Por Martinho Lutero
O serviço de adoração que agora está em uso comum em todos os lugares remonta ao começo genuíno cristão, e do mesmo modo, o ofício da pregação. Mas assim como este foi pervertido pelos tiranos espirituais, assim o culto foi corrompido pelos hipócritas. Do mesmo modo que não abolimos por essa causa o ofício da pregação, senão que buscamos restaurá-lo outra vez ao seu lugar correto e próprio, muito menos é nossa intenção eliminar o culto, mas sim restaurá-lo novamente ao seu uso devido.
Três sérios abusos foram introduzidos no culto. Primeiro, silenciou-se a Palavra de Deus, e permaneceram somente a leitura e o cântico nas igrejas, o qual é o pior abuso. Segundo, quando se silencio a Palavra de Deus introduziram uma multidão de fábulas e mentiras não cristãs, com lendas, hinos e sermões que é algo horrível de suportar. Terceiro, tal culto divino se converteu numa obra pela qual se poderia ganhar a graça de Deus e a salvação. Como resultado, desapareceu a fé e todos se esforçavam por entrar no sacerdócio, encheram os conventos e os monastérios, e construíram igrejas.
Agora para corrigir estes abusos, primeiro deve-se saber que uma congregação cristã nunca deve se reunir sem a pregação da Palavra de Deus e a oração, ainda que seja breve, como diz o Salmo 102.21-22: "Para que publique em Sião o nome de Jehová, e seu louvor em Jerusalém, quando os povos e os reinos se congregarem para servir a Jehová". E Paulo em 1 Coríntios 14 diz que quando se reunirem deverá haver profecia, ensino e admoestação. Assim, quando não há pregação da Palavra de Deus, melhor que nem se cante, nem leiam, nem sequer se reúnam.
Este foi o costume entre os cristãos do tempo dos apóstolos e também se deve praticar agora. Devemos nos reunir diariamente às quatro ou cinco da manhã e os alunos, ou sacerdotes, ou quem quiser, para ler a Palavra de Deus, da maneira em que, todavia, se lê a lição matinal; isto o devem fazer um ou dois, ou de modo responsivo entre dois indivíduos ou coros, como melhor lhes parecer.
Logo o pregador, ou quem quer que seja que se tenha nomeado, se adiantará e interpretará uma parte da lição, para que todos entendam e a aprendam e sejam admoestados. Ao primeiro Paulo chama "falar em línguas", ao outro o chama "interpretar" ou "profetizar", ou "falar com o sentido ou entendimento". Se não fizerem assim, a congregação não receberá o benefício da lição, como ocorre nos monastérios e nos conventos, onde somente gritavam às paredes.
A lição deve ser extraída do Antigo Testamento. Deve-se selecionar um dos livros e ler um ou dois capítulos, ou a metade de um capítulo até terminar o livro. Depois selecionar outro livro, e prosseguir assim até que se faça a leitura de toda a Bíblia. E quando não se entender o texto, seguir adiante, e dar glória a Deus. Assim com o treinamento diário o povo cristão chegará a estar adestrado e bem versado na Bíblia. Porque deste modo se formaram cristãos genuínos como nos tempos anteriores - tanto virgens como mártires poderão se formar hoje.
Após a duração de meia hora ou algo assim, a lição e sua interpretação, a congregação se unirá em dar graças a Deus, louvá-lo, e orar pelos frutos da Palavra, etc. Para isto debem usar os Salmos e alguns bons responsórios e antífonas. Em resumo, que tudo termine em uma hora, ou o tempo que for conveniente; porque não se deve sobrecarregar as almas, nem cansá-las, como sobrecarregam como mulas nos monastérios e conventos atualmente.
Desse modo, reúnam-se às cinco ou seis da tarde. A esta hora realmente se deve ler outra vez o Antigo Testamento, livro por livro, ou seja, os profetas, assim como Moisés e os livros históricos se consideram na manhã. Mas sendo que também o Novo Testamento é um livro, permito a leitura do Antigo Testamento na manhã e do Novo Testamento à tarde, ou vice e versa, e a leitura, interpretação, louvor, cânticos e oração pela manhã, também por uma hora. Porque a única coisa importante é que se permita trabalhar a Palavra de Deus para elevar e vivificar as almas para que não se cansem. Se desejarem celebrar outro culto similar durante o dia, após o almoço, é um assunto de livre escolha. E ainda que toda a congregação não participe destes cultos diários, os sacerdotes e alunos, e especialmente aqueles de quem se espera, que serão bons pregadores e pastores, devem estar presentes. E deve-se admoestá-los a fazer isto voluntariamente, não por constrangimento ou forçados, ou para obter um prêmio temporal ou eterno, mas somente para a glória de Deus e o bem-estar do próximo.
Além destes cultos diários para um grupo mais reduzido, toda a congregação deve se reunir aos Domingos, e deve cantar a missa e vésperas como é de costume. Em ambos os cultos se pregará para toda a congregação, na parte da manhã sobre o evangelho do dia, e à tarde sobre a epístola; ou o pregador pode usar seu discernimento para determinar se quer pregar sobre certo livro, ou dois. Se alguém deseja receber o sacramento neste tempo, que seja administrado num horário que seja conveniente a todos os interessados.
Devem descontinuar completamente as missas diárias. Porque a Palavra é mais importante e não a missa. Mas se alguém desejar o sacramento durante a semana, que se celebre a misa quando houver a inclinação e a oportunidade. Porque neste assunto não se pode estabelecer regras definitivas.
Que se retenham os cantos nas missas dominicais e vésperas, mesmo que sejam bastante boas e tomadas da Escritura. Todavia, pode-se aumentar ou diminuir o seu número. Mas selecionar os cânticos para os cultos diários da manhã e à tarde será o dever do pastor e pregador. Porque cada manhã determinará um responsório, ou antífona, digno com uma coleta, e o mesmo para a tarde, e com isto se lerá e cantará publicamente após a lição e exposição. Mas momentaneamente podemos eliminar as antífonas, responsórios, e as coletas, do mesmo modo que as lendas dos santos e da cruz, até que sejam purificados, porque há uma terrível quantidade de imundícia neles.
As festas dos santos devem ser descontinuadas, ou onde houver uma boa lenda cristã, se poderá insertar como um exemplo após a leitura do evangelho do Domingo. Podem continuar as festas da purificação e a anunciação de Maria, e pelo momento também sua assunção e natividade, ainda que os cânticos que são usados nelas não sejam puros. A festa de João Batista também é pura. Nenhuma das lendas dos apóstolos é pura, exceto a de são Paulo. Podem ser transferidas para o Domingo mais próximo, ou celebrar separadamente, se assim desejarem.
Outros assuntos se ajustarão segundo surja a necessidade. Para resumir tudo: que tudo se faça para que a Palavra tenha liberdade de atuar, em vez de palavrear como é a regra até agora. Podemos deixar tudo, menos a Palavra. Por outro lado, nada é tão proveitoso como a Palavra. Porque toda a Escritura mostra que a Palavra deve ter liberdade para atuar entre os cristãos. E em Lucas 10, o próprio Cristo disse: "uma coisa é necessária", ou seja, que Maria se sentasse aos pés de Cristo e ouvisse diariamente a sua palavra. Esta é a melhor parte para escolher e nunca lhe será tirada. É uma palavra eterna. Tudo o mais passará, não importa quanto cuidado e esforço Marta dê. Deus nos ajude a alcançar isso. Amém.
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quarta-feira, 29 de agosto de 2018
sábado, 30 de dezembro de 2017
Capítulo XIII - O regulamento das cerimônias
Uma terceira coisa comum nas cerimônias dos cristãos é o arranjo e regulação das formas de adoração entre as santas congregações de Cristo, como o ministério da Palavra, os sacramentos, a disciplina de Cristo, as orações e os salmos para que estes possam ser ministrados e comunicados a todos reverentemente, "com decência e ordem" (1 Co 14.40), para a verdadeira edificação da fé. Nessa questão, as igrejas de Cristo devem ter a sua liberdade para que cada uma possa definir o conteúdo e o método de apresentação das leituras sagradas, as interpretações das Escrituras, a catequização, a administração dos sacramentos, as orações e os salmos, e também a correção pública dos pecadores, a imposição de penas e reconciliação daqueles que satisfazem as igrejas no cumprimento das penas, tudo de tal forma que cada igreja julgue ser de maior proveito para o seu povo, de modo que, como resultado dessas atividades, eles possam ser conduzidos a um verdadeiro e vivo arrependimento, e fortalecidos e desenvolvam a fé em Cristo. No entanto, em qualquer país ou domínio da Igreja, onde as características dos homens não variam muito, essas coisas podem ser convenientemente observadas com a maior conformidade possível, não só por amor da beleza, mas também para produzir uma boa opinião das formas de culto cristão.
Martin Bucer, De Regno Christi in: Wilhelm Pauck, ed., Melanchthon and Bucer (Louisville, Westminster John Knox Press, 2006), pp. 255-256.
Martin Bucer, De Regno Christi in: Wilhelm Pauck, ed., Melanchthon and Bucer (Louisville, Westminster John Knox Press, 2006), pp. 255-256.
quinta-feira, 13 de março de 2014
A carta de João Calvino para Martinho Lutero [1545]
21 de Janeiro de 1545
Ao mui excelente pastor da Igreja Cristã, Dr M. Lutero,[1] meu tão respeitado pai.
Quando disse que meus compatriotas franceses,[2] que muitos deles foram tirados da obscuridade do Papado para a autêntica fé, nada alteraram da sua pública profissão,[3] e que eles continuam a corromper-se com a sacrílega adoração dos Papistas, como se eles nunca tivessem experimentado o sabor da verdadeira doutrina, fui totalmente incapaz de conter-me de reprovar tão grande preguiça e negligência, no modo que pensei que ela merece.
O que de fato está fazendo esta fé que mente sepultando no coração, senão romper com a confissão de fé? Que espécie de religião pode ser esta, que mentindo submerge sob semelhante idolatria? Não me comprometo, todavia, de tratar o argumento aqui, pois já o tenho feito de modo mais extenso em dois pequenos tratados, e que, se não te for incomodo olha-los, perceberá o que penso com maior clareza em ambos, e através da sua leitura encontrará as razões pelas quais tenho me forçado a formar tais opiniões; de fato, muitos do nosso povo, até aqui estavam em profundo sono numa falsa segurança, mas foram despertados, começando a considerar o que eles deveriam fazer. Mas, por isso que é difícil ignorar toda a consideração que eles têm por mim, para expor as suas vidas ao perigo, ou suscitar o desprazer da humanidade para encontrar a ira do mundo, ou abandonando as suas expectativas do lar em sua terra natal, ao entrar numa vida de exílio voluntário, eles são impedidos ou expulsos pelas dificuldades duma residência forçada.
Eles têm outros motivos, entretanto, é algo razoável, pelo que se pode perceber que somente buscam encontrar algum tipo de justificativa. Nestas circunstâncias, eles se apegam na incerteza; por isso, eles estão desejosos em ouvir a sua opinião, a qual eles merecem defender com reverência, assim, ela servirá grandemente para confirmar-lhes. Eles têm-me requisitado para enviasse um mensageiro confiável até você, que pudesse registrar a sua resposta para nós sobre esta questão. Pois, penso que foi de grande consequência para eles ter o benefício de sua autoridade, para que não continuem vacilando; e eu mesmo estou convicto desta necessidade, estive relutante de recusar o que eles solicitaram.
Agora, entretanto, mui respeitado pai, no Senhor, eu suplico a ti, por Cristo, que você não despreze receber a preocupação para sua causa e minha; primeiro, que você pudesse ler atentamente a epístola escrita em seu nome, e meus pequenos livros, calmamente e nas horas livres, ou que pudesse solicitar a alguém que se ocupasse em ler, e repassasse a substância deles a você. Por último, que você escrevesse e nos enviasse de volta a sua opinião em poucas palavras.[4] De fato, estive indisposto em incomodar você em meio a tantos fardos e vários empreendimentos; mas tal é o seu senso de justiça, que você não poderia supor que eu faria isto a menos que compelido pela necessidade do caso; entretanto, confio que você me perdoará.
Quão bom seria se eu pudesse voar até você, pudera eu em poucas horas desfrutar da alegria da sua companhia; pois, preferiria, e isto seria muito melhor, conversar pessoalmente com você não somente nesta questão, mas também sobre outras; mas, vejo que isto não é possível nesta terra, mas espero que em breve venha a ser no reino de Deus.
Adeus, mui renomado senhor, mui distinto ministro de Cristo, e meu sempre honrado pai.[5] O Senhor te governe até o fim, pelo seu próprio Espírito, que você possa perseverar continuamente até o fim, para o benefício e bem comum de sua própria Igreja.
NOTAS:
[1] O especial interesse por esta carta, pelo que sabemos, é que ela parece ser a única que Calvino escreveu a Lutero.
[2] Calvino se refere aos huguenotes que embora haviam assumido o compromisso com a Confissão de Fé La Rochelle, mas na prática ainda preservavam os ídolos e toda a pompa e ritual da missa católica romana. Esta prática evidenciava uma incoerência entre o ato e a convicção de fé.
[3] Calvino se refere ao culto como uma confissão pública de fé.
[4] Outros escritos de Calvino já eram conhecidos de Lutero. Na carta 42 – Para Farel, escrita em Estrasburgo, em 20 de Novembro de 1539, Calvino cita que Lutero numa carta a Martin Bucer teria escrito que “saúde reverentemente à Sturm e a Calvino, acerca daqueles livros que li com deleite” veja em The Selected Works of John Calvin vol. 4 – Letters 1528-1545 (Albany, Ages Software, 1998), pp. 161-612.
[5] Filipe Melanchthon não entregou esta carta com estes novos livros para Lutero temendo que ele viesse a antipatizar-se com as opiniões de Calvino sobre a Ceia do Senhor. Entretanto, Calvino não tinha este temor. Herman J. Selderhuis observa que “a apreciação por Lutero permaneceria, e – de acordo com Calvino – mesmo que Lutero pudesse chamar Calvino de demônio, e mesmo assim Calvino poderia honrar e descrevê-lo como um especial servo de Deus.” Herman J. Selderhuis, ed., The Calvin Handbook (Grand Rapids, Wm. Eerdmans Publishing Co., 2009), p. 58.
Extraído de Letters of John Calvin: Select from the Bonnet Edition with an introductory biographical sketch (Edinburgh, The Banner of Truth Trust, 1980), pp. 71-73. Esta carta também pode ser encontrada em Selected Works of John Calvin: Tracts and Letters, vol. 4, pp. 440-442.
Revisado e acrecido novas notas em 13 de Março de 2014.
Rev. Ewerton B.Tokashiki
Ao mui excelente pastor da Igreja Cristã, Dr M. Lutero,[1] meu tão respeitado pai.
Quando disse que meus compatriotas franceses,[2] que muitos deles foram tirados da obscuridade do Papado para a autêntica fé, nada alteraram da sua pública profissão,[3] e que eles continuam a corromper-se com a sacrílega adoração dos Papistas, como se eles nunca tivessem experimentado o sabor da verdadeira doutrina, fui totalmente incapaz de conter-me de reprovar tão grande preguiça e negligência, no modo que pensei que ela merece.
O que de fato está fazendo esta fé que mente sepultando no coração, senão romper com a confissão de fé? Que espécie de religião pode ser esta, que mentindo submerge sob semelhante idolatria? Não me comprometo, todavia, de tratar o argumento aqui, pois já o tenho feito de modo mais extenso em dois pequenos tratados, e que, se não te for incomodo olha-los, perceberá o que penso com maior clareza em ambos, e através da sua leitura encontrará as razões pelas quais tenho me forçado a formar tais opiniões; de fato, muitos do nosso povo, até aqui estavam em profundo sono numa falsa segurança, mas foram despertados, começando a considerar o que eles deveriam fazer. Mas, por isso que é difícil ignorar toda a consideração que eles têm por mim, para expor as suas vidas ao perigo, ou suscitar o desprazer da humanidade para encontrar a ira do mundo, ou abandonando as suas expectativas do lar em sua terra natal, ao entrar numa vida de exílio voluntário, eles são impedidos ou expulsos pelas dificuldades duma residência forçada.
Eles têm outros motivos, entretanto, é algo razoável, pelo que se pode perceber que somente buscam encontrar algum tipo de justificativa. Nestas circunstâncias, eles se apegam na incerteza; por isso, eles estão desejosos em ouvir a sua opinião, a qual eles merecem defender com reverência, assim, ela servirá grandemente para confirmar-lhes. Eles têm-me requisitado para enviasse um mensageiro confiável até você, que pudesse registrar a sua resposta para nós sobre esta questão. Pois, penso que foi de grande consequência para eles ter o benefício de sua autoridade, para que não continuem vacilando; e eu mesmo estou convicto desta necessidade, estive relutante de recusar o que eles solicitaram.
Agora, entretanto, mui respeitado pai, no Senhor, eu suplico a ti, por Cristo, que você não despreze receber a preocupação para sua causa e minha; primeiro, que você pudesse ler atentamente a epístola escrita em seu nome, e meus pequenos livros, calmamente e nas horas livres, ou que pudesse solicitar a alguém que se ocupasse em ler, e repassasse a substância deles a você. Por último, que você escrevesse e nos enviasse de volta a sua opinião em poucas palavras.[4] De fato, estive indisposto em incomodar você em meio a tantos fardos e vários empreendimentos; mas tal é o seu senso de justiça, que você não poderia supor que eu faria isto a menos que compelido pela necessidade do caso; entretanto, confio que você me perdoará.
Quão bom seria se eu pudesse voar até você, pudera eu em poucas horas desfrutar da alegria da sua companhia; pois, preferiria, e isto seria muito melhor, conversar pessoalmente com você não somente nesta questão, mas também sobre outras; mas, vejo que isto não é possível nesta terra, mas espero que em breve venha a ser no reino de Deus.
Adeus, mui renomado senhor, mui distinto ministro de Cristo, e meu sempre honrado pai.[5] O Senhor te governe até o fim, pelo seu próprio Espírito, que você possa perseverar continuamente até o fim, para o benefício e bem comum de sua própria Igreja.
NOTAS:
[1] O especial interesse por esta carta, pelo que sabemos, é que ela parece ser a única que Calvino escreveu a Lutero.
[2] Calvino se refere aos huguenotes que embora haviam assumido o compromisso com a Confissão de Fé La Rochelle, mas na prática ainda preservavam os ídolos e toda a pompa e ritual da missa católica romana. Esta prática evidenciava uma incoerência entre o ato e a convicção de fé.
[3] Calvino se refere ao culto como uma confissão pública de fé.
[4] Outros escritos de Calvino já eram conhecidos de Lutero. Na carta 42 – Para Farel, escrita em Estrasburgo, em 20 de Novembro de 1539, Calvino cita que Lutero numa carta a Martin Bucer teria escrito que “saúde reverentemente à Sturm e a Calvino, acerca daqueles livros que li com deleite” veja em The Selected Works of John Calvin vol. 4 – Letters 1528-1545 (Albany, Ages Software, 1998), pp. 161-612.
[5] Filipe Melanchthon não entregou esta carta com estes novos livros para Lutero temendo que ele viesse a antipatizar-se com as opiniões de Calvino sobre a Ceia do Senhor. Entretanto, Calvino não tinha este temor. Herman J. Selderhuis observa que “a apreciação por Lutero permaneceria, e – de acordo com Calvino – mesmo que Lutero pudesse chamar Calvino de demônio, e mesmo assim Calvino poderia honrar e descrevê-lo como um especial servo de Deus.” Herman J. Selderhuis, ed., The Calvin Handbook (Grand Rapids, Wm. Eerdmans Publishing Co., 2009), p. 58.
Extraído de Letters of John Calvin: Select from the Bonnet Edition with an introductory biographical sketch (Edinburgh, The Banner of Truth Trust, 1980), pp. 71-73. Esta carta também pode ser encontrada em Selected Works of John Calvin: Tracts and Letters, vol. 4, pp. 440-442.
Revisado e acrecido novas notas em 13 de Março de 2014.
Rev. Ewerton B.Tokashiki
sexta-feira, 7 de março de 2014
Ato e uso da Santa Ceia do Senhor por Hulrich Zwingli [1525]
O TEXTO[1]
O profeta[2] ou pastor[3] orará de frente para o povo[4] com voz imposta e clara,[5] dizendo:
Oh! Deus onipotente e eterno, a quem honram como é devido a todas as criaturas, a quem adoram e louvam como Fazedor, Criador e Pai; concede-nos, nós que somos pobres pecadores, o que fielmente e com fé celebramos, louvando-te, com ações de graças que o teu Filho Unigênito, o nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, ordenou aos crentes em memória de sua morte. Em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, o teu Filho, que contigo vive e reina em união com o Espírito Santo, Deus de toda eternidade. Amém.
O diácono ou leitor dirá com voz imposta, assim: o que vamos ler está escrito na 1ª Epístola de Paulo aos Coríntios, capítulo 11. (é realizada a leitura da Escritura).
Os diáconos e toda a congregação, declaram em seguida: Louvado seja Deus!
O cântico[6] de louvor será iniciado pelo pastor com a primeira estrofe e então todo o povo, homens e mulheres,[7] recitarão uma estrofe após a outra:
Pastor: Glória a Deus nas alturas!
Homens: E paz na terra!
Mulheres: E aos homens de boa vontade!
Homens: Louvamos e exaltamos a Ti.
Mulheres: Adoramos e honramos a Ti.
Homens: Damos graças por tua grande glória e tua bondade, oh! Senhor e Deus, rei dos céus, Pai e onipotente!
Mulheres: Oh! Senhor, Filho Unigênito, Jesus Cristo e Espírito Santo.
Homens: Oh! Senhor, Deus, tu Cordeiro de Deus, Filho do Pai, que tira o pecado do mundo, tem compaixão de nós.
Mulheres: Tu que tiras os pecados do mundo, aceita a nossa oração.
Homens: Tu que estás assentado à direita do Pai, tem compaixão de nós.
Mulheres: Pois somente Tu és santo.
Homens: Somente Tu és Senhor.
Mulheres: Somente Tu és o Altíssimo, Jesus Cristo com o Espírito Santo na glória de Deus Pai.
Homens e mulheres: Amém.
Agora o diácono diz ao leitor: O Senhor seja convosco!
O povo responde: E com o teu espírito.
Leitor: A leitura do Evangelho se encontra escrita no evangelho de João, capítulo 6.
O povo responde: Louvado seja Deus!
Leitura bíblica: (Jo 6:47-63)[8]
Em verdade, em verdade vos digo: quem crê em mim tem a vida eterna. Eu sou o pão da vida. Vossos pais comeram o maná no deserto e morreram. Este é o pão que desce do céu, para que todo o que dele comer não pereça. Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém dele comer, viverá eternamente; e o pão que eu darei pela vida do mundo é a minha carne. Disputavam, pois, os judeus entre si, dizendo: Como pode este dar-nos a comer a sua própria carne? Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tendes vida em vós mesmos. Quem comer a minha carne e beber o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdadeira comida, e o meu sangue é verdadeira bebida. Quem comer a minha carne e beber o meu sangue permanece em mim, e eu, nele. Assim como o Pai, que vive, me enviou, e igualmente eu vivo pelo Pai, também quem de mim se alimenta por mim viverá. Este é o pão que desceu do céu, em nada semelhante àquele que os vossos pais comeram e, contudo, morreram; quem comer este pão viverá eternamente. Estas coisas disse Jesus, quando ensinava na sinagoga de Cafarnaum. Muitos dos seus discípulos, tendo ouvido tais palavras, disseram: Duro é este discurso; quem o pode ouvir? Mas Jesus, sabendo por si mesmo que eles murmuravam a respeito de suas palavras, interpelou-os: Isto vos escandaliza? Que será, pois, se virdes o Filho do Homem subir para o lugar onde primeiro estava? O espírito é o que vivifica; a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida.
Leitor (após a leitura, ele beija o livro) diz: Demos louvor e graças! Que Ele conforme a sua santa palavra perdoe todos os nossos pecados.
O povo responde: Amém.
O diácono:[9] Creio em Deus Pai, Todo-Poderoso, Criador do céu e da terra.
Homens: Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor,
Mulheres: o qual foi concebido do Espírito Santo,
Homens: nasceu da Virgem Maria,
Mulheres: padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos,
Homens: foi crucificado, morto e sepultado, desceu aos infernos,
Mulheres: no terceiro dia ressuscitou dos mortos,
Homens: subiu aos céus, está sentado à destra de Deus, o Pai onipotente,
Mulheres: donde há de vir para julgar os vivos e os mortos.
Homens: Creio no Espírito Santo,
Mulheres: na santa igreja católica,
Homens: na comunhão dos santos,
Mulheres: na remissão dos pecados,
Homens: na ressurreição da carne
Mulheres: e na vida eterna.
O povo: Amém.
Diácono: Agora, amados irmãos, vamos comer o pão e beber conforme a instituição de nosso Senhor Jesus Cristo e como ele ordenou: Em sua memória, com louvor e ações de graças por ter morrido por nós e derramado o seu sangue lavando com ele os nossos pecados. Portanto, que cada um pense, segundo admoesta Paulo, que consolo, que fé e confiança tem em nosso senhor Jesus Cristo, a fim de que ninguém considere-se crente, não sendo, e por não ser se faça culpado da morte do Senhor e peque contra toda a Igreja cristã, que é o corpo de Cristo. Ajoelhai-vos e orai:
Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome;
Venha o teu reino,
Faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu;
O pão nosso de cada dia dá-nos hoje;
E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores;
E não nos deixes cair em tentação;
Mas livra-nos do mal.[10]
O povo responde: Amém.
Diácono: Oh! Senhor, Deus onipotente, que por teu Espírito nos concedeu estar unidos na mesma fé, e com isto fez que sejamos o teu corpo: a este corpo tem ordenado que te louve, e lhe dê graças pelo bem e generoso bem que tem recebido, entregando o teu Filho Unigênito, o nosso Senhor Jesus Cristo. Outorgando-nos que fielmente te louvemos e demos graças e não provoquemos com hipocrisia ou falsidade a verdade que não consente com enganos. Concede-nos também o poder viver em pureza, como corresponde a teu corpo, aos que fez membros de tua família e teus filhos, a fim de que igualmente os incrédulos aprendam reconhecer o teu nome e a tua honra. Senhor guarda-nos de que por nossa causa, o teu nome e honras sejam escarnecidos; Senhor aumenta continuamente a nossa fé, ou seja, a nossa confiança em Ti, que vives e governas, Deus de toda a eternidade. Amém.
Diácono: (leitura de 1 Co 11:23-34)[11]
Porque eu recebi do Senhor o que também vos entreguei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; e, tendo dado graças, o partiu e disse: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim. Por semelhante modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é a nova aliança no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim. Porque, todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha. Por isso, aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor, indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e, assim, coma do pão, e beba do cálice; pois quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si. Eis a razão por que há entre vós muitos fracos e doentes e não poucos que dormem. Porque, se nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados. Mas, quando julgados, somos disciplinados pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo. Assim, pois, irmãos meus, quando vos reunis para comer, esperai uns pelos outros. Se alguém tem fome, coma em casa, a fim de não vos reunirdes para juízo. Quanto às demais coisas, eu as ordenarei quando for ter convosco.
Terminada a leitura, os diáconos reconhecidos como tais, oferecem o pão ázimo a todos, e que cada crente pegue com a sua própria mão um pedaço de pão, ou aceite o pão da mão do diácono que o oferece. Uma vez que cada um tenha comido o seu pedaço de pão, os outros diáconos se aproximam com o cálice e de igual modo dão de beber a cada um. E que tudo isto se faça com o respeito e a decência própria da Igreja de Deus, e da Ceia de Cristo.
Logo após comer e beber, seguindo o exemplo de Cristo, declarem o Salmo 113, com ações de graças. Começará com o pastor.
Pastor: Louvai, oh! Servos do Senhor, louvai o nome do Senhor!
Homens: Louvado seja o nome do Senhor agora e até a eternidade!
Mulheres: Desde que se levante o sol, até o seu repouso seja louvado o nome do Senhor.
Homens: O Senhor é engrandecido sobre todos os povos e sua honra exaltada acima dos céus.
Mulheres: Quem é o Senhor, nosso Deus, que estando tão alto se inclina para olhar os céus e a terra?
Homens: O Senhor que dentre o pó levanta ao humilde, e ao pobre tira da imundícia.
Mulheres: E os assenta com os príncipes, com os príncipes de seu povo.
Homens: O Senhor que a mulher estéril concede a maternidade e faz que tenha alegria nos seus filhos.
Pastor: Senhor, damos-te graças por todos os bens e dádivas; graças, Senhor, que vives e governas, Deus de toda a eternidade.
O povo: Amém.
Pastor: Ide em paz.
NOTAS:
[1] M. Gutiérrez Marín comenta que “o tratado prescreve que a Santa Ceia fosse celebrada quatro vezes por ano (Páscoa da Ressurreição, Pentecostes, o 11 de Setembro, ou seja, quando antes da Reforma se venerava aos santos Félix e Régula, e no Natal)” in: Zuinglio – Antología (Barcelona, Producciones Editoriales del Nordeste, 1973), p. 112. O texto do impresso em Março ou início de Abril, sendo esta liturgia usada pela primeira vez em 13 de Abril de 1525. Nota do tradutor.
[2] Por profeta, Zwingli entendia o “pregador”, e não alguém que pudesse falar novas revelações extra-bíblicas. M. Gutiérrez Marín observa que para ele profecia significava “a profunda investigação da Sagrada Escritura, e isto de modo que os pregadores formados, ou ainda em preparo, estivessem bem preparados.” Zuinglio – Antología, p. 34.
[3] Entre 26 a 28 de Outubro de 1523, Zwingli pregou numa conferência que reuniu cerca de 350 pastores suíços. A pedido de Joachim Vadian, dirigente da Reforma em San Gall, publicou o sermão em 26 de Março de 1524, com o título de “O Pastor.” Este tornou-se um tratado de teologia pastoral. Este sermão será em breve publicado aqui no blog.
[4] A liturgia tradicional católico romana ainda hoje preserva a prática do celebrante no momento de consagrar a hóstia dar as costas para o povo.
[5] Não mais em latim, mas em vernáculo comum.
[6] O uso de instrumentos era ausente no culto da Igreja de Zurique nos dias de Zwingli, apesar ser o reformador um exímio músico sabendo manusear instrumentos como alaúde, harpa, violino, flauta, címbalo, cítara de cordas, também compositor, tendo-se preservado pelo menos 3 hinos de sua autoria. Hannes Reimamm esclarece que Zwingli “não teve tempo de formular uma doutrina sobre o cântico no culto, senão que também com respeito a esta questão encontrava a meio caminho. E isto é próprio de um homem cujas características não eram a imobilidade, mas o dinamismo. O fato dele não conseguir conjugar a música com o culto e ter abolido radicalmente o cântico de Salmos por corais na missa, não significa que quisera abolir para sempre a música e os cânticos nos lugares destinados ao culto.” Hannes Reimamm, “Die Einführung des Kirchengesanges in der Zürcher Kirche nach der Reformation” (Zürich, 1959) citado por M. Gutiérrez Marín, Zuinglio – Antología, p. 111. Interessante notar que a partir de 1533 são impressos 17 hinários diferentes em Zurique. A maioria deles com o título “Salmos e cânticos espirituais”, contendo melodias alemãs e uma parte com o subtítulo “Salmos de Davi” contendo melodias francesas; parte deles eram salmos metrificados, e ainda alguns cânticos compostos por Lutero, e canções adaptadas com letras bíblicas ou doutrinárias. Nota do tradutor.
[7] M. Gutiérrez Marín comenta que “os homens se sentavam no lado direito e as mulheres no lado esquerdo do templo. O pão e o vinho eram servidos em bandejas de madeira, sendo repartido pelos diáconos para a congregação que permanece sentada. Não havia nem música nem cânticos.” Zuinglio – Antología, p. 112.
[8] Optei por citar a versão ARA.
[9] O diácono dá início e em seguida, os homens e as mulheres alternam recitando o Credo Apostólico, e todos juntos findam dizendo: Amém. Nota do tradutor.
[10] A oração do Pai Nosso é feita sem a doxologia da segunda metade do verso 13. Optei por citar a versão ARA. Nota do tradutor.
[11] Optei por citar a versão ARA. Nota do tradutor.
Extraído de M. Gutiérrez Marín, Zuinglio – Antología (Barcelona, Producciones Editorial del Nordeste, 1973), pp. 112-117.
Traduzido em 8 de Setembro de 2010
Revisado em 7 de Março de 2014
Rev. Ewerton B. Tokashiki
Pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Porto Velho
Professor de Teologia Sistemática no SPBC-RO
O profeta[2] ou pastor[3] orará de frente para o povo[4] com voz imposta e clara,[5] dizendo:
Oh! Deus onipotente e eterno, a quem honram como é devido a todas as criaturas, a quem adoram e louvam como Fazedor, Criador e Pai; concede-nos, nós que somos pobres pecadores, o que fielmente e com fé celebramos, louvando-te, com ações de graças que o teu Filho Unigênito, o nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, ordenou aos crentes em memória de sua morte. Em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, o teu Filho, que contigo vive e reina em união com o Espírito Santo, Deus de toda eternidade. Amém.
O diácono ou leitor dirá com voz imposta, assim: o que vamos ler está escrito na 1ª Epístola de Paulo aos Coríntios, capítulo 11. (é realizada a leitura da Escritura).
Os diáconos e toda a congregação, declaram em seguida: Louvado seja Deus!
O cântico[6] de louvor será iniciado pelo pastor com a primeira estrofe e então todo o povo, homens e mulheres,[7] recitarão uma estrofe após a outra:
Pastor: Glória a Deus nas alturas!
Homens: E paz na terra!
Mulheres: E aos homens de boa vontade!
Homens: Louvamos e exaltamos a Ti.
Mulheres: Adoramos e honramos a Ti.
Homens: Damos graças por tua grande glória e tua bondade, oh! Senhor e Deus, rei dos céus, Pai e onipotente!
Mulheres: Oh! Senhor, Filho Unigênito, Jesus Cristo e Espírito Santo.
Homens: Oh! Senhor, Deus, tu Cordeiro de Deus, Filho do Pai, que tira o pecado do mundo, tem compaixão de nós.
Mulheres: Tu que tiras os pecados do mundo, aceita a nossa oração.
Homens: Tu que estás assentado à direita do Pai, tem compaixão de nós.
Mulheres: Pois somente Tu és santo.
Homens: Somente Tu és Senhor.
Mulheres: Somente Tu és o Altíssimo, Jesus Cristo com o Espírito Santo na glória de Deus Pai.
Homens e mulheres: Amém.
Agora o diácono diz ao leitor: O Senhor seja convosco!
O povo responde: E com o teu espírito.
Leitor: A leitura do Evangelho se encontra escrita no evangelho de João, capítulo 6.
O povo responde: Louvado seja Deus!
Leitura bíblica: (Jo 6:47-63)[8]
Em verdade, em verdade vos digo: quem crê em mim tem a vida eterna. Eu sou o pão da vida. Vossos pais comeram o maná no deserto e morreram. Este é o pão que desce do céu, para que todo o que dele comer não pereça. Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém dele comer, viverá eternamente; e o pão que eu darei pela vida do mundo é a minha carne. Disputavam, pois, os judeus entre si, dizendo: Como pode este dar-nos a comer a sua própria carne? Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tendes vida em vós mesmos. Quem comer a minha carne e beber o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdadeira comida, e o meu sangue é verdadeira bebida. Quem comer a minha carne e beber o meu sangue permanece em mim, e eu, nele. Assim como o Pai, que vive, me enviou, e igualmente eu vivo pelo Pai, também quem de mim se alimenta por mim viverá. Este é o pão que desceu do céu, em nada semelhante àquele que os vossos pais comeram e, contudo, morreram; quem comer este pão viverá eternamente. Estas coisas disse Jesus, quando ensinava na sinagoga de Cafarnaum. Muitos dos seus discípulos, tendo ouvido tais palavras, disseram: Duro é este discurso; quem o pode ouvir? Mas Jesus, sabendo por si mesmo que eles murmuravam a respeito de suas palavras, interpelou-os: Isto vos escandaliza? Que será, pois, se virdes o Filho do Homem subir para o lugar onde primeiro estava? O espírito é o que vivifica; a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida.
Leitor (após a leitura, ele beija o livro) diz: Demos louvor e graças! Que Ele conforme a sua santa palavra perdoe todos os nossos pecados.
O povo responde: Amém.
O diácono:[9] Creio em Deus Pai, Todo-Poderoso, Criador do céu e da terra.
Homens: Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor,
Mulheres: o qual foi concebido do Espírito Santo,
Homens: nasceu da Virgem Maria,
Mulheres: padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos,
Homens: foi crucificado, morto e sepultado, desceu aos infernos,
Mulheres: no terceiro dia ressuscitou dos mortos,
Homens: subiu aos céus, está sentado à destra de Deus, o Pai onipotente,
Mulheres: donde há de vir para julgar os vivos e os mortos.
Homens: Creio no Espírito Santo,
Mulheres: na santa igreja católica,
Homens: na comunhão dos santos,
Mulheres: na remissão dos pecados,
Homens: na ressurreição da carne
Mulheres: e na vida eterna.
O povo: Amém.
Diácono: Agora, amados irmãos, vamos comer o pão e beber conforme a instituição de nosso Senhor Jesus Cristo e como ele ordenou: Em sua memória, com louvor e ações de graças por ter morrido por nós e derramado o seu sangue lavando com ele os nossos pecados. Portanto, que cada um pense, segundo admoesta Paulo, que consolo, que fé e confiança tem em nosso senhor Jesus Cristo, a fim de que ninguém considere-se crente, não sendo, e por não ser se faça culpado da morte do Senhor e peque contra toda a Igreja cristã, que é o corpo de Cristo. Ajoelhai-vos e orai:
Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome;
Venha o teu reino,
Faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu;
O pão nosso de cada dia dá-nos hoje;
E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores;
E não nos deixes cair em tentação;
Mas livra-nos do mal.[10]
O povo responde: Amém.
Diácono: Oh! Senhor, Deus onipotente, que por teu Espírito nos concedeu estar unidos na mesma fé, e com isto fez que sejamos o teu corpo: a este corpo tem ordenado que te louve, e lhe dê graças pelo bem e generoso bem que tem recebido, entregando o teu Filho Unigênito, o nosso Senhor Jesus Cristo. Outorgando-nos que fielmente te louvemos e demos graças e não provoquemos com hipocrisia ou falsidade a verdade que não consente com enganos. Concede-nos também o poder viver em pureza, como corresponde a teu corpo, aos que fez membros de tua família e teus filhos, a fim de que igualmente os incrédulos aprendam reconhecer o teu nome e a tua honra. Senhor guarda-nos de que por nossa causa, o teu nome e honras sejam escarnecidos; Senhor aumenta continuamente a nossa fé, ou seja, a nossa confiança em Ti, que vives e governas, Deus de toda a eternidade. Amém.
Diácono: (leitura de 1 Co 11:23-34)[11]
Porque eu recebi do Senhor o que também vos entreguei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; e, tendo dado graças, o partiu e disse: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim. Por semelhante modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é a nova aliança no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim. Porque, todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha. Por isso, aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor, indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e, assim, coma do pão, e beba do cálice; pois quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si. Eis a razão por que há entre vós muitos fracos e doentes e não poucos que dormem. Porque, se nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados. Mas, quando julgados, somos disciplinados pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo. Assim, pois, irmãos meus, quando vos reunis para comer, esperai uns pelos outros. Se alguém tem fome, coma em casa, a fim de não vos reunirdes para juízo. Quanto às demais coisas, eu as ordenarei quando for ter convosco.
Terminada a leitura, os diáconos reconhecidos como tais, oferecem o pão ázimo a todos, e que cada crente pegue com a sua própria mão um pedaço de pão, ou aceite o pão da mão do diácono que o oferece. Uma vez que cada um tenha comido o seu pedaço de pão, os outros diáconos se aproximam com o cálice e de igual modo dão de beber a cada um. E que tudo isto se faça com o respeito e a decência própria da Igreja de Deus, e da Ceia de Cristo.
Logo após comer e beber, seguindo o exemplo de Cristo, declarem o Salmo 113, com ações de graças. Começará com o pastor.
Pastor: Louvai, oh! Servos do Senhor, louvai o nome do Senhor!
Homens: Louvado seja o nome do Senhor agora e até a eternidade!
Mulheres: Desde que se levante o sol, até o seu repouso seja louvado o nome do Senhor.
Homens: O Senhor é engrandecido sobre todos os povos e sua honra exaltada acima dos céus.
Mulheres: Quem é o Senhor, nosso Deus, que estando tão alto se inclina para olhar os céus e a terra?
Homens: O Senhor que dentre o pó levanta ao humilde, e ao pobre tira da imundícia.
Mulheres: E os assenta com os príncipes, com os príncipes de seu povo.
Homens: O Senhor que a mulher estéril concede a maternidade e faz que tenha alegria nos seus filhos.
Pastor: Senhor, damos-te graças por todos os bens e dádivas; graças, Senhor, que vives e governas, Deus de toda a eternidade.
O povo: Amém.
Pastor: Ide em paz.
NOTAS:
[1] M. Gutiérrez Marín comenta que “o tratado prescreve que a Santa Ceia fosse celebrada quatro vezes por ano (Páscoa da Ressurreição, Pentecostes, o 11 de Setembro, ou seja, quando antes da Reforma se venerava aos santos Félix e Régula, e no Natal)” in: Zuinglio – Antología (Barcelona, Producciones Editoriales del Nordeste, 1973), p. 112. O texto do impresso em Março ou início de Abril, sendo esta liturgia usada pela primeira vez em 13 de Abril de 1525. Nota do tradutor.
[2] Por profeta, Zwingli entendia o “pregador”, e não alguém que pudesse falar novas revelações extra-bíblicas. M. Gutiérrez Marín observa que para ele profecia significava “a profunda investigação da Sagrada Escritura, e isto de modo que os pregadores formados, ou ainda em preparo, estivessem bem preparados.” Zuinglio – Antología, p. 34.
[3] Entre 26 a 28 de Outubro de 1523, Zwingli pregou numa conferência que reuniu cerca de 350 pastores suíços. A pedido de Joachim Vadian, dirigente da Reforma em San Gall, publicou o sermão em 26 de Março de 1524, com o título de “O Pastor.” Este tornou-se um tratado de teologia pastoral. Este sermão será em breve publicado aqui no blog.
[4] A liturgia tradicional católico romana ainda hoje preserva a prática do celebrante no momento de consagrar a hóstia dar as costas para o povo.
[5] Não mais em latim, mas em vernáculo comum.
[6] O uso de instrumentos era ausente no culto da Igreja de Zurique nos dias de Zwingli, apesar ser o reformador um exímio músico sabendo manusear instrumentos como alaúde, harpa, violino, flauta, címbalo, cítara de cordas, também compositor, tendo-se preservado pelo menos 3 hinos de sua autoria. Hannes Reimamm esclarece que Zwingli “não teve tempo de formular uma doutrina sobre o cântico no culto, senão que também com respeito a esta questão encontrava a meio caminho. E isto é próprio de um homem cujas características não eram a imobilidade, mas o dinamismo. O fato dele não conseguir conjugar a música com o culto e ter abolido radicalmente o cântico de Salmos por corais na missa, não significa que quisera abolir para sempre a música e os cânticos nos lugares destinados ao culto.” Hannes Reimamm, “Die Einführung des Kirchengesanges in der Zürcher Kirche nach der Reformation” (Zürich, 1959) citado por M. Gutiérrez Marín, Zuinglio – Antología, p. 111. Interessante notar que a partir de 1533 são impressos 17 hinários diferentes em Zurique. A maioria deles com o título “Salmos e cânticos espirituais”, contendo melodias alemãs e uma parte com o subtítulo “Salmos de Davi” contendo melodias francesas; parte deles eram salmos metrificados, e ainda alguns cânticos compostos por Lutero, e canções adaptadas com letras bíblicas ou doutrinárias. Nota do tradutor.
[7] M. Gutiérrez Marín comenta que “os homens se sentavam no lado direito e as mulheres no lado esquerdo do templo. O pão e o vinho eram servidos em bandejas de madeira, sendo repartido pelos diáconos para a congregação que permanece sentada. Não havia nem música nem cânticos.” Zuinglio – Antología, p. 112.
[8] Optei por citar a versão ARA.
[9] O diácono dá início e em seguida, os homens e as mulheres alternam recitando o Credo Apostólico, e todos juntos findam dizendo: Amém. Nota do tradutor.
[10] A oração do Pai Nosso é feita sem a doxologia da segunda metade do verso 13. Optei por citar a versão ARA. Nota do tradutor.
[11] Optei por citar a versão ARA. Nota do tradutor.
Extraído de M. Gutiérrez Marín, Zuinglio – Antología (Barcelona, Producciones Editorial del Nordeste, 1973), pp. 112-117.
Traduzido em 8 de Setembro de 2010
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Rev. Ewerton B. Tokashiki
Pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Porto Velho
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