segunda-feira, 19 de março de 2018

Sobre a predestinação

Por João Calvino


Antes que o primeiro homem fosse criado, Deus por um decreto determinou o que aconteceria a toda a raça humana.

Através deste oculto decreto de Deus, foi decidido que Adão cairia do seu perfeito estado de sua natureza e arrastaria toda a sua posteridade em culpa e morte eterna.

Sobre o mesmo decreto penderia a discriminação entre o eleito e o réprobo: pois, alguns Ele para si mesmo adotou para a salvação; no entanto, Ele destinou outros para a destruição eterna.

Apesar do réprobo ser vaso da justa vingança de Deus e, o eleito ser vaso de misericórdia, todavia, não há outra causa da discriminação encontrada em Deus, senão a sua simples vontade, a qual é a suprema regra de justiça.

Apesar disto, é pela fé que o eleito recebe a graça da adoção, todavia, a eleição não depende da fé, mas é anterior a ela em tempo e em ordem.

Portanto, a origem e perseverança da fé decorrem da gratuita eleição de Deus, sendo que nenhum outro é verdadeiramente iluminado com fé, nem são dotados com o Espírito de regeneração, a não ser aqueles que Deus tenha escolhido: mas, o réprobo inevitavelmente mantém-se em sua escuridão e distante queda da fé, mesmo que haja qualquer coisa boa nele.

Apesar de sermos escolhidos em Cristo, todavia, o Senhor que considera-nos entre os seus, está ordenado para si fazer-nos membros de Cristo.

Apesar da vontade de Deus ser a suprema e primeira causa de todas as coisas, e Deus dirigir o demônio e todos os ímpios segundo a sua vontade, entretanto, a Deus nunca pode ser atribuído a causa do pecado, nem a autoria do mal, nem é Ele aberto para alguma culpa.

Apesar de Deus ser verdadeiramente hostil ao pecado e condenar todo a iniquidade dos homens, pois lhe são ofensivos, todavia, não acontecem meramente pela sua permissão revelada, mas pela sua vontade e decreto secreto em que todas as coisas ocorrem e os homens são governados.

Apesar do demônio e réprobos serem servos e instrumentos para conduzir suas decisões secretas, entretanto, de uma maneira incompreensível, Deus assim opera neles, e através deles, ao restringir sem, todavia, contaminar-se com o seu vício, porque a sua malícia é usada num justo e correto caminho para um bom propósito, apesar da maneira como é feito, muitas vezes para nós isto é ocultado.

Eles agem ignorantes e com calúnias, ao dizer que Deus se torna o autor do pecado, se todas as coisas ocorrem pela sua vontade e ordenança; pois, não distinguem entre a obstinada depravação dos homens e os ocultos desígnios de Deus.



Extraído de B.B. Warfield, Studies in Theology (Grand Rapids, Baker Books, 2002), pp. 193-194

Traduzido por Rev. Ewerton B. Tokashiki

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