência.
IV. Uma pessoa da Trindade não é um composto de dois seres, nem é a essência de Deus e o modo de existência para ser considerado como duas entidades da mesma ordem [res et res], mas eles são realmente ou ser e o modo [modus] deste ser.
(2)
1. As pessoas da Divindade são três: Pai, Filho e Espírito Santo.
2. O Pai é a primeira pessoa da Trindade, auto-existente, gerando [gignens] o Filho desde a eternidade e com o Filho produzindo [producens] o Espírito Santo.
3. O Filho é a segunda pessoa, gerado pelo Pai desde a eternidade, e com o Pai produzindo o Espírito Santo.
4. O Espírito Santo é a terceira procedendo desde a eternidade do Pai e do Filho.
PROPOSIÇÕES
I. A Trindade não é um processo, mas um completo estado do ser [non numerus numerans, sed numeratus].
II. O dogma da Trindade não é meramente uma tradição da igreja, mas um ensino proclamado na Escritura Sagrada. Isto é mantido contra os papistas, que a fim de afirmar a imperfeição da Escritura não se envergonham de defender o contrário.
III. Embora a doutrina da Santíssima Trindade este obscura no tempo do Antigo Testamento, ela não estava completamente desconhecida. Em Gn 1:1 diz “No princípio Deus criou os céus e a terra”; e o vs. 2 “O Espírito de Deus estava pairando sobre a face das águas”; e o vs. 26 “Façamos o homem”. O Sl 33:6 diz “Pela a palavra de Jehovah os céus se fizeram, e todas as hostes pelo Espírito de sua boca.”[1] Em 2 Sm 23:2 “o Espírito de Jehovah falou através de mim, e a sua palavra pela minha língua.” Em Is 6:3 diz “santo, santo, santo é Jehovah dos Exércitos.” Em Is 63:9 “O anjo de sua presença (isto é, Deus o Pai) salvou lhes.” Em Is 63:10 diz “Eles se rebelaram e entristeceram o seu Santo Espírito.” Estas testemunhas são suficientes para a mente cristã, embora eles aludem a teimosia dos judeus.
IV. Entretanto, há textos mais explícitos no Novo Testamento. Em Mt 3:16 diz “E, os céus estavam abertos para ele, e ele viu o Espírito de Deus descendo sobre ele.” E em Mt 3:17 está “e vendo, havia uma voz do céu que dizia: ‘este é o meu filho amado, em quem tenho prazer.’” Em Mt 28:19, “batize-os em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo.” Em Jo 14:16 “eu orarei ao Pai, e ele dará um outro consolador.” Jo 15:26 “quando o confortador vier, ele é quem enviaria você do Pai. Em 2 Co 13:14 diz “A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vocês.” 1 Jo 5:8 diz “Há três pessoas que testificam no céu, o Pai, a Palavra e o Espírito Santo.”[2]
V. Para isto podem ser acrescentadas provas da divindade do Filho e do Espírito Santo a partir de seus nomes, seus atributos, suas obras e suas honras divinas. Assim, a deidade do Filho é provada por:
I. Os seus nomes divinos.
No Antigo Testamento o “Anjo da aliança” (Ml 3:1) que aparecia frequentemente aos pais como uma preparação para a encarnação, era o Filho de Deus, e é muitas vezes chamado de Jehovah e Deus (Gn 16:13, 18:1; 32:9, e também Os 12:4; Êx 3:15; Js 6:2; Zc 1:12 e 3:1-2).[3] No Novo Testamento o testemunho é muito mais simples. João 1:1 declara “a Palavra era Deus”. João 17:3 “esta é a vida eterna que eles conheçam a ti, o único verdadeiro Deus, e Jesus Cristo a quem tu enviaste.” João 20:31 “estes foram escritos, para que tu possa crer que Jesus é o Cristo, o filho de Deus.” Atos 20:28 “Deus redimiu a igreja com o seu próprio sangue.” Romanos 9:5 “Deus bendito para sempre.”[4] Tito 2:13 “aquele grande Deus.” Estas expressões são muito comuns em Apocalipse.
II. Os seus atributos divinos.
1. Eternidade. João 8:58 “antes de Abraão, eu sou.” Apocalipse 1:8 “eu sou o alfa e ômega, que é, e era, e ainda há de vir.”
2. Onisciência. João 2:24-25 “ele conhece todos os homens, e não necessita de que alguém lhe testemunho do que é o ser humano, pois ele conhece o que está no homem.”
3. Onipresença. Mateus 28:20 “eu estarei convosco até o fim dos tempos.”
4. Onipotência. João 5:19 “tudo o Pai faz, o Filho também faz.” Hebreus 1:3 “Ele sustenta todas as coisas pela sua palavra de poder.”
III. A sua divina obra. João 14:11 “crê que o Pai está em mim e, eu no Pai, ou também creia por causa da glória das mesmas obras.”
IV. Divina honra. As pessoas precisam crer nele (Jo 3:16). Em seu nome pessoas são batizadas (Mt 28:19). Em seu nome todo joelho se dobrará (Fp 2:10).
A deidade do Espírito Santo prova que:
I. O nome “Deus”. Atos 5:3-4 “Pedro lhe disse: ‘Ananias, porque Satanás encheu o seu coração, para que você mentisse ao Espírito Santo? Você não mentiu a homens, mas a Deus.”
II. Os seus atributos divinos.
1. Eternidade. Gênesis 1:2 “O Espírito de Deus se movia sobre a face das águas.”
2. Onipresença. Salmo 139:7 “para onde fugirei de teu Espírito?”
3. Onisciência. 1 Corintians 2:10 “o Espírito busca todas as coisas, em todos os caminhos de Deus.”
4. Onipotência. Isto é óbvio pelas suas obras.
III. As suas obras divina.
1. A criação de todas as coisas (Gn 1:2; Sl 33:6; Jó 26:13; 38:4).
2. A preservação de todas as coisas. Gênesis 1:2 “Ele pairava sobre as águas” de modo semelhante a uma ave sobre os seus filhotes e deles cuida.
3. O seu envio e unção de Cristo. Isaías 61:1 “o Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele ungiu-me.”
4. Os dons de línguas e milagres. 1 Corintians 12:4 “vários dons, mas o mesmo Espírito.”
IV. A sua divina honra.
V. As pessoas creem nele de acordo com o credo. As pessoas precisam ser batizadas em seu nome (Mt 28:19). Orações são feitas por ele (2 Co 13:14; Ap 1:4; onde são chamados sete espíritos, não com respeito ao número, mas referindo-se aos seus dons, quando a antiga igreja cantava “Tu com sete dons”).[5]
VI. As diferenças entre as pessoas aparecem na posição, atributos e na maneira de operar. Na posição, o Pai é primeiro, o Filho em segundo e o Espírito Santo em terceiro. Nos atributos, o Pai existe por si mesmo, não somente considera a sua essência, mas também com respeito a sua pessoa. O Filho existe por meio do Pai; o Espírito Santo, pelo Pai e do Filho. No modo de operar, o Pai sempre age por si mesmo, o Filho pelo Pai, e o Espírito Santo por ambos.
VII. A Trindade de pessoas não destrói a unidade da essência: há três pessoas, mas um Deus. Deuteronômio 6:4 “ouve Israel, Jehovah nosso Deus é o único Jehovah.” 1 Coríntians 8:6 “pois conhecemos um Deus, o Pai de quem são todas as coisas, e a quem somos, e o único Senhor Jesus Cristo, através de quem todas as coisas, e nós existimos.” Efésios 4:6 “um Deus e Pai de todos.” 1 Timóteo 2:5 “há um Deus e único mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo.” 1 João 5:7 “e estes três são um.”
VIII. Entretanto, a palavra “Deus” pode ser usada tanto para toda a Santa Trindade, ou para uma específica pessoa desta Trindade. Em Atos 20:18 “Deus redimiu a igreja pelo seu próprio sangue”, a palavra “Deus” precisa ser entendida como sendo uma referência ao Filho.
IX. A unidade das três pessoas da Santa Trindade consiste de identidade de essência, igualdade e relação entre elas [circumcessio].
X. Identidade, ou unicidade da essência [omousía seu enousía] significa que as três pessoas são coessenciais, ou da mesma essência. Eles não são de essência semelhante [omoioúsioi], nem de diferentes essências [anómoioi], nem de diversas essências [eterousioi], nem são eles de indivíduos diferentes da mesma espécie [tautousioi, isto é, eiusdem essentiae specificae].
XI. Por igualdade de pessoas entende-se que as três pessoas da divindade são iguais em essência, atributos, ações essenciais, glória e honra. O Filho e o Espírito Santo são em si mesmos auto-existentes e justos tanto quanto o Pai.
XII. Por circumcessio entende-se que as pessoas são mais intimamente unidas, todavia, cada uma sempre mantém relação umas com as outras.[6]
NOTA:
[1] As versões AV a RSV “breath of his mouth”; Vulgata traduz: spiritus oris eius. Nota de John W. Beardslee III.
[2] A autenticidade deste verso tem sido questionada. O escolasticismo “ortodoxo” defende-o por todo aquele século. Veja Francis Turrentin, Disputatio de Tribus Testibus Coelestibus (texto não traduzido). Nota de John W. Beardslee III.
[3] Transcrevo as citações das Escrituras conforme Wollebius as fez. O leitor muitas vezes terá que ler uma longa porção da Bíblia, de modo que, possa ver o completo sentido da referência. Em cada caso o contexto inclui um “anjo” que pode ser considerado como não criado. Este anjo é “o Filho de Deus” que claramente oferece uma específica e tradicional dedução cristã. Veja Francis Turrentin, Compêndio de Teologia Apologética, Terceiro Tópico, Questões IV e VII. [publicado pela Editora Cultura Cristã]. Nota de John W. Beardslee III.
[4] Wollebius claramente aceita o tradicional entendimento desta passagem, diferenciando como termina na RSV. Nota de John W. Beardslee III.
[5] Do cântigo Veni Creator Spiritus. Nota de John W. Beardslee III.
[6] Para um breve esclarecimento sobre circumcessio, ou, da relação das pessoas da Trindade veja AQUI. Nota de Ewerton B. Tokashiki.
Texto de John W. Beardslee III, Reformed Dogmatics: seventeenth-century Reformed Theology through the Writings of Wollebius, Voetius, and Turretin (Grand Rapids, Baker Books, 1977), pp. 40-45.
Traduzido 14 de Março de 2015.
Rev. Ewerton B. Tokashiki
Pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Porto Velho
Professor de Teologia Sistemática no SPBC-RO
quarta-feira, 7 de janeiro de 2015
A essência de Deus - Johannes Wollebius
(1)
1. Deus é um espírito, auto-existente desde a eternidade; um em essência, três em pessoa, o Pai, o
Filho e o Espírito Santo.
2. Deus é conhecido em si e em suas obras.
3. Ele é conhecido em si absolutamente em sua essência, e relativamente nas pessoas.
4. A essência de Deus pode ser entendida tanto de seus nomes como de suas propriedades.[1]
5. Os nomes de Deus são baseados em seu ser (Jehovah, Jah, YHWH),[2] que correspondem com a palavra “Senhor” no Novo Testamento [kuriós], ou o seu poder (El e Elohim), ou a sua autoridade auto-suficiente (Shaddai), ou a sua grandiosidade (Elyon).
PROPOSIÇÕES
I. “Jehovah” é o principal e mais importante nome de Deus. Ela procede de uma raiz que significa “ele foi” [fuit], e assim, ele é um símbolo do mais alto de si, de quem foi, e é, e será desde a eternidade a toda eternidade (Ap 1:4-6), e que permanece o mesmo para sempre (Sl 102:27), e ele não pode dar a algum objeto criado, exceto por metonímia, e deste modo eles são símbolos da presença de Deus, tais como o altar (Êx 17:15), a arca (Sl 47:6) e Jerusalém (Ez 48:35).
II. Sendo este nome o que mais foi enfaticamente usado nas promessas e garantias divinas. Entretanto, temos expressões como “assim diz Jehovah”, “a palavra de Jehovah”, etc. Como Deus permanece como ele é, a sua palavra permanece confiável.
III. O nome “Elohim”, apesar de ser plural, é um predicado de Deus não somente pessoal, mas também essencial, e no idioma hebraico ele é um predicado de um Deus e de pessoas individuais ao mesmo tempo. Assim, não existe três “elohims”, ou deuses, mas somente um.
Deste modo, o Credo Atanasiano corretamente declara “o Pai onipotente, o Filho onipotente, e o Espírito Santo onipotente, todavia, não são três onipotentes, mas apenas um”; e embora Deus seja chamado de Elohim por um plural majestático, ele não é três, mas somente um, como em Sl 7:11 Elohim Zaddiq, ou seja “um justo Deus”.
(2)
I. As propriedades divinas são os atributos de Deus, pelos quais ele nos oferece o seu conhecimento, de quão fracos somos e, por meio dos quais ele se distingue das criaturas.
II. As propriedades não são qualidades, ou acidentes em Deus, ou alguma coisa separada de sua essência, ou diferente dela. Isto se tornará evidente abaixo quando tratar da simplicidade de Deus.
III. As propriedades divinas não estão separadas de sua essência, ou uma da outra. Isto destrói a doutrina luterana da transfusão das propriedades divinas na natureza divina de Cristo. Se aquela natureza é para ter a ubiquidade, onisciência e onipotência atribuídas nela, por que também seria o seria a eternidade?[3]
IV. Algumas propriedades não são comunicáveis às criaturas: outras são comunicáveis com efeitos analógicos.
(3)
1. Os atributos da primeira espécie são simplicidade e infinidade. A imutabilidade e perfeição podem ser acrescentadas, mas elas são meros corolários necessários para a simplicidade e infinidade.
2a. Por simplicidade é entendida que Deus é um ser livre de toda composição [de partes].
2b. Por infinidade é entendida que Deus é um verdadeiro ser infinito, bom e cada aspecto e sem fim.
PROPOSIÇÕES
I. Deus é um ser verdadeiro e de simplicidade única. Isto significa que ele não é composto de partes, ou de genus e espécies [differentia], ou de substância e acidentes, ou de potencialidade e atos, ou de ser e essência.
II. Todavia, não há nada em Deus que não seja o próprio Deus.
III. A essência de Deus é incompreensível para nós. A diferença entre o finito e o infinito é de ordem completamente diferente daquela entre um pequeno prato e o oceano.
IV. Deus é abrange todos os pontos de vista: o todo em si, a inteireza de todas as coisas, o tudo de cada coisa particular, e tudo além de cada detalhe.
V. Deus nunca é contido num lugar, nem pode ser limitado a um lugar, nem incluído nele, ou excluído dele, ou de qualquer lugar.
VI. Deus é eterno, sem começo, fim, ou mudança.
3. As propriedades da segunda espécie são vida, que é atribuída à Deus em essência, vontade, atribuída a ele em comando, poder atribuído a ele em ação.
PROPOSIÇÕES
I. As propriedades da segunda ordem são atribuídas a Deus do mesmo modo como as da primeira; que cada uma deve ser entendida como absolutamente simples e infinita.
II. No entanto, eles são predicados de Deus e não apenas de modo concreto, mas também abstratamente. Deus não é somente chamado de vivo, sábio, bom e justo, mas também de vida, sabedoria, bondade e justiça.
III. Deste modo, a vida de Deus é absolutamente simples e infinita; no entanto:
1. Para Deus a vida e viver é a mesma coisa.
2. Não há causa externa desta vida, mas ele é a causa da vida de todas as criaturas vivas, de modo que, pela comparação com ele, eles têm uma vida mutável e emprestada.
3. A imutável vida de Deus é absolutamente perfeita e absolutamente abençoada.
IV. O intelecto de Deus é absolutamente simples e infinito, então:
1. Ele conhece a si mesmo primariamente como um objeto infinito.
2. Ele conhece todas as coisas mais intimamente, embora elas estejam escondidas da criatura.
3. Ele conhece todas as coisas por si mesmo.
4. Ele conhece absolutamente tudo por um simples ato; ele não necessita de revelação, nem raciocínio, seja intuitivo ou dedutivo.
5. O passado e o futuro são igualmente conhecidos por ele como é o presente.
6. O conhecimento de Deus é infinito.
7. O conhecimento de Deus é totalmente livre da ignorância e do esquecimento.
V. Por ser a vontade de Deus absolutamente simples, então:
1. Não há em Deus duas vontades, ou muitas vontades, ou volições contraditórias. Há várias distinções na vontade, as quais estão apresentadas abaixo acerca dos decretos divinos, mas elas são matéria do nome, antes do que da realidade [res].
2. O objeto primário da vontade é o próprio Deus.
3. A vontade de Deus é completamente livre.
4. Nada poderia existir se Deus não quisesse ou se opusesse.
5. A vontade de Deus para um objeto específico tem um ou outro nome, tal como santidade, bondade, amor, graça, misericórdia, ira, justiça e assim por diante.
VI. Por ser o poder de Deus absolutamente simples e infinito, então:
1. O poder de Deus está numa classe única [unicus].
2. Deus é onipotente e pode não somente fazer o que ele quiser, mas muito mais do que ele quer.
3. O ato ou ser de alguma coisa não precisa ser inferido do poder de Deus, a menos que seja acompanhada com poder.
4. O objeto da onipotência de Deus é algo que não pode ser contrário à sua natureza e não envolve contradição, e deste modo, e por isso é “não-impotência” ao invés da “possibilidade de tudo”. Todavia, mentir, fazendo desfazer o que está feito,[4] criar um corpo humano infinito, ou algo semelhante, não são coisas que devem ser atribuídas a Deus, pois eles poderiam ser atos de impotência antes do que de poder.
5. O poder de Deus é completamente irresistível.
NOTAS:
[1] Wollebius assume que Nomen est natura – que Deus revelou verdade em seus nomes aos usá-los para si. Nota de John W. Beardslee III.
[2] Apenas conjectura. O texto de Wollebius trás: IEHOV, IAH, EHEIE. Veja o texto hebraico de Êx 3:14. Nota de John W. Beardslee III.
[3] Uma parte da inacabada argumentação entre teólogos luteranos e reformados acerca da pessoa de Cristo, o resultado da base original da separação entre Lutero e Zwingli – a Eucaristia. Por volta da metade do século XVII, os teólogos reformados iniciavam a ênfase não meramente do “erro luterano”, mas que aquele erro era uma rejeição dos “fundamentos” e deste modo, não conduziria a comunhão da igreja. Veja o ensaio em francês de Francis Turretin sobre a Harmonia Reformado-Luterana, publicada por Jean-Alphonse Turrentin em Nubes Testium. Nota de John W. Beardslee III.
[4] O texto inglês está: “making undone what has been done”. Nota de Ewerton B. Tokashiki.
Texto de John W. Beardslee III, Reformed Dogmatics: seventeenth-century Reformed Theology through the Writings of Wollebius, Voetius, and Turretin (Grand Rapids, Baker Books, 1977), pp. 37-40.
Traduzido em 6 de Janeiro de 2015.
Rev. Ewerton B. Tokashiki
Pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Porto Velho
Professor de Teologia Sistemática no SPBC-RO
1. Deus é um espírito, auto-existente desde a eternidade; um em essência, três em pessoa, o Pai, o
Filho e o Espírito Santo.
2. Deus é conhecido em si e em suas obras.
3. Ele é conhecido em si absolutamente em sua essência, e relativamente nas pessoas.
4. A essência de Deus pode ser entendida tanto de seus nomes como de suas propriedades.[1]
5. Os nomes de Deus são baseados em seu ser (Jehovah, Jah, YHWH),[2] que correspondem com a palavra “Senhor” no Novo Testamento [kuriós], ou o seu poder (El e Elohim), ou a sua autoridade auto-suficiente (Shaddai), ou a sua grandiosidade (Elyon).
PROPOSIÇÕES
I. “Jehovah” é o principal e mais importante nome de Deus. Ela procede de uma raiz que significa “ele foi” [fuit], e assim, ele é um símbolo do mais alto de si, de quem foi, e é, e será desde a eternidade a toda eternidade (Ap 1:4-6), e que permanece o mesmo para sempre (Sl 102:27), e ele não pode dar a algum objeto criado, exceto por metonímia, e deste modo eles são símbolos da presença de Deus, tais como o altar (Êx 17:15), a arca (Sl 47:6) e Jerusalém (Ez 48:35).
II. Sendo este nome o que mais foi enfaticamente usado nas promessas e garantias divinas. Entretanto, temos expressões como “assim diz Jehovah”, “a palavra de Jehovah”, etc. Como Deus permanece como ele é, a sua palavra permanece confiável.
III. O nome “Elohim”, apesar de ser plural, é um predicado de Deus não somente pessoal, mas também essencial, e no idioma hebraico ele é um predicado de um Deus e de pessoas individuais ao mesmo tempo. Assim, não existe três “elohims”, ou deuses, mas somente um.
Deste modo, o Credo Atanasiano corretamente declara “o Pai onipotente, o Filho onipotente, e o Espírito Santo onipotente, todavia, não são três onipotentes, mas apenas um”; e embora Deus seja chamado de Elohim por um plural majestático, ele não é três, mas somente um, como em Sl 7:11 Elohim Zaddiq, ou seja “um justo Deus”.
(2)
I. As propriedades divinas são os atributos de Deus, pelos quais ele nos oferece o seu conhecimento, de quão fracos somos e, por meio dos quais ele se distingue das criaturas.
II. As propriedades não são qualidades, ou acidentes em Deus, ou alguma coisa separada de sua essência, ou diferente dela. Isto se tornará evidente abaixo quando tratar da simplicidade de Deus.
III. As propriedades divinas não estão separadas de sua essência, ou uma da outra. Isto destrói a doutrina luterana da transfusão das propriedades divinas na natureza divina de Cristo. Se aquela natureza é para ter a ubiquidade, onisciência e onipotência atribuídas nela, por que também seria o seria a eternidade?[3]
IV. Algumas propriedades não são comunicáveis às criaturas: outras são comunicáveis com efeitos analógicos.
(3)
1. Os atributos da primeira espécie são simplicidade e infinidade. A imutabilidade e perfeição podem ser acrescentadas, mas elas são meros corolários necessários para a simplicidade e infinidade.
2a. Por simplicidade é entendida que Deus é um ser livre de toda composição [de partes].
2b. Por infinidade é entendida que Deus é um verdadeiro ser infinito, bom e cada aspecto e sem fim.
PROPOSIÇÕES
I. Deus é um ser verdadeiro e de simplicidade única. Isto significa que ele não é composto de partes, ou de genus e espécies [differentia], ou de substância e acidentes, ou de potencialidade e atos, ou de ser e essência.
II. Todavia, não há nada em Deus que não seja o próprio Deus.
III. A essência de Deus é incompreensível para nós. A diferença entre o finito e o infinito é de ordem completamente diferente daquela entre um pequeno prato e o oceano.
IV. Deus é abrange todos os pontos de vista: o todo em si, a inteireza de todas as coisas, o tudo de cada coisa particular, e tudo além de cada detalhe.
V. Deus nunca é contido num lugar, nem pode ser limitado a um lugar, nem incluído nele, ou excluído dele, ou de qualquer lugar.
VI. Deus é eterno, sem começo, fim, ou mudança.
3. As propriedades da segunda espécie são vida, que é atribuída à Deus em essência, vontade, atribuída a ele em comando, poder atribuído a ele em ação.
PROPOSIÇÕES
I. As propriedades da segunda ordem são atribuídas a Deus do mesmo modo como as da primeira; que cada uma deve ser entendida como absolutamente simples e infinita.
II. No entanto, eles são predicados de Deus e não apenas de modo concreto, mas também abstratamente. Deus não é somente chamado de vivo, sábio, bom e justo, mas também de vida, sabedoria, bondade e justiça.
III. Deste modo, a vida de Deus é absolutamente simples e infinita; no entanto:
1. Para Deus a vida e viver é a mesma coisa.
2. Não há causa externa desta vida, mas ele é a causa da vida de todas as criaturas vivas, de modo que, pela comparação com ele, eles têm uma vida mutável e emprestada.
3. A imutável vida de Deus é absolutamente perfeita e absolutamente abençoada.
IV. O intelecto de Deus é absolutamente simples e infinito, então:
1. Ele conhece a si mesmo primariamente como um objeto infinito.
2. Ele conhece todas as coisas mais intimamente, embora elas estejam escondidas da criatura.
3. Ele conhece todas as coisas por si mesmo.
4. Ele conhece absolutamente tudo por um simples ato; ele não necessita de revelação, nem raciocínio, seja intuitivo ou dedutivo.
5. O passado e o futuro são igualmente conhecidos por ele como é o presente.
6. O conhecimento de Deus é infinito.
7. O conhecimento de Deus é totalmente livre da ignorância e do esquecimento.
V. Por ser a vontade de Deus absolutamente simples, então:
1. Não há em Deus duas vontades, ou muitas vontades, ou volições contraditórias. Há várias distinções na vontade, as quais estão apresentadas abaixo acerca dos decretos divinos, mas elas são matéria do nome, antes do que da realidade [res].
2. O objeto primário da vontade é o próprio Deus.
3. A vontade de Deus é completamente livre.
4. Nada poderia existir se Deus não quisesse ou se opusesse.
5. A vontade de Deus para um objeto específico tem um ou outro nome, tal como santidade, bondade, amor, graça, misericórdia, ira, justiça e assim por diante.
VI. Por ser o poder de Deus absolutamente simples e infinito, então:
1. O poder de Deus está numa classe única [unicus].
2. Deus é onipotente e pode não somente fazer o que ele quiser, mas muito mais do que ele quer.
3. O ato ou ser de alguma coisa não precisa ser inferido do poder de Deus, a menos que seja acompanhada com poder.
4. O objeto da onipotência de Deus é algo que não pode ser contrário à sua natureza e não envolve contradição, e deste modo, e por isso é “não-impotência” ao invés da “possibilidade de tudo”. Todavia, mentir, fazendo desfazer o que está feito,[4] criar um corpo humano infinito, ou algo semelhante, não são coisas que devem ser atribuídas a Deus, pois eles poderiam ser atos de impotência antes do que de poder.
5. O poder de Deus é completamente irresistível.
NOTAS:
[1] Wollebius assume que Nomen est natura – que Deus revelou verdade em seus nomes aos usá-los para si. Nota de John W. Beardslee III.
[2] Apenas conjectura. O texto de Wollebius trás: IEHOV, IAH, EHEIE. Veja o texto hebraico de Êx 3:14. Nota de John W. Beardslee III.
[3] Uma parte da inacabada argumentação entre teólogos luteranos e reformados acerca da pessoa de Cristo, o resultado da base original da separação entre Lutero e Zwingli – a Eucaristia. Por volta da metade do século XVII, os teólogos reformados iniciavam a ênfase não meramente do “erro luterano”, mas que aquele erro era uma rejeição dos “fundamentos” e deste modo, não conduziria a comunhão da igreja. Veja o ensaio em francês de Francis Turretin sobre a Harmonia Reformado-Luterana, publicada por Jean-Alphonse Turrentin em Nubes Testium. Nota de John W. Beardslee III.
[4] O texto inglês está: “making undone what has been done”. Nota de Ewerton B. Tokashiki.
Texto de John W. Beardslee III, Reformed Dogmatics: seventeenth-century Reformed Theology through the Writings of Wollebius, Voetius, and Turretin (Grand Rapids, Baker Books, 1977), pp. 37-40.
Traduzido em 6 de Janeiro de 2015.
Rev. Ewerton B. Tokashiki
Pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Porto Velho
Professor de Teologia Sistemática no SPBC-RO
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