por Johannes Wollebius
(1)
As pessoas da divindade são subsistentes que possuem a completa essência de Deus, mas diferem pelas propriedades incomunicáveis.
PROPOSIÇÕES
I. A palavra “pessoa”, “Trindade”, e homoousion, não se encontram na Escritura, todavia, são consistentes com a Escritura, e são sabiamente usadas na igreja.
II. As palavras “hypostasis” e “hypostasized” são de significado amplo do que a palavra “pessoa” [persona]. Uma hypostasis é uma substância individual. Uma pessoa [persona] é uma substância pessoal racional completa, diferindo das outras por uma propriedade incomunicável. Mas o apóstolo (Hb 1:3) usou “hypostasis” para “pessoa” pela metalepsis.
III. Um pessoa da Trindade [persona divina] não é uma espécie de Deus, ou da Divindade ou parte dele, ou alguma coisa de Deus, ou modo, ou mero relacionamento, ou simplesmente um modo de existência, pelo contrário, a essência de Deus em um específico modo de existência.
IV. Uma pessoa da Trindade não é um composto de dois seres, nem é a essência de Deus e o modo de existência para ser considerado como duas entidades da mesma ordem [res et res], mas eles são realmente ou ser e o modo [modus] deste ser.
(2)
1. As pessoas da Divindade são três: Pai, Filho e Espírito Santo.
2. O Pai é a primeira pessoa da Trindade, auto-existente, gerando [gignens] o Filho desde a eternidade e com o Filho produzindo [producens] o Espírito Santo.
3. O Filho é a segunda pessoa, gerado pelo Pai desde a eternidade, e com o Pai produzindo o Espírito Santo.
4. O Espírito Santo é a terceira procedendo desde a eternidade do Pai e do Filho.
PROPOSIÇÕES
I. A Trindade não é um processo, mas um completo estado do ser [non numerus numerans, sed numeratus].
II. O dogma da Trindade não é meramente uma tradição da igreja, mas um ensino proclamado na Escritura Sagrada. Isto é mantido contra os papistas, que a fim de afirmar a imperfeição da Escritura não se envergonham de defender o contrário.
III. Embora a doutrina da Santíssima Trindade este obscura no tempo do Antigo Testamento, ela não estava completamente desconhecida. Em Gn 1:1 diz “No princípio Deus criou os céus e a terra”; e o vs. 2 “O Espírito de Deus estava pairando sobre a face das águas”; e o vs. 26 “Façamos o homem”. O Sl 33:6 diz “Pela a palavra de Jehovah os céus se fizeram, e todas as hostes pelo Espírito de sua boca.”[1] Em 2 Sm 23:2 “o Espírito de Jehovah falou através de mim, e a sua palavra pela minha língua.” Em Is 6:3 diz “santo, santo, santo é Jehovah dos Exércitos.” Em Is 63:9 “O anjo de sua presença (isto é, Deus o Pai) salvou lhes.” Em Is 63:10 diz “Eles se rebelaram e entristeceram o seu Santo Espírito.” Estas testemunhas são suficientes para a mente cristã, embora eles aludem a teimosia dos judeus.
IV. Entretanto, há textos mais explícitos no Novo Testamento. Em Mt 3:16 diz “E, os céus estavam abertos para ele, e ele viu o Espírito de Deus descendo sobre ele.” E em Mt 3:17 está “e vendo, havia uma voz do céu que dizia: ‘este é o meu filho amado, em quem tenho prazer.’” Em Mt 28:19, “batize-os em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo.” Em Jo 14:16 “eu orarei ao Pai, e ele dará um outro consolador.” Jo 15:26 “quando o confortador vier, ele é quem enviaria você do Pai. Em 2 Co 13:14 diz “A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vocês.” 1 Jo 5:8 diz “Há três pessoas que testificam no céu, o Pai, a Palavra e o Espírito Santo.”[2]
V. Para isto podem ser acrescentadas provas da divindade do Filho e do Espírito Santo a partir de seus nomes, seus atributos, suas obras e suas honras divinas. Assim, a deidade do Filho é provada por:
I. Os seus nomes divinos.
No Antigo Testamento o “Anjo da aliança” (Ml 3:1) que aparecia frequentemente aos pais como uma preparação para a encarnação, era o Filho de Deus, e é muitas vezes chamado de Jehovah e Deus (Gn 16:13, 18:1; 32:9, e também Os 12:4; Êx 3:15; Js 6:2; Zc 1:12 e 3:1-2).[3] No Novo Testamento o testemunho é muito mais simples. João 1:1 declara “a Palavra era Deus”. João 17:3 “esta é a vida eterna que eles conheçam a ti, o único verdadeiro Deus, e Jesus Cristo a quem tu enviaste.” João 20:31 “estes foram escritos, para que tu possa crer que Jesus é o Cristo, o filho de Deus.” Atos 20:28 “Deus redimiu a igreja com o seu próprio sangue.” Romanos 9:5 “Deus bendito para sempre.”[4] Tito 2:13 “aquele grande Deus.” Estas expressões são muito comuns em Apocalipse.
II. Os seus atributos divinos.
1. Eternidade. João 8:58 “antes de Abraão, eu sou.” Apocalipse 1:8 “eu sou o alfa e ômega, que é, e era, e ainda há de vir.”
2. Onisciência. João 2:24-25 “ele conhece todos os homens, e não necessita de que alguém lhe testemunho do que é o ser humano, pois ele conhece o que está no homem.”
3. Onipresença. Mateus 28:20 “eu estarei convosco até o fim dos tempos.”
4. Onipotência. João 5:19 “tudo o Pai faz, o Filho também faz.” Hebreus 1:3 “Ele sustenta todas as coisas pela sua palavra de poder.”
III. A sua divina obra. João 14:11 “crê que o Pai está em mim e, eu no Pai, ou também creia por causa da glória das mesmas obras.”
IV. Divina honra. As pessoas precisam crer nele (Jo 3:16). Em seu nome pessoas são batizadas (Mt 28:19). Em seu nome todo joelho se dobrará (Fp 2:10).
A deidade do Espírito Santo prova que:
I. O nome “Deus”. Atos 5:3-4 “Pedro lhe disse: ‘Ananias, porque Satanás encheu o seu coração, para que você mentisse ao Espírito Santo? Você não mentiu a homens, mas a Deus.”
II. Os seus atributos divinos.
1. Eternidade. Gênesis 1:2 “O Espírito de Deus se movia sobre a face das águas.”
2. Onipresença. Salmo 139:7 “para onde fugirei de teu Espírito?”
3. Onisciência. 1 Corintians 2:10 “o Espírito busca todas as coisas, em todos os caminhos de Deus.”
4. Onipotência. Isto é óbvio pelas suas obras.
III. As suas obras divina.
1. A criação de todas as coisas (Gn 1:2; Sl 33:6; Jó 26:13; 38:4).
2. A preservação de todas as coisas. Gênesis 1:2 “Ele pairava sobre as águas” de modo semelhante a uma ave sobre os seus filhotes e deles cuida.
3. O seu envio e unção de Cristo. Isaías 61:1 “o Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele ungiu-me.”
4. Os dons de línguas e milagres. 1 Corintians 12:4 “vários dons, mas o mesmo Espírito.”
IV. A sua divina honra.
V. As pessoas creem nele de acordo com o credo. As pessoas precisam ser batizadas em seu nome (Mt 28:19). Orações são feitas por ele (2 Co 13:14; Ap 1:4; onde são chamados sete espíritos, não com respeito ao número, mas referindo-se aos seus dons, quando a antiga igreja cantava “Tu com sete dons”).[5]
VI. As diferenças entre as pessoas aparecem na posição, atributos e na maneira de operar. Na posição, o Pai é primeiro, o Filho em segundo e o Espírito Santo em terceiro. Nos atributos, o Pai existe por si mesmo, não somente considera a sua essência, mas também com respeito a sua pessoa. O Filho existe por meio do Pai; o Espírito Santo, pelo Pai e do Filho. No modo de operar, o Pai sempre age por si mesmo, o Filho pelo Pai, e o Espírito Santo por ambos.
VII. A Trindade de pessoas não destrói a unidade da essência: há três pessoas, mas um Deus. Deuteronômio 6:4 “ouve Israel, Jehovah nosso Deus é o único Jehovah.” 1 Coríntians 8:6 “pois conhecemos um Deus, o Pai de quem são todas as coisas, e a quem somos, e o único Senhor Jesus Cristo, através de quem todas as coisas, e nós existimos.” Efésios 4:6 “um Deus e Pai de todos.” 1 Timóteo 2:5 “há um Deus e único mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo.” 1 João 5:7 “e estes três são um.”
VIII. Entretanto, a palavra “Deus” pode ser usada tanto para toda a Santa Trindade, ou para uma específica pessoa desta Trindade. Em Atos 20:18 “Deus redimiu a igreja pelo seu próprio sangue”, a palavra “Deus” precisa ser entendida como sendo uma referência ao Filho.
IX. A unidade das três pessoas da Santa Trindade consiste de identidade de essência, igualdade e relação entre elas [circumcessio].
X. Identidade, ou unicidade da essência [omousía seu enousía] significa que as três pessoas são coessenciais, ou da mesma essência. Eles não são de essência semelhante [omoioúsioi], nem de diferentes essências [anómoioi], nem de diversas essências [eterousioi], nem são eles de indivíduos diferentes da mesma espécie [tautousioi, isto é, eiusdem essentiae specificae].
XI. Por igualdade de pessoas entende-se que as três pessoas da divindade são iguais em essência, atributos, ações essenciais, glória e honra. O Filho e o Espírito Santo são em si mesmos auto-existentes e justos tanto quanto o Pai.
XII. Por circumcessio entende-se que as pessoas são mais intimamente unidas, todavia, cada uma sempre mantém relação umas com as outras.[6]
NOTA:
[1] As versões AV a RSV “breath of his mouth”; Vulgata traduz: spiritus oris eius. Nota de John W. Beardslee III.
[2] A autenticidade deste verso tem sido questionada. O escolasticismo “ortodoxo” defende-o por todo aquele século. Veja Francis Turrentin, Disputatio de Tribus Testibus Coelestibus (texto não traduzido). Nota de John W. Beardslee III.
[3] Transcrevo as citações das Escrituras conforme Wollebius as fez. O leitor muitas vezes terá que ler uma longa porção da Bíblia, de modo que, possa ver o completo sentido da referência. Em cada caso o contexto inclui um “anjo” que pode ser considerado como não criado. Este anjo é “o Filho de Deus” que claramente oferece uma específica e tradicional dedução cristã. Veja Francis Turrentin, Compêndio de Teologia Apologética, Terceiro Tópico, Questões IV e VII. [publicado pela Editora Cultura Cristã]. Nota de John W. Beardslee III.
[4] Wollebius claramente aceita o tradicional entendimento desta passagem, diferenciando como termina na RSV. Nota de John W. Beardslee III.
[5] Do cântigo Veni Creator Spiritus. Nota de John W. Beardslee III.
[6] Para um breve esclarecimento sobre circumcessio, ou, da relação das pessoas da Trindade veja AQUI. Nota de Ewerton B. Tokashiki.
Texto de John W. Beardslee III, Reformed Dogmatics: seventeenth-century Reformed Theology through the Writings of Wollebius, Voetius, and Turretin (Grand Rapids, Baker Books, 1977), pp. 40-45.
Traduzido 14 de Março de 2015.
Rev. Ewerton B. Tokashiki
Pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Porto Velho
Professor de Teologia Sistemática no SPBC-RO
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sábado, 14 de março de 2015
terça-feira, 13 de janeiro de 2015
Carta de João Calvino a Francis Daniel [1533]
CARTA 9 - A FRANCIS DANIEL
REFORMA EM PARIS – A FÚRIA DE SORBONNE - COMÉDIA SATÍRICA DIRIGIDA CONTRA A RAINHA DE NAVARRO - A INTERVENÇÃO DE FRANCIS I. DELIBERAÇÃO SOBRE AS QUATRO FACULDADES - REVOGAÇÃO DA CENSURA PRONUNCIADA CONTRA O LIVRO INTITULADO "O ESPELHO DA ALMA PECADORA."
PARIS, [Outubro] 1533.
Embora eu tenha do meu lado uma gama de materiais que fornecem provas mais que satisfatórias do que está escrito, conterei minha caneta, para que você possa ter os principais fatos ao invés de uma longa narrativa; que se fosse para eu escrever tudo, daria um volume considerável. Em primeiro de outubro, período do ano em que os meninos que passam da classe de gramática para dialética, como de costume, por questão de prática, fazem uma peça teatral, eles representaram uma no Ginásio de Navarro, o que foi extraordinariamente pungente com aspersão de fel e vinagre. Os personagens levados ao palco são – uma rainha, que, femininamente vestida, apareceu com um tear, e totalmente ocupada com a roca e a agulha; em seguida, a furiosa Megera apareceu, trazendo tochas acesas perto de si, e pronta para jogar fora a roca e a agulha. Por um momento ela ofereceu oposição e dificuldade, mas quando ela se rendeu, recebeu em suas mãos o evangelho, e imediatamente se esqueceu de todos os hábitos que tinha anteriormente cultivado, e quase até de si mesma. Por último, ela se torna tirânica, e persegue os inocentes e desafortunados usando todo tipo de crueldade. Muitos outros recursos foram introduzidos no mesmo estilo, a maioria indignamente, de fato, contra essa excelente mulher, a quem, indireta ou obscuramente, eles insultuosamente afrontaram com suas injúrias. Por alguns dias o caso foi suprimido. Depois, no entanto, como a verdade é filha do tempo, e todo o problema tendo sido relatado à rainha, pareceu a ela que isso poderia deixar um péssimo exemplo e incentivo à lascívia deles, que sempre se pasmam atrás de coisas novas, se fosse permitido que esta impertinência passasse impune.
O chefe da polícia com cem oficiais dirigiu-se ao ginásio, e por sua ordem, cercaram o edifício para que ninguém pudesse escapar. Ele então entrou com alguns de seus homens, mas não teve sucesso em encontrar o autor da peça teatral. Dizem que ele jamais esperava um procedimento assim, e por isso não fez qualquer provisão para o caso de acontecer; mas estando por acaso no quarto de um amigo, ouviu o barulho antes que pudessem vê-lo e então se escondeu até conseguir uma chance de fuga do flagrante. O chefe do comando da polícia capturou os artistas juvenis; o diretor do Ginásio, entretanto, resistiu a este procedimento; no meio da confusão, pedras foram jogadas por alguns dos rapazes. O chefe da polícia, no entanto, manteve seus prisioneiros em custódia e os obrigou a explicarem o que partes eles tinham encenado na peça. Quando o autor da confusão não podia mais ser preso, o próximo passo foi inquirir aqueles que, tendo o poder de impedir, haviam permitido o espetáculo, escondendo o caso todo por tanto tempo. Um que se destacou acima do restante em autoridade e nome, (por ser o grande mestre Lauret) percebeu que poderia ser preso de forma mais respeitosa na casa de um dos Comissários, (como eles os chamam.) Outro deles, Morinus, o segundo depois dele, recebeu ordens de permanecer em casa. Enquanto isso, o inquérito prosseguia. O que foi descoberto, eu não sei: ele agora está intimado a comparecer numa citação de três dias curtos, como eles agora chamam. Tanto por uma comédia.
Certos teólogos facciosos perpetraram outro feito igualmente maligno e talvez quase tão audacioso. Quando eles procuraram as lojas dos livreiros, entre os livros que eles trouxeram, eles apreenderam o livro que é chamado Le Miroir de L'Ame Pecheresse [O Espelho da Alma Pecadora], leitura que eles queriam proibir. Quando o Rainha foi informada disso, ela chamou o rei seu irmão e contou a ele que ela tinha escrito o livro. Através de cartas endereçadas aos mestres da Academia de Paris ele exigia que eles garantissem a ele se tinham examinado o livro, e se eles tinham o classificado entre aqueles de religião doentia; e que se o consideravam de tal modo, que eles explicassem as razões de sua opinião. Referindo-se a todo o processo, Nicolas Cop, o médico, no momento o reitor, relatou o caso para as quatro faculdades de artes, de medicina, de filosofia, de teologia e de lei canônica. Entre os mestres de artes a quem ele se dirigiu primeiro, ele se dedicou na exposição de discurso longo e amargo contra os doutores, por causa de seu comportamento impetuoso e arrogante com sua majestade a rainha. Ele os aconselhou a não interferirem de forma alguma em questões tão perigosas, se não quisessem incorrer no desagrado do rei, nem se colocarem contra a rainha, a mãe de todas as virtudes e de todo bom aprendizado. Por último, que eles não deviam tomar sobre si a culpa desta ofensa, para não encorajarem a presunção daqueles que estavam sempre prontos a entrar em situações encobertas com o pretexto que isso era o feito da Academia com a qual eles tinham se comprometido, sem que a Academia estivesse de modo algum ciente disso. Era a opinião de todos eles que o ato deveria ser desmentido.
Os teólogos, canonistas e médicos, eram todos da mesma opinião. O reitor informou o decreto de sua ordem; em seguida, o deão da Faculdade de Medicina; em terceiro lugar, o mestre de Direito Canônico; em quarto, a Faculdade de Teologia. Le Clerc, o sacerdote da paróquia de Santo André, teve a última palavra, sobre quem caiu toda a confusão, outros se afastando dele sumiram de vista. Em primeiro lugar ele elogiou, em expressão sublime, a retidão do Rei, a firmeza destemida com que até então tem se portado como um protetor da fé. Que havia intrometidos que se dedicavam em perverter essa excelente pessoa, que também estavam associados pela destruição da faculdade sagrada; que ele, no entanto, sustentava uma expectativa confiante de que eles não teriam sucesso em seus desejos e que, em oposição a tal firmeza que ele sabia que o rei possuía. Que como considerada a matéria em mãos, ele foi de fato nomeado pelo decreto da Academia ao cargo; que nada, no entanto, foi menos intentado por ele do que tentar algo contra a rainha, uma mulher tão adornada por conversa piedosa, bem como pela religião pura, em prova de que ele aduziu a reverência com o qual ela tinha observado o rito do funeral em memória de sua falecida mãe; que ele tomou como livros proibidos, ambas produções obscenas, — Pantagruel e a Floresta de Amores, e outros da mesmo cunho; que, nesse ínterim, ele tinha colocado de lado o livro em questão como digno de desconfiança, porque foi publicado sem a aprovação da faculdade, em fraude e contravenção do decreto, pelo qual foi proibido levar adiante qualquer coisa que dissesse respeito da fé sem o conselho e aprovação da faculdade; que, em uma palavra, esta foi sua defesa, que o que foi levado em questão tinha sido feito sob garantia e ordem da faculdade; que todos eram participantes na ofensa, se houvesse algum, embora eles possam negar isso. E tudo isto foi dito em francês, para que todos pudessem entender se ele falou a verdade; todos alegaram, no entanto, que ele se declarou este pretenso desconhecimento a título de desculpa. Estavam presentes também o Bispo de Senlis, L'Etoile, e um dos chefes do palácio. Quando Le Clerc terminou de falar, Parvi disse que ele tinha lido o livro, — que ele não tinha encontrado nada que exigisse expurgação a menos que ele tivesse esquecido sua teologia.
Finalmente, ele exigiu que fosse feito um decreto pelo qual eles pudessem satisfazer o Rei. Cop, o reitor, anunciou que a Academia não reconhecia essa censura em seus termos; que eles não aprovavam nem homologavam a censura pela qual o livro em questão foi classificado entre os livros proibidos ou suspeitos; que aqueles que a tinham feito deviam olhar para ela, sobre que bases estavam defendendo o processo; que cartas deveriam ser preparadas no devido tempo, por meio das quais a Academia pudesse se desculpar diante do rei, e também agradecer por ele ter tão gentilmente se dirigido a eles de forma paternal. O diploma real foi produzido, pelo qual a permissão foi concedida ao Bispo de Paris para nomear os pregadores que quisesse para as diferentes paróquias, onde eles tivessem sido escolhidos de antemão pela vontade dos paroquianos; a principal influência sendo apreciada por aqueles que eram mais resistentes e possuídos de um furor sem sentido, os quais consideravam zelo, tal como o de Elias, com o qual, no entanto, ele era zeloso pela casa de Deus. — Adeus.
[Autógrafo latino original — Biblioteca de Berna. Volume 141]
Tradutor: Rev. Antônio dos Passos Pereira Amaral, ministro presbiteriano, cursando Mestrado (MDiv) em Teologia Histórica pelo Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper/SP.
REFORMA EM PARIS – A FÚRIA DE SORBONNE - COMÉDIA SATÍRICA DIRIGIDA CONTRA A RAINHA DE NAVARRO - A INTERVENÇÃO DE FRANCIS I. DELIBERAÇÃO SOBRE AS QUATRO FACULDADES - REVOGAÇÃO DA CENSURA PRONUNCIADA CONTRA O LIVRO INTITULADO "O ESPELHO DA ALMA PECADORA."
PARIS, [Outubro] 1533.
Embora eu tenha do meu lado uma gama de materiais que fornecem provas mais que satisfatórias do que está escrito, conterei minha caneta, para que você possa ter os principais fatos ao invés de uma longa narrativa; que se fosse para eu escrever tudo, daria um volume considerável. Em primeiro de outubro, período do ano em que os meninos que passam da classe de gramática para dialética, como de costume, por questão de prática, fazem uma peça teatral, eles representaram uma no Ginásio de Navarro, o que foi extraordinariamente pungente com aspersão de fel e vinagre. Os personagens levados ao palco são – uma rainha, que, femininamente vestida, apareceu com um tear, e totalmente ocupada com a roca e a agulha; em seguida, a furiosa Megera apareceu, trazendo tochas acesas perto de si, e pronta para jogar fora a roca e a agulha. Por um momento ela ofereceu oposição e dificuldade, mas quando ela se rendeu, recebeu em suas mãos o evangelho, e imediatamente se esqueceu de todos os hábitos que tinha anteriormente cultivado, e quase até de si mesma. Por último, ela se torna tirânica, e persegue os inocentes e desafortunados usando todo tipo de crueldade. Muitos outros recursos foram introduzidos no mesmo estilo, a maioria indignamente, de fato, contra essa excelente mulher, a quem, indireta ou obscuramente, eles insultuosamente afrontaram com suas injúrias. Por alguns dias o caso foi suprimido. Depois, no entanto, como a verdade é filha do tempo, e todo o problema tendo sido relatado à rainha, pareceu a ela que isso poderia deixar um péssimo exemplo e incentivo à lascívia deles, que sempre se pasmam atrás de coisas novas, se fosse permitido que esta impertinência passasse impune.
O chefe da polícia com cem oficiais dirigiu-se ao ginásio, e por sua ordem, cercaram o edifício para que ninguém pudesse escapar. Ele então entrou com alguns de seus homens, mas não teve sucesso em encontrar o autor da peça teatral. Dizem que ele jamais esperava um procedimento assim, e por isso não fez qualquer provisão para o caso de acontecer; mas estando por acaso no quarto de um amigo, ouviu o barulho antes que pudessem vê-lo e então se escondeu até conseguir uma chance de fuga do flagrante. O chefe do comando da polícia capturou os artistas juvenis; o diretor do Ginásio, entretanto, resistiu a este procedimento; no meio da confusão, pedras foram jogadas por alguns dos rapazes. O chefe da polícia, no entanto, manteve seus prisioneiros em custódia e os obrigou a explicarem o que partes eles tinham encenado na peça. Quando o autor da confusão não podia mais ser preso, o próximo passo foi inquirir aqueles que, tendo o poder de impedir, haviam permitido o espetáculo, escondendo o caso todo por tanto tempo. Um que se destacou acima do restante em autoridade e nome, (por ser o grande mestre Lauret) percebeu que poderia ser preso de forma mais respeitosa na casa de um dos Comissários, (como eles os chamam.) Outro deles, Morinus, o segundo depois dele, recebeu ordens de permanecer em casa. Enquanto isso, o inquérito prosseguia. O que foi descoberto, eu não sei: ele agora está intimado a comparecer numa citação de três dias curtos, como eles agora chamam. Tanto por uma comédia.
Certos teólogos facciosos perpetraram outro feito igualmente maligno e talvez quase tão audacioso. Quando eles procuraram as lojas dos livreiros, entre os livros que eles trouxeram, eles apreenderam o livro que é chamado Le Miroir de L'Ame Pecheresse [O Espelho da Alma Pecadora], leitura que eles queriam proibir. Quando o Rainha foi informada disso, ela chamou o rei seu irmão e contou a ele que ela tinha escrito o livro. Através de cartas endereçadas aos mestres da Academia de Paris ele exigia que eles garantissem a ele se tinham examinado o livro, e se eles tinham o classificado entre aqueles de religião doentia; e que se o consideravam de tal modo, que eles explicassem as razões de sua opinião. Referindo-se a todo o processo, Nicolas Cop, o médico, no momento o reitor, relatou o caso para as quatro faculdades de artes, de medicina, de filosofia, de teologia e de lei canônica. Entre os mestres de artes a quem ele se dirigiu primeiro, ele se dedicou na exposição de discurso longo e amargo contra os doutores, por causa de seu comportamento impetuoso e arrogante com sua majestade a rainha. Ele os aconselhou a não interferirem de forma alguma em questões tão perigosas, se não quisessem incorrer no desagrado do rei, nem se colocarem contra a rainha, a mãe de todas as virtudes e de todo bom aprendizado. Por último, que eles não deviam tomar sobre si a culpa desta ofensa, para não encorajarem a presunção daqueles que estavam sempre prontos a entrar em situações encobertas com o pretexto que isso era o feito da Academia com a qual eles tinham se comprometido, sem que a Academia estivesse de modo algum ciente disso. Era a opinião de todos eles que o ato deveria ser desmentido.
Os teólogos, canonistas e médicos, eram todos da mesma opinião. O reitor informou o decreto de sua ordem; em seguida, o deão da Faculdade de Medicina; em terceiro lugar, o mestre de Direito Canônico; em quarto, a Faculdade de Teologia. Le Clerc, o sacerdote da paróquia de Santo André, teve a última palavra, sobre quem caiu toda a confusão, outros se afastando dele sumiram de vista. Em primeiro lugar ele elogiou, em expressão sublime, a retidão do Rei, a firmeza destemida com que até então tem se portado como um protetor da fé. Que havia intrometidos que se dedicavam em perverter essa excelente pessoa, que também estavam associados pela destruição da faculdade sagrada; que ele, no entanto, sustentava uma expectativa confiante de que eles não teriam sucesso em seus desejos e que, em oposição a tal firmeza que ele sabia que o rei possuía. Que como considerada a matéria em mãos, ele foi de fato nomeado pelo decreto da Academia ao cargo; que nada, no entanto, foi menos intentado por ele do que tentar algo contra a rainha, uma mulher tão adornada por conversa piedosa, bem como pela religião pura, em prova de que ele aduziu a reverência com o qual ela tinha observado o rito do funeral em memória de sua falecida mãe; que ele tomou como livros proibidos, ambas produções obscenas, — Pantagruel e a Floresta de Amores, e outros da mesmo cunho; que, nesse ínterim, ele tinha colocado de lado o livro em questão como digno de desconfiança, porque foi publicado sem a aprovação da faculdade, em fraude e contravenção do decreto, pelo qual foi proibido levar adiante qualquer coisa que dissesse respeito da fé sem o conselho e aprovação da faculdade; que, em uma palavra, esta foi sua defesa, que o que foi levado em questão tinha sido feito sob garantia e ordem da faculdade; que todos eram participantes na ofensa, se houvesse algum, embora eles possam negar isso. E tudo isto foi dito em francês, para que todos pudessem entender se ele falou a verdade; todos alegaram, no entanto, que ele se declarou este pretenso desconhecimento a título de desculpa. Estavam presentes também o Bispo de Senlis, L'Etoile, e um dos chefes do palácio. Quando Le Clerc terminou de falar, Parvi disse que ele tinha lido o livro, — que ele não tinha encontrado nada que exigisse expurgação a menos que ele tivesse esquecido sua teologia.
Finalmente, ele exigiu que fosse feito um decreto pelo qual eles pudessem satisfazer o Rei. Cop, o reitor, anunciou que a Academia não reconhecia essa censura em seus termos; que eles não aprovavam nem homologavam a censura pela qual o livro em questão foi classificado entre os livros proibidos ou suspeitos; que aqueles que a tinham feito deviam olhar para ela, sobre que bases estavam defendendo o processo; que cartas deveriam ser preparadas no devido tempo, por meio das quais a Academia pudesse se desculpar diante do rei, e também agradecer por ele ter tão gentilmente se dirigido a eles de forma paternal. O diploma real foi produzido, pelo qual a permissão foi concedida ao Bispo de Paris para nomear os pregadores que quisesse para as diferentes paróquias, onde eles tivessem sido escolhidos de antemão pela vontade dos paroquianos; a principal influência sendo apreciada por aqueles que eram mais resistentes e possuídos de um furor sem sentido, os quais consideravam zelo, tal como o de Elias, com o qual, no entanto, ele era zeloso pela casa de Deus. — Adeus.
[Autógrafo latino original — Biblioteca de Berna. Volume 141]
Tradutor: Rev. Antônio dos Passos Pereira Amaral, ministro presbiteriano, cursando Mestrado (MDiv) em Teologia Histórica pelo Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper/SP.
terça-feira, 13 de maio de 2014
Carta de João Calvino para Francis Daniel [1532]
CARTA 5 - PRIMEIRO TRABALHO DE CALVINO — COMENTÁRIO SOBRE O TRATADO SÊNECA, "DE CLEMENTIA"
PARIS, 23 de Maio de 1532.
Bem, enfim a sorte está lançada. Meus comentários sobre os livros de Sêneca, "De Clementia",[1] foram impressos, mas com meus próprios recursos, e me levou mais dinheiro do que você bem pode imaginar. No momento, estou empregando todo esforço para conseguir um pouco de volta. Tenho despertado alguns dos professores desta cidade para fazer uso deles em palestras. Na Universidade de Bourges convenci um amigo a fazer isso a partir do púlpito por meio de uma palestra pública. Você também poderia me ajudar um pouco, se você não me entender mal; faça-o em nome de nossa velha amizade; visto especialmente, sem qualquer dano à sua reputação, que você pode me prestar este serviço, e que talvez também tenda a ser de benefício público. Se você se dispuser a prestar-me este benefício, vou enviar-lhe cem cópias, ou tantas quantas você desejar. Enquanto isso, aceite esta cópia, mas sem supor que ao aceita-la, eu estarei forçando você a fazer o que eu peço. É meu desejo que tudo esteja bem e sem constrangimentos entre nós. Adeus e permita-me em breve ouvir de você. Escrevi recentemente ao Pigney, mas ele ainda não respondeu. Ao Brosse escrevi há muito tempo, mas desta vez não obtive nenhuma resposta. Ele, que dará a Le Roy sua cópia, com certeza o saudará.
[Cópia Latina — Biblioteca de Berna. Volume 450]
Extraído de Letters 1528-1545 - Selected Works of John Calvin (Albany, Ages Software, 1998), vol. 4, p. 37.
Tradução em 7 de Maio de 2014.
NOTAS:
[1] Este é o livro com o título de L. Annaei Senecae Libri 2, de Clementia, ad Nero Caesarem, Commentariis Illustrati. Publicado em Paris, 1532. Calvino dedicou esta obra ao seu colega de estudos Claude de Hangest, membro da ilustre família de Mornmot, que se tornou become o Abade de St. Eloy em Nyon. A epístola de dedicatória é datada de Paris, em 4 de Abril de 1532. Nota de Ewerton B. Tokashiki.
Tradutor: Rev. Antônio dos Passos Pereira Amaral, ministro presbiteriano, pastor efetivo na Igreja Presbiteriana de Lagoa Santa; professor de teologia e hermenêutica na Escola Bíblica Central do Brasil/Lagoa Santa-MG; Bacharel em Teologia e Missiologia pela Escola Superior de Teologia e Estudos Transculturais/Montes Claros-MG (2003), Bacharel em Teologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie/São Paulo-SP (2013), cursando Mestrado (MDiv) em Teologia Histórica pelo Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper/SP.
Revisado por Rev. Ewerton B. Tokashiki
Pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Porto Velho
Professor de Teologia Sistemática no SPBC-RO
PARIS, 23 de Maio de 1532.
Bem, enfim a sorte está lançada. Meus comentários sobre os livros de Sêneca, "De Clementia",[1] foram impressos, mas com meus próprios recursos, e me levou mais dinheiro do que você bem pode imaginar. No momento, estou empregando todo esforço para conseguir um pouco de volta. Tenho despertado alguns dos professores desta cidade para fazer uso deles em palestras. Na Universidade de Bourges convenci um amigo a fazer isso a partir do púlpito por meio de uma palestra pública. Você também poderia me ajudar um pouco, se você não me entender mal; faça-o em nome de nossa velha amizade; visto especialmente, sem qualquer dano à sua reputação, que você pode me prestar este serviço, e que talvez também tenda a ser de benefício público. Se você se dispuser a prestar-me este benefício, vou enviar-lhe cem cópias, ou tantas quantas você desejar. Enquanto isso, aceite esta cópia, mas sem supor que ao aceita-la, eu estarei forçando você a fazer o que eu peço. É meu desejo que tudo esteja bem e sem constrangimentos entre nós. Adeus e permita-me em breve ouvir de você. Escrevi recentemente ao Pigney, mas ele ainda não respondeu. Ao Brosse escrevi há muito tempo, mas desta vez não obtive nenhuma resposta. Ele, que dará a Le Roy sua cópia, com certeza o saudará.
[Cópia Latina — Biblioteca de Berna. Volume 450]
Extraído de Letters 1528-1545 - Selected Works of John Calvin (Albany, Ages Software, 1998), vol. 4, p. 37.
Tradução em 7 de Maio de 2014.
NOTAS:
[1] Este é o livro com o título de L. Annaei Senecae Libri 2, de Clementia, ad Nero Caesarem, Commentariis Illustrati. Publicado em Paris, 1532. Calvino dedicou esta obra ao seu colega de estudos Claude de Hangest, membro da ilustre família de Mornmot, que se tornou become o Abade de St. Eloy em Nyon. A epístola de dedicatória é datada de Paris, em 4 de Abril de 1532. Nota de Ewerton B. Tokashiki.
Tradutor: Rev. Antônio dos Passos Pereira Amaral, ministro presbiteriano, pastor efetivo na Igreja Presbiteriana de Lagoa Santa; professor de teologia e hermenêutica na Escola Bíblica Central do Brasil/Lagoa Santa-MG; Bacharel em Teologia e Missiologia pela Escola Superior de Teologia e Estudos Transculturais/Montes Claros-MG (2003), Bacharel em Teologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie/São Paulo-SP (2013), cursando Mestrado (MDiv) em Teologia Histórica pelo Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper/SP.
Revisado por Rev. Ewerton B. Tokashiki
Pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Porto Velho
Professor de Teologia Sistemática no SPBC-RO
terça-feira, 25 de março de 2014
Carta Martinho Lutero a Johannes Staupitz [1518]
31 de Março de 1518[1]
A seu pai e superior em Cristo.
Jesus. Meu pai no Senhor: ao andar ocupado em tantas coisas me vejo forçado a comunicar-lhe pouquíssimas outras. Em primeiro lugar, creio que meu nome fede para muitos. Há algum tempo muitas pessoas boas atribuem-me condenar os rosários, coroas, ofícios fúnebres, e outras orações e até qualquer boa obra. O mesmo ocorreu a são Paulo, a quem imputavam ter declarado “façamos o mal para que o bem aconteça”.[2] O que ensino, continua sendo a teologia de Tauler e do livreto de Christian Aurifaber que você mesmo editaste, é que os homens depositem a sua confiança, não em orações, nem em méritos, nem nas próprias obras, mas, somente em Jesus Cristo, porque não nos salvaremos por correr, mas pela misericórdia de Deus.[3] Desta minha preocupação, eles tiram veneno que, como você pode ver, andam espalhando. Mas o mesmo que não comecei, tão pouco retrocederei em meu empenho movido pela fama ou pela infâmia. Deus haver de julgar.
Esses mesmos doutores escolásticos atiçam o ódio contra mim, tanto em força como em fervor, de seu zelo e estão a ponto de enlouquecer, pela simples razão de que antes que a eles, eu prefiro aos escritores escolásticos e a Bíblia. E é que leio aos escolásticos com discrição, não com olhos fechados (como é seu costume), sendo que o apóstolo preceituou “provai tudo, e retende o que é bom”.[4] Não os rejeito em tudo, nem tão pouco, os aprovo em tudo. Estes tagarelas costumam tomar a parte pelo todo, a converter a faísca em incêndio, e a mosca em elefante. Graças a Deus não me causam preocupação, nem mesmo os menores destes fantasmas. É puro palavreado e não passarão disso. Se foi permitido a Scotus, Gabriel e a outros semelhantes discordar de são Tomás, e se aos tomistas não lhes está vedado contradizer a tudo o que se ponha adiante, nem que entre eles existam tantas divisões como cabeças, ou inclusive como crinas de cada cabeça, por quê não me concederiam o meu esgrimir contra eles o mesmo direito que arrogam contra si? Se Deus agir, ninguém poderá impedi-lo, ninguém poderá levantá-lo se está descansando.
Adeus e rogue por mim, e pela verdade divina onde quer a encontre.
Wittenberg, 31 de Março de 1518. Fr. M. Eleutherius, agostiniano.
NOTAS:
[1] WA Br 1, 160. Johannes de Staupitz (falecido em 1524), vicário geral de Lutero agostiniano, é um personagem presente desde os seus primeiros anos na religião, como representante da bondade compreensiva. Lutero sempre lhe foi agradecido, mas não conseguiu envolve-lo na Reforma. Ver cartas seguintes e, em especial, a que Lutero lhe escreveu em 17 de Setembro de 1523. Cf. D.C. Steinmetz, Misericordia Dei. The Theology os Johannes Staupiz, Leiden 1968.
[2] Rm 3:8.
[3] Rm 9:16.
[4] 1 Ts 5:21.
Traduzido de Teófanes Egido, org., Lutero – Obras (Salamanca, Ediciones Síguime, 4ª ed., 2006), pp. 376-377.
Tradução em 22 de Fevereiro de 2014.
Rev. Ewerton B. Tokashiki
Pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Porto Velho
Professor de Teologia Sistemática do SPBC-RO.
A seu pai e superior em Cristo.
Jesus. Meu pai no Senhor: ao andar ocupado em tantas coisas me vejo forçado a comunicar-lhe pouquíssimas outras. Em primeiro lugar, creio que meu nome fede para muitos. Há algum tempo muitas pessoas boas atribuem-me condenar os rosários, coroas, ofícios fúnebres, e outras orações e até qualquer boa obra. O mesmo ocorreu a são Paulo, a quem imputavam ter declarado “façamos o mal para que o bem aconteça”.[2] O que ensino, continua sendo a teologia de Tauler e do livreto de Christian Aurifaber que você mesmo editaste, é que os homens depositem a sua confiança, não em orações, nem em méritos, nem nas próprias obras, mas, somente em Jesus Cristo, porque não nos salvaremos por correr, mas pela misericórdia de Deus.[3] Desta minha preocupação, eles tiram veneno que, como você pode ver, andam espalhando. Mas o mesmo que não comecei, tão pouco retrocederei em meu empenho movido pela fama ou pela infâmia. Deus haver de julgar.
Esses mesmos doutores escolásticos atiçam o ódio contra mim, tanto em força como em fervor, de seu zelo e estão a ponto de enlouquecer, pela simples razão de que antes que a eles, eu prefiro aos escritores escolásticos e a Bíblia. E é que leio aos escolásticos com discrição, não com olhos fechados (como é seu costume), sendo que o apóstolo preceituou “provai tudo, e retende o que é bom”.[4] Não os rejeito em tudo, nem tão pouco, os aprovo em tudo. Estes tagarelas costumam tomar a parte pelo todo, a converter a faísca em incêndio, e a mosca em elefante. Graças a Deus não me causam preocupação, nem mesmo os menores destes fantasmas. É puro palavreado e não passarão disso. Se foi permitido a Scotus, Gabriel e a outros semelhantes discordar de são Tomás, e se aos tomistas não lhes está vedado contradizer a tudo o que se ponha adiante, nem que entre eles existam tantas divisões como cabeças, ou inclusive como crinas de cada cabeça, por quê não me concederiam o meu esgrimir contra eles o mesmo direito que arrogam contra si? Se Deus agir, ninguém poderá impedi-lo, ninguém poderá levantá-lo se está descansando.
Adeus e rogue por mim, e pela verdade divina onde quer a encontre.
Wittenberg, 31 de Março de 1518. Fr. M. Eleutherius, agostiniano.
NOTAS:
[1] WA Br 1, 160. Johannes de Staupitz (falecido em 1524), vicário geral de Lutero agostiniano, é um personagem presente desde os seus primeiros anos na religião, como representante da bondade compreensiva. Lutero sempre lhe foi agradecido, mas não conseguiu envolve-lo na Reforma. Ver cartas seguintes e, em especial, a que Lutero lhe escreveu em 17 de Setembro de 1523. Cf. D.C. Steinmetz, Misericordia Dei. The Theology os Johannes Staupiz, Leiden 1968.
[2] Rm 3:8.
[3] Rm 9:16.
[4] 1 Ts 5:21.
Traduzido de Teófanes Egido, org., Lutero – Obras (Salamanca, Ediciones Síguime, 4ª ed., 2006), pp. 376-377.
Tradução em 22 de Fevereiro de 2014.
Rev. Ewerton B. Tokashiki
Pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Porto Velho
Professor de Teologia Sistemática do SPBC-RO.
sábado, 22 de março de 2014
Carta Martinho Lutero a George Spalatino [1518]
18 de Janeiro de 1518[1]
Ao seu irrepreensível George Spalatino,[2] verdadeiro discípulo de Cristo e irmão.
Jesus. Saúde. Até agora você tem me perguntado algumas coisas, ótimo Spalatino, cuja resposta dependia de minha capacidade ou de minha temeridade; agora, ao rogar-me que te oriente em que concerne o conhecimento da Sagrada Escritura, me levanta um problema que excede em muito todas as minhas forças. E, é que nem eu mesmo posso encontrar quem me guie no assunto com tanta transcendência. Cada um, inclusive os mais eruditos e melhores intelectuais, podem perceber o seu lazer. Aí tem a Erasmo: afirma publicamente que são Jerônimo é um teólogo de categoria tal, que a segundo a sua predileção deveria ser o único que tomasse em consideração. Pois bem, se ousar antepor a santo Agostinho, e se me tomasse por árbitro parcial e suspeito por causa de minhas confessas simpatias e de sentença divulgada, e que a tempos aceitei de Erasmo, que afirmou que seria uma enorme vergonha comparar Agostinho com Jerônimo. Outros abundam outras opiniões.
Da minha parte, dada minha pobre erudição e escassa inteligência, não me atreveria a dizer nada em assuntos de tanta importância e entre juízes tão qualificados. A Erasmo sempre o louvo, e o defendo ante todos os que deliberadamente odeiam a Escritura Sagrada, ou a desconhecem por ignorância,[3] mas, intencionalmente me guardo de vomitar no que discordo dele para não alimentar a inveja que eles têm, e apesar disto que vejam em Erasmo muitas coisas que me parecem tão pouco imprudentes para chegar ao conhecimento de Cristo. Tudo isto, está claro, falando como um teólogo, e não como um gramático; porque, de outra forma, o próprio Jerônimo, tão celebrado por Erasmo, não encontraria nada mais erudito e inteligente que isto.
Você sabe que violará o sagrado da amizade se comunicar a alguém a minha opinião sobre Erasmo. Não te digo isto em vão. Bem sabe que há muitos que deliberadamente andam a caça de motivos para caluniar aos bons eruditos. Permaneça em segredo o que disse. E ainda mais: não me faças caso, até que você mesmo não tenha se convencido disto pela leitura.
Não obstante, se te empenha em saber do meu programa de erudito, eu confiarei por completo a você um grupo de amigos íntimos, mas sob a condição de que não me sigas, a não ser criteriosamente. A primeira coisa que você tem que ter presente é a certeza indestrutível de que a Escritura Sagrada é impossível penetrá-la baseado no estudo e inteligência. Portanto, teu primeiro empenho será o começar pela oração; mas, uma oração em que peça para que a mais pura misericórdia te conceda a inteligência da sua palavra, e que se agrade de te usar para a sua glória, não para a tua, nem para a de nenhum humano. Nenhum mestre das palavras divinas poderá ser o melhor do que seu próprio autor, de acordo com o que disse: “todos serão ensinados por Deus.”[4] Portanto, convém sobremaneira que você se desespere com todas as suas forças e de toda a tua inteligência e confie unicamente na ação do Espírito. Atente a quem te diz por experiência própria.
Baseado neste humilde desespero, depois leia a Bíblia em ordem, desde o princípio até o fim, para que aprendas primeiro e de memória a narração livre (o que imagino que terá feito). Para isto será muito proveitoso são Jerônimo em suas Cartas e Comentários, mas para chegar ao conhecimento de Cristo e da graça – ou seja, para penetrar na inteligência mais secreta do espírito – parecem-me muito mais coerentes que santo Agostinho e Ambrósio, porque a percepção de que são Jerônimo “originou” (ou seja, alegorizou) demasiadamente.[5] Digo isto, mas deixo o a juízo de Erasmo, pois, não me pediu a opinião de Erasmo, e sim a minha.
Se lhe agrada o meu método começará pela leitura de Do espírito e da letra de santo Agostinho, obra que o nosso Karlstadt,[6] homem de incomparáveis conhecimentos, explicou e editou com admiráveis comentários. Leis depois o livro Contra Juliano e Contra as cartas dos pelagianos. Também acrescente Da vocação de todas as nações de são Ambrósio, se bem que pelo estilo, pela inteligência e pela cronologia deva ser atribuído a outro autor; todavia, está cheio de erudição. Deixe os demais para depois, se é que resultarem de teu agrado o que indiquei a você. E perdoe-me a temeridade de atrever-me antepor em assunto tão árduo o meu sistema ao de outros de tanto peso.
Por fim, renunciarei da Apologia de Erasmo, mas me afeta veementemente o duelo que desencadeou entre dois príncipes das letras.[7] Erasmo está muito acima de todos, e é o que melhor se expressa, mas também é o mais amargo apesar de seus esforços por conservar a amizade.
Adeus meu Spalatino. Em nosso monastério, dia de santa Prisca, quando recebi a sua carta, 1518. Fr. Martinus Eleutherius. O P. Staupitz anda por Munich, em Baviera; e de lá acaba de escrever-me.
NOTAS:
[1] WA Br 1, 133-134. Do valor doutrinário desta carta deu testemunho o próprio destinatário com a nota marginal que lhe pôs: “1518. Introductio in theologiam”.
[2] WA Br 1, pp. 70-71. Spalatino (Georg Burckhardt, de Spalt) da mesma geração que Lutero. Ele viveu entre 1484-1545, realizou um papel decisivo no início da Reforma devido a sua posição na corte de Frederico, o Sábio da Saxônia, de quem era chanceler e pregador. Foi o mediador entre o príncipe e Lutero, que como humanista, soube frear certas exageros do reformador que escreveu um numeroso corpo de cartas. Cf. I. Hüss, Georg Spalatin, Weimar 1956; Id., Georg Spaltins Verhâltins zu Luther und der Reformation: Luther 31 (1960), pp. 67-80. Nota de Teófanes Egido.
[3] Alude aos escolásticos, tão maltratados pelos humanistas e o reformador, numa das poucas coisas em que estavam de acordo. Nota de Teófanes Egido. Erasmo criticando os teólogos escolásticos declara que “arrogam-se insolentemente o direito de definir e discutir verdades incompreensíveis, profanando assim a majestade da teologia com as palavras e sentenças mais insulsas e triviais. No entanto, esses insignificantes faladores envaidecem-se com sua vazia erudição e experimentam tanto prazer em ocupar-se dia e noite com essas suavíssimas nênias que nem tempo lhe sobre para ler ao menos uma vez o Evangelho e as cartas de são Paulo.” Erasmo Rotterdam, Elogio da loucura (São Paulo, Editora Martin Claret, 2002), p. 82. Igualmente Lutero declara o seu rompimento formal com os escolásticos em sua Disputatio contra scholasticam theologiam. Martinho Lutero, “Debate sobre a Teologia Escolástica” in: Obras Selecionadas – Os primórdios escritos de 1517-1519 (São Leopoldo, Editora Sinodal & Concórdia Editora, 1987), vol. 1, pp. 13-20. Nota do tradutor.
[4] Jo 6:45.
[5] Lutero está fazendo menção a Orígenes, conhecido pelo seu método alegórico, segundo a Escola de Alexandria. Nota do tradutor.
[6] Karlstadt (Andreas Rudolf Karlstadt, 1480-1541). A opinião de Lutero é dos primeiros anos, quando Karlstadt era seu defensor sem restrições. Depois, por interpretações pessoais da Escritura, distanciou-se de Lutero na doutrina e nas práticas eucarísticas, sobressaindo-lhe, chegando a posturas sócio-religiosas “iluminadas”. Terminou como um dos personagens mais odiados por Lutero, sobretudo desde 1523. Cf. E. Hertzsch, Karlstadt und seine Bedeutung für das Luthertum, Gotha 1932.
[7] Refere-se a Apologia contra L. d’Etaples, editada em 1517, e a controvérsia entre ambos a propósito de determinados problemas da carta aos Hebreus.
Traduzido de Teófanes Egido, org., Lutero – Obras (Salamanca, Ediciones Síguime, 4ª ed., 2006), pp. 374-376.
Tradução com introdução e notas em 22 de Fevereiro de 2014.
Rev. Ewerton B. Tokashiki
Pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Porto Velho
Professor de Teologia Sistemática do SPBC-RO.
Ao seu irrepreensível George Spalatino,[2] verdadeiro discípulo de Cristo e irmão.
Jesus. Saúde. Até agora você tem me perguntado algumas coisas, ótimo Spalatino, cuja resposta dependia de minha capacidade ou de minha temeridade; agora, ao rogar-me que te oriente em que concerne o conhecimento da Sagrada Escritura, me levanta um problema que excede em muito todas as minhas forças. E, é que nem eu mesmo posso encontrar quem me guie no assunto com tanta transcendência. Cada um, inclusive os mais eruditos e melhores intelectuais, podem perceber o seu lazer. Aí tem a Erasmo: afirma publicamente que são Jerônimo é um teólogo de categoria tal, que a segundo a sua predileção deveria ser o único que tomasse em consideração. Pois bem, se ousar antepor a santo Agostinho, e se me tomasse por árbitro parcial e suspeito por causa de minhas confessas simpatias e de sentença divulgada, e que a tempos aceitei de Erasmo, que afirmou que seria uma enorme vergonha comparar Agostinho com Jerônimo. Outros abundam outras opiniões.
Da minha parte, dada minha pobre erudição e escassa inteligência, não me atreveria a dizer nada em assuntos de tanta importância e entre juízes tão qualificados. A Erasmo sempre o louvo, e o defendo ante todos os que deliberadamente odeiam a Escritura Sagrada, ou a desconhecem por ignorância,[3] mas, intencionalmente me guardo de vomitar no que discordo dele para não alimentar a inveja que eles têm, e apesar disto que vejam em Erasmo muitas coisas que me parecem tão pouco imprudentes para chegar ao conhecimento de Cristo. Tudo isto, está claro, falando como um teólogo, e não como um gramático; porque, de outra forma, o próprio Jerônimo, tão celebrado por Erasmo, não encontraria nada mais erudito e inteligente que isto.
Você sabe que violará o sagrado da amizade se comunicar a alguém a minha opinião sobre Erasmo. Não te digo isto em vão. Bem sabe que há muitos que deliberadamente andam a caça de motivos para caluniar aos bons eruditos. Permaneça em segredo o que disse. E ainda mais: não me faças caso, até que você mesmo não tenha se convencido disto pela leitura.
Não obstante, se te empenha em saber do meu programa de erudito, eu confiarei por completo a você um grupo de amigos íntimos, mas sob a condição de que não me sigas, a não ser criteriosamente. A primeira coisa que você tem que ter presente é a certeza indestrutível de que a Escritura Sagrada é impossível penetrá-la baseado no estudo e inteligência. Portanto, teu primeiro empenho será o começar pela oração; mas, uma oração em que peça para que a mais pura misericórdia te conceda a inteligência da sua palavra, e que se agrade de te usar para a sua glória, não para a tua, nem para a de nenhum humano. Nenhum mestre das palavras divinas poderá ser o melhor do que seu próprio autor, de acordo com o que disse: “todos serão ensinados por Deus.”[4] Portanto, convém sobremaneira que você se desespere com todas as suas forças e de toda a tua inteligência e confie unicamente na ação do Espírito. Atente a quem te diz por experiência própria.
Baseado neste humilde desespero, depois leia a Bíblia em ordem, desde o princípio até o fim, para que aprendas primeiro e de memória a narração livre (o que imagino que terá feito). Para isto será muito proveitoso são Jerônimo em suas Cartas e Comentários, mas para chegar ao conhecimento de Cristo e da graça – ou seja, para penetrar na inteligência mais secreta do espírito – parecem-me muito mais coerentes que santo Agostinho e Ambrósio, porque a percepção de que são Jerônimo “originou” (ou seja, alegorizou) demasiadamente.[5] Digo isto, mas deixo o a juízo de Erasmo, pois, não me pediu a opinião de Erasmo, e sim a minha.
Se lhe agrada o meu método começará pela leitura de Do espírito e da letra de santo Agostinho, obra que o nosso Karlstadt,[6] homem de incomparáveis conhecimentos, explicou e editou com admiráveis comentários. Leis depois o livro Contra Juliano e Contra as cartas dos pelagianos. Também acrescente Da vocação de todas as nações de são Ambrósio, se bem que pelo estilo, pela inteligência e pela cronologia deva ser atribuído a outro autor; todavia, está cheio de erudição. Deixe os demais para depois, se é que resultarem de teu agrado o que indiquei a você. E perdoe-me a temeridade de atrever-me antepor em assunto tão árduo o meu sistema ao de outros de tanto peso.
Por fim, renunciarei da Apologia de Erasmo, mas me afeta veementemente o duelo que desencadeou entre dois príncipes das letras.[7] Erasmo está muito acima de todos, e é o que melhor se expressa, mas também é o mais amargo apesar de seus esforços por conservar a amizade.
Adeus meu Spalatino. Em nosso monastério, dia de santa Prisca, quando recebi a sua carta, 1518. Fr. Martinus Eleutherius. O P. Staupitz anda por Munich, em Baviera; e de lá acaba de escrever-me.
NOTAS:
[1] WA Br 1, 133-134. Do valor doutrinário desta carta deu testemunho o próprio destinatário com a nota marginal que lhe pôs: “1518. Introductio in theologiam”.
[2] WA Br 1, pp. 70-71. Spalatino (Georg Burckhardt, de Spalt) da mesma geração que Lutero. Ele viveu entre 1484-1545, realizou um papel decisivo no início da Reforma devido a sua posição na corte de Frederico, o Sábio da Saxônia, de quem era chanceler e pregador. Foi o mediador entre o príncipe e Lutero, que como humanista, soube frear certas exageros do reformador que escreveu um numeroso corpo de cartas. Cf. I. Hüss, Georg Spalatin, Weimar 1956; Id., Georg Spaltins Verhâltins zu Luther und der Reformation: Luther 31 (1960), pp. 67-80. Nota de Teófanes Egido.
[3] Alude aos escolásticos, tão maltratados pelos humanistas e o reformador, numa das poucas coisas em que estavam de acordo. Nota de Teófanes Egido. Erasmo criticando os teólogos escolásticos declara que “arrogam-se insolentemente o direito de definir e discutir verdades incompreensíveis, profanando assim a majestade da teologia com as palavras e sentenças mais insulsas e triviais. No entanto, esses insignificantes faladores envaidecem-se com sua vazia erudição e experimentam tanto prazer em ocupar-se dia e noite com essas suavíssimas nênias que nem tempo lhe sobre para ler ao menos uma vez o Evangelho e as cartas de são Paulo.” Erasmo Rotterdam, Elogio da loucura (São Paulo, Editora Martin Claret, 2002), p. 82. Igualmente Lutero declara o seu rompimento formal com os escolásticos em sua Disputatio contra scholasticam theologiam. Martinho Lutero, “Debate sobre a Teologia Escolástica” in: Obras Selecionadas – Os primórdios escritos de 1517-1519 (São Leopoldo, Editora Sinodal & Concórdia Editora, 1987), vol. 1, pp. 13-20. Nota do tradutor.
[4] Jo 6:45.
[5] Lutero está fazendo menção a Orígenes, conhecido pelo seu método alegórico, segundo a Escola de Alexandria. Nota do tradutor.
[6] Karlstadt (Andreas Rudolf Karlstadt, 1480-1541). A opinião de Lutero é dos primeiros anos, quando Karlstadt era seu defensor sem restrições. Depois, por interpretações pessoais da Escritura, distanciou-se de Lutero na doutrina e nas práticas eucarísticas, sobressaindo-lhe, chegando a posturas sócio-religiosas “iluminadas”. Terminou como um dos personagens mais odiados por Lutero, sobretudo desde 1523. Cf. E. Hertzsch, Karlstadt und seine Bedeutung für das Luthertum, Gotha 1932.
[7] Refere-se a Apologia contra L. d’Etaples, editada em 1517, e a controvérsia entre ambos a propósito de determinados problemas da carta aos Hebreus.
Traduzido de Teófanes Egido, org., Lutero – Obras (Salamanca, Ediciones Síguime, 4ª ed., 2006), pp. 374-376.
Tradução com introdução e notas em 22 de Fevereiro de 2014.
Rev. Ewerton B. Tokashiki
Pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Porto Velho
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