(1)
1. Deus é um espírito, auto-existente desde a eternidade; um em essência, três em pessoa, o Pai, o
Filho e o Espírito Santo.
2. Deus é conhecido em si e em suas obras.
3. Ele é conhecido em si absolutamente em sua essência, e relativamente nas pessoas.
4. A essência de Deus pode ser entendida tanto de seus nomes como de suas propriedades.[1]
5. Os nomes de Deus são baseados em seu ser (Jehovah, Jah, YHWH),[2] que correspondem com a palavra “Senhor” no Novo Testamento [kuriós], ou o seu poder (El e Elohim), ou a sua autoridade auto-suficiente (Shaddai), ou a sua grandiosidade (Elyon).
PROPOSIÇÕES
I. “Jehovah” é o principal e mais importante nome de Deus. Ela procede de uma raiz que significa “ele foi” [fuit], e assim, ele é um símbolo do mais alto de si, de quem foi, e é, e será desde a eternidade a toda eternidade (Ap 1:4-6), e que permanece o mesmo para sempre (Sl 102:27), e ele não pode dar a algum objeto criado, exceto por metonímia, e deste modo eles são símbolos da presença de Deus, tais como o altar (Êx 17:15), a arca (Sl 47:6) e Jerusalém (Ez 48:35).
II. Sendo este nome o que mais foi enfaticamente usado nas promessas e garantias divinas. Entretanto, temos expressões como “assim diz Jehovah”, “a palavra de Jehovah”, etc. Como Deus permanece como ele é, a sua palavra permanece confiável.
III. O nome “Elohim”, apesar de ser plural, é um predicado de Deus não somente pessoal, mas também essencial, e no idioma hebraico ele é um predicado de um Deus e de pessoas individuais ao mesmo tempo. Assim, não existe três “elohims”, ou deuses, mas somente um.
Deste modo, o Credo Atanasiano corretamente declara “o Pai onipotente, o Filho onipotente, e o Espírito Santo onipotente, todavia, não são três onipotentes, mas apenas um”; e embora Deus seja chamado de Elohim por um plural majestático, ele não é três, mas somente um, como em Sl 7:11 Elohim Zaddiq, ou seja “um justo Deus”.
(2)
I. As propriedades divinas são os atributos de Deus, pelos quais ele nos oferece o seu conhecimento, de quão fracos somos e, por meio dos quais ele se distingue das criaturas.
II. As propriedades não são qualidades, ou acidentes em Deus, ou alguma coisa separada de sua essência, ou diferente dela. Isto se tornará evidente abaixo quando tratar da simplicidade de Deus.
III. As propriedades divinas não estão separadas de sua essência, ou uma da outra. Isto destrói a doutrina luterana da transfusão das propriedades divinas na natureza divina de Cristo. Se aquela natureza é para ter a ubiquidade, onisciência e onipotência atribuídas nela, por que também seria o seria a eternidade?[3]
IV. Algumas propriedades não são comunicáveis às criaturas: outras são comunicáveis com efeitos analógicos.
(3)
1. Os atributos da primeira espécie são simplicidade e infinidade. A imutabilidade e perfeição podem ser acrescentadas, mas elas são meros corolários necessários para a simplicidade e infinidade.
2a. Por simplicidade é entendida que Deus é um ser livre de toda composição [de partes].
2b. Por infinidade é entendida que Deus é um verdadeiro ser infinito, bom e cada aspecto e sem fim.
PROPOSIÇÕES
I. Deus é um ser verdadeiro e de simplicidade única. Isto significa que ele não é composto de partes, ou de genus e espécies [differentia], ou de substância e acidentes, ou de potencialidade e atos, ou de ser e essência.
II. Todavia, não há nada em Deus que não seja o próprio Deus.
III. A essência de Deus é incompreensível para nós. A diferença entre o finito e o infinito é de ordem completamente diferente daquela entre um pequeno prato e o oceano.
IV. Deus é abrange todos os pontos de vista: o todo em si, a inteireza de todas as coisas, o tudo de cada coisa particular, e tudo além de cada detalhe.
V. Deus nunca é contido num lugar, nem pode ser limitado a um lugar, nem incluído nele, ou excluído dele, ou de qualquer lugar.
VI. Deus é eterno, sem começo, fim, ou mudança.
3. As propriedades da segunda espécie são vida, que é atribuída à Deus em essência, vontade, atribuída a ele em comando, poder atribuído a ele em ação.
PROPOSIÇÕES
I. As propriedades da segunda ordem são atribuídas a Deus do mesmo modo como as da primeira; que cada uma deve ser entendida como absolutamente simples e infinita.
II. No entanto, eles são predicados de Deus e não apenas de modo concreto, mas também abstratamente. Deus não é somente chamado de vivo, sábio, bom e justo, mas também de vida, sabedoria, bondade e justiça.
III. Deste modo, a vida de Deus é absolutamente simples e infinita; no entanto:
1. Para Deus a vida e viver é a mesma coisa.
2. Não há causa externa desta vida, mas ele é a causa da vida de todas as criaturas vivas, de modo que, pela comparação com ele, eles têm uma vida mutável e emprestada.
3. A imutável vida de Deus é absolutamente perfeita e absolutamente abençoada.
IV. O intelecto de Deus é absolutamente simples e infinito, então:
1. Ele conhece a si mesmo primariamente como um objeto infinito.
2. Ele conhece todas as coisas mais intimamente, embora elas estejam escondidas da criatura.
3. Ele conhece todas as coisas por si mesmo.
4. Ele conhece absolutamente tudo por um simples ato; ele não necessita de revelação, nem raciocínio, seja intuitivo ou dedutivo.
5. O passado e o futuro são igualmente conhecidos por ele como é o presente.
6. O conhecimento de Deus é infinito.
7. O conhecimento de Deus é totalmente livre da ignorância e do esquecimento.
V. Por ser a vontade de Deus absolutamente simples, então:
1. Não há em Deus duas vontades, ou muitas vontades, ou volições contraditórias. Há várias distinções na vontade, as quais estão apresentadas abaixo acerca dos decretos divinos, mas elas são matéria do nome, antes do que da realidade [res].
2. O objeto primário da vontade é o próprio Deus.
3. A vontade de Deus é completamente livre.
4. Nada poderia existir se Deus não quisesse ou se opusesse.
5. A vontade de Deus para um objeto específico tem um ou outro nome, tal como santidade, bondade, amor, graça, misericórdia, ira, justiça e assim por diante.
VI. Por ser o poder de Deus absolutamente simples e infinito, então:
1. O poder de Deus está numa classe única [unicus].
2. Deus é onipotente e pode não somente fazer o que ele quiser, mas muito mais do que ele quer.
3. O ato ou ser de alguma coisa não precisa ser inferido do poder de Deus, a menos que seja acompanhada com poder.
4. O objeto da onipotência de Deus é algo que não pode ser contrário à sua natureza e não envolve contradição, e deste modo, e por isso é “não-impotência” ao invés da “possibilidade de tudo”. Todavia, mentir, fazendo desfazer o que está feito,[4] criar um corpo humano infinito, ou algo semelhante, não são coisas que devem ser atribuídas a Deus, pois eles poderiam ser atos de impotência antes do que de poder.
5. O poder de Deus é completamente irresistível.
NOTAS:
[1] Wollebius assume que Nomen est natura – que Deus revelou verdade em seus nomes aos usá-los para si. Nota de John W. Beardslee III.
[2] Apenas conjectura. O texto de Wollebius trás: IEHOV, IAH, EHEIE. Veja o texto hebraico de Êx 3:14. Nota de John W. Beardslee III.
[3] Uma parte da inacabada argumentação entre teólogos luteranos e reformados acerca da pessoa de Cristo, o resultado da base original da separação entre Lutero e Zwingli – a Eucaristia. Por volta da metade do século XVII, os teólogos reformados iniciavam a ênfase não meramente do “erro luterano”, mas que aquele erro era uma rejeição dos “fundamentos” e deste modo, não conduziria a comunhão da igreja. Veja o ensaio em francês de Francis Turretin sobre a Harmonia Reformado-Luterana, publicada por Jean-Alphonse Turrentin em Nubes Testium. Nota de John W. Beardslee III.
[4] O texto inglês está: “making undone what has been done”. Nota de Ewerton B. Tokashiki.
Texto de John W. Beardslee III, Reformed Dogmatics: seventeenth-century Reformed Theology through the Writings of Wollebius, Voetius, and Turretin (Grand Rapids, Baker Books, 1977), pp. 37-40.
Traduzido em 6 de Janeiro de 2015.
Rev. Ewerton B. Tokashiki
Pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Porto Velho
Professor de Teologia Sistemática no SPBC-RO
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quarta-feira, 7 de janeiro de 2015
quinta-feira, 13 de março de 2014
A carta de João Calvino para Martinho Lutero [1545]
21 de Janeiro de 1545
Ao mui excelente pastor da Igreja Cristã, Dr M. Lutero,[1] meu tão respeitado pai.
Quando disse que meus compatriotas franceses,[2] que muitos deles foram tirados da obscuridade do Papado para a autêntica fé, nada alteraram da sua pública profissão,[3] e que eles continuam a corromper-se com a sacrílega adoração dos Papistas, como se eles nunca tivessem experimentado o sabor da verdadeira doutrina, fui totalmente incapaz de conter-me de reprovar tão grande preguiça e negligência, no modo que pensei que ela merece.
O que de fato está fazendo esta fé que mente sepultando no coração, senão romper com a confissão de fé? Que espécie de religião pode ser esta, que mentindo submerge sob semelhante idolatria? Não me comprometo, todavia, de tratar o argumento aqui, pois já o tenho feito de modo mais extenso em dois pequenos tratados, e que, se não te for incomodo olha-los, perceberá o que penso com maior clareza em ambos, e através da sua leitura encontrará as razões pelas quais tenho me forçado a formar tais opiniões; de fato, muitos do nosso povo, até aqui estavam em profundo sono numa falsa segurança, mas foram despertados, começando a considerar o que eles deveriam fazer. Mas, por isso que é difícil ignorar toda a consideração que eles têm por mim, para expor as suas vidas ao perigo, ou suscitar o desprazer da humanidade para encontrar a ira do mundo, ou abandonando as suas expectativas do lar em sua terra natal, ao entrar numa vida de exílio voluntário, eles são impedidos ou expulsos pelas dificuldades duma residência forçada.
Eles têm outros motivos, entretanto, é algo razoável, pelo que se pode perceber que somente buscam encontrar algum tipo de justificativa. Nestas circunstâncias, eles se apegam na incerteza; por isso, eles estão desejosos em ouvir a sua opinião, a qual eles merecem defender com reverência, assim, ela servirá grandemente para confirmar-lhes. Eles têm-me requisitado para enviasse um mensageiro confiável até você, que pudesse registrar a sua resposta para nós sobre esta questão. Pois, penso que foi de grande consequência para eles ter o benefício de sua autoridade, para que não continuem vacilando; e eu mesmo estou convicto desta necessidade, estive relutante de recusar o que eles solicitaram.
Agora, entretanto, mui respeitado pai, no Senhor, eu suplico a ti, por Cristo, que você não despreze receber a preocupação para sua causa e minha; primeiro, que você pudesse ler atentamente a epístola escrita em seu nome, e meus pequenos livros, calmamente e nas horas livres, ou que pudesse solicitar a alguém que se ocupasse em ler, e repassasse a substância deles a você. Por último, que você escrevesse e nos enviasse de volta a sua opinião em poucas palavras.[4] De fato, estive indisposto em incomodar você em meio a tantos fardos e vários empreendimentos; mas tal é o seu senso de justiça, que você não poderia supor que eu faria isto a menos que compelido pela necessidade do caso; entretanto, confio que você me perdoará.
Quão bom seria se eu pudesse voar até você, pudera eu em poucas horas desfrutar da alegria da sua companhia; pois, preferiria, e isto seria muito melhor, conversar pessoalmente com você não somente nesta questão, mas também sobre outras; mas, vejo que isto não é possível nesta terra, mas espero que em breve venha a ser no reino de Deus.
Adeus, mui renomado senhor, mui distinto ministro de Cristo, e meu sempre honrado pai.[5] O Senhor te governe até o fim, pelo seu próprio Espírito, que você possa perseverar continuamente até o fim, para o benefício e bem comum de sua própria Igreja.
NOTAS:
[1] O especial interesse por esta carta, pelo que sabemos, é que ela parece ser a única que Calvino escreveu a Lutero.
[2] Calvino se refere aos huguenotes que embora haviam assumido o compromisso com a Confissão de Fé La Rochelle, mas na prática ainda preservavam os ídolos e toda a pompa e ritual da missa católica romana. Esta prática evidenciava uma incoerência entre o ato e a convicção de fé.
[3] Calvino se refere ao culto como uma confissão pública de fé.
[4] Outros escritos de Calvino já eram conhecidos de Lutero. Na carta 42 – Para Farel, escrita em Estrasburgo, em 20 de Novembro de 1539, Calvino cita que Lutero numa carta a Martin Bucer teria escrito que “saúde reverentemente à Sturm e a Calvino, acerca daqueles livros que li com deleite” veja em The Selected Works of John Calvin vol. 4 – Letters 1528-1545 (Albany, Ages Software, 1998), pp. 161-612.
[5] Filipe Melanchthon não entregou esta carta com estes novos livros para Lutero temendo que ele viesse a antipatizar-se com as opiniões de Calvino sobre a Ceia do Senhor. Entretanto, Calvino não tinha este temor. Herman J. Selderhuis observa que “a apreciação por Lutero permaneceria, e – de acordo com Calvino – mesmo que Lutero pudesse chamar Calvino de demônio, e mesmo assim Calvino poderia honrar e descrevê-lo como um especial servo de Deus.” Herman J. Selderhuis, ed., The Calvin Handbook (Grand Rapids, Wm. Eerdmans Publishing Co., 2009), p. 58.
Extraído de Letters of John Calvin: Select from the Bonnet Edition with an introductory biographical sketch (Edinburgh, The Banner of Truth Trust, 1980), pp. 71-73. Esta carta também pode ser encontrada em Selected Works of John Calvin: Tracts and Letters, vol. 4, pp. 440-442.
Revisado e acrecido novas notas em 13 de Março de 2014.
Rev. Ewerton B.Tokashiki
Ao mui excelente pastor da Igreja Cristã, Dr M. Lutero,[1] meu tão respeitado pai.
Quando disse que meus compatriotas franceses,[2] que muitos deles foram tirados da obscuridade do Papado para a autêntica fé, nada alteraram da sua pública profissão,[3] e que eles continuam a corromper-se com a sacrílega adoração dos Papistas, como se eles nunca tivessem experimentado o sabor da verdadeira doutrina, fui totalmente incapaz de conter-me de reprovar tão grande preguiça e negligência, no modo que pensei que ela merece.
O que de fato está fazendo esta fé que mente sepultando no coração, senão romper com a confissão de fé? Que espécie de religião pode ser esta, que mentindo submerge sob semelhante idolatria? Não me comprometo, todavia, de tratar o argumento aqui, pois já o tenho feito de modo mais extenso em dois pequenos tratados, e que, se não te for incomodo olha-los, perceberá o que penso com maior clareza em ambos, e através da sua leitura encontrará as razões pelas quais tenho me forçado a formar tais opiniões; de fato, muitos do nosso povo, até aqui estavam em profundo sono numa falsa segurança, mas foram despertados, começando a considerar o que eles deveriam fazer. Mas, por isso que é difícil ignorar toda a consideração que eles têm por mim, para expor as suas vidas ao perigo, ou suscitar o desprazer da humanidade para encontrar a ira do mundo, ou abandonando as suas expectativas do lar em sua terra natal, ao entrar numa vida de exílio voluntário, eles são impedidos ou expulsos pelas dificuldades duma residência forçada.
Eles têm outros motivos, entretanto, é algo razoável, pelo que se pode perceber que somente buscam encontrar algum tipo de justificativa. Nestas circunstâncias, eles se apegam na incerteza; por isso, eles estão desejosos em ouvir a sua opinião, a qual eles merecem defender com reverência, assim, ela servirá grandemente para confirmar-lhes. Eles têm-me requisitado para enviasse um mensageiro confiável até você, que pudesse registrar a sua resposta para nós sobre esta questão. Pois, penso que foi de grande consequência para eles ter o benefício de sua autoridade, para que não continuem vacilando; e eu mesmo estou convicto desta necessidade, estive relutante de recusar o que eles solicitaram.
Agora, entretanto, mui respeitado pai, no Senhor, eu suplico a ti, por Cristo, que você não despreze receber a preocupação para sua causa e minha; primeiro, que você pudesse ler atentamente a epístola escrita em seu nome, e meus pequenos livros, calmamente e nas horas livres, ou que pudesse solicitar a alguém que se ocupasse em ler, e repassasse a substância deles a você. Por último, que você escrevesse e nos enviasse de volta a sua opinião em poucas palavras.[4] De fato, estive indisposto em incomodar você em meio a tantos fardos e vários empreendimentos; mas tal é o seu senso de justiça, que você não poderia supor que eu faria isto a menos que compelido pela necessidade do caso; entretanto, confio que você me perdoará.
Quão bom seria se eu pudesse voar até você, pudera eu em poucas horas desfrutar da alegria da sua companhia; pois, preferiria, e isto seria muito melhor, conversar pessoalmente com você não somente nesta questão, mas também sobre outras; mas, vejo que isto não é possível nesta terra, mas espero que em breve venha a ser no reino de Deus.
Adeus, mui renomado senhor, mui distinto ministro de Cristo, e meu sempre honrado pai.[5] O Senhor te governe até o fim, pelo seu próprio Espírito, que você possa perseverar continuamente até o fim, para o benefício e bem comum de sua própria Igreja.
NOTAS:
[1] O especial interesse por esta carta, pelo que sabemos, é que ela parece ser a única que Calvino escreveu a Lutero.
[2] Calvino se refere aos huguenotes que embora haviam assumido o compromisso com a Confissão de Fé La Rochelle, mas na prática ainda preservavam os ídolos e toda a pompa e ritual da missa católica romana. Esta prática evidenciava uma incoerência entre o ato e a convicção de fé.
[3] Calvino se refere ao culto como uma confissão pública de fé.
[4] Outros escritos de Calvino já eram conhecidos de Lutero. Na carta 42 – Para Farel, escrita em Estrasburgo, em 20 de Novembro de 1539, Calvino cita que Lutero numa carta a Martin Bucer teria escrito que “saúde reverentemente à Sturm e a Calvino, acerca daqueles livros que li com deleite” veja em The Selected Works of John Calvin vol. 4 – Letters 1528-1545 (Albany, Ages Software, 1998), pp. 161-612.
[5] Filipe Melanchthon não entregou esta carta com estes novos livros para Lutero temendo que ele viesse a antipatizar-se com as opiniões de Calvino sobre a Ceia do Senhor. Entretanto, Calvino não tinha este temor. Herman J. Selderhuis observa que “a apreciação por Lutero permaneceria, e – de acordo com Calvino – mesmo que Lutero pudesse chamar Calvino de demônio, e mesmo assim Calvino poderia honrar e descrevê-lo como um especial servo de Deus.” Herman J. Selderhuis, ed., The Calvin Handbook (Grand Rapids, Wm. Eerdmans Publishing Co., 2009), p. 58.
Extraído de Letters of John Calvin: Select from the Bonnet Edition with an introductory biographical sketch (Edinburgh, The Banner of Truth Trust, 1980), pp. 71-73. Esta carta também pode ser encontrada em Selected Works of John Calvin: Tracts and Letters, vol. 4, pp. 440-442.
Revisado e acrecido novas notas em 13 de Março de 2014.
Rev. Ewerton B.Tokashiki
domingo, 23 de fevereiro de 2014
Os Artigos com as 67 Conclusões de Hulrich Zwingli [1523]
Os artigos[1]
Eu, Hulrich Zwingli,[2] confesso ter pregado[3] na nobilíssima cidade de Zurique os artigos e conclusões que passarei a expor. Encontram-se baseados na Sagrada Escritura, a “theopneustos”, ou seja, a [palavra] inspirada por Deus. Ofereço-me para defender estes artigos, e estou disposto a ser ensinado,[4] caso não tenha compreendido[5] corretamente a Sagrada Escritura;[6] mas, qualquer correção que me faça permanecer fundamentado somente[7] na Sagrada Escritura.[8]
...
[ este texto foi retirado por motivo de publicação ]
...
Extraído de James T. Dennison, Jr., ed., Reformed Confessions of the 16th and 17th Centuries in English Translation – 1523-1552 (Grand Rapids, Reformation Heritage Books, 2008), vol. 1, págs. 1-8; ainda, recorrendo ao texto original e notas de Phillip Schaff, “Articuli sive conclusiones LXVII. H. Zwinglii” in: The Creeds of Christendom (Grand Rapids, Baker Books, 2007), vol. 3, pág. 197, e também da tradução hispânica com notas preparadas por M. Gutiérrez Marín, Zuinglio – Antología (Barcelona, Producciones Editoriales del Nordeste, 1973).
Tradução e notas revisadas em 23 de Fevereiro de 2014.
Tradução e notas de Rev. Ewerton B. Tokashiki
Observação: Sou grato ao Rev. Alexandre Ribeiro Lessa por revisar a língua portuguesa e fazer preciosas sugestões de estilo na tradução. Obviamente se ainda há algum erro, assumo toda a responsabilidade.
sábado, 15 de fevereiro de 2014
Carta de Pedro Rechier a João Calvino [1557]
Carta do Rev. Pedro Rechier[1] a João Calvino, em Março de 1557, desde o Forte de Coligny, na Guanabara, por ocasião da primeira tentativa de implantação da Igreja Reformada no Brasil pelos franceses[2]
Não quis desprezar a presente ocasião, para esclarecê-lo, meu irmão, acerca das nossas coisas. Em primeiro lugar quero que seja por ti conhecido o benefício que de Deus recebemos até agora, a fim de que conosco lhe dês graças pela sua bondade. Pois de todos nós teve tal cuidado que, pela sua bondade nos conduziu todos ao porto, sãos e incólumes, através das multas separações das terras e do mar. Saih, na verdade, como é natural, expôs-nos, no caminho, a diversos perigos: mas, como filhos, embora indignos, sempre experimentamos muito a mão auxiliadora do Pai que continua misericordiosamente estendida para nós através dos dias.
Ao chegarmos ao porto, Villegagnon[3] quis que a Palavra de Deus fosse publicamente pregada.[3] Na semana subsequente desejou que fosse administrada a ceia sagrada de Cristo, a que ele próprio com alguns de seus domésticos, religiosamente compareceu, dando um exemplo da sua fé para a edificação das pessoas presentes. Quem podia melhor auxiliar o nosso plano? Que podia corresponder mais oportunamente aos nossos desejos todos de que a verdadeira igreja ter-se patenteado a esses furiosos junto de nós? Com tais benefícios o nosso supremo Pai se dignou recompensar-nos.
Esta região, doutro lado, porque seja inculta e com raros habitantes, quase nada produz daquilo que a gente de nosso país gosta de saborear. Produz milho é verdade, figos silvestres e umas certas raízes com as quais fabricam para seus habitantes, a farinha que lhes serve de provisão de viagem. Não tem pão, nem produz vinho ou algo semelhante. Além disso, não nos servimos, em nenhum tempo ou lugar, de nenhum fruto familiar. Todavia, qualquer coisa nos basta, e passamos perfeitamente bem, bastando dizer que estou mais forte que de costume e o mesmo acontece a todos os outros. Um naturalista teria acrescido ao que disse a bondade do ar, que de tal sorte se tempera e corresponde ao nosso maio. De tal forma o Pai celeste se mostra bom e nos oferece o seu paterno afeto que aqui, em tão bárbaro e agreste solo, nos ministra o seu favor, a fim de que comprovemos que a provisão de viagem do homem não depende do pão, mas, da Palavra de Deus, cuja bênção substitui para nós todas as delícias.
Uma coisa há que nos constrange e preocupa: a selvageria do povo, tão grande que maior não podia ser. Não lhes censuro serem antropófagos o que, entretanto, é neles muito vulgar; mas deploro a estupidez de sua mente que é palpável mesmo nas trevas. Sobre a virtude do Pai também nada conhecem não distinguindo o bem do mal e os vícios que a natureza revela naturalmente às outras gentes eles os têm por virtude; não conhecendo a torpeza do vício pouco diferem das feras. E o que é a mais perniciosa de todas as coisas, não sabem se Deus existe. Estão muito longe de observar a Sua lei ou admirar o Seu poder e vontade, por isso não temos esperança de ganhá los inteiramente para Cristo, embora seja realmente a coisa mais importante de todas. Aprovo na verdade quem os descreve como uma “tábula rasa”, facilmente pintável em quaisquer cores, pois essa espécie de cores nada tem de contrário à pureza natural.
Mas o grande obstáculo é a diversidade de idiomas. Acrescente se que não temos intérpretes fiéis a Deus. O mérito de nossa obra consiste para nós em refrear o passo e esperar pacientemente que os adolescentes aprendam a língua dos índios. E já alguns vivem entre eles. Praza a Deus que fique aquém deles qualquer perigo para as suas almas. Desde que o Altíssimo nos impôs esta tarefa, devemos esperar que esta terra se torne a futura possessão de Cristo. Neste ínterim precisamos mais gente para que se forme esta nação bárbara e que nossa igreja receba seu incremento. Abundaríamos certamente de toda a cópia de bens se aqui houvesse um povo numeroso; sendo poucas almas progride o agricultor muito devagar. Mas por todas as coisas vela o Altíssimo. Nós em verdade, desejamos fortemente ser recomendados às preces de todas as nossas Igrejas.[4]
NOTAS:
[1] O Rev Pedro Rechier foi um dos pastores formados na Academia de Genebra e indicados por Calvino para integrarem a primeira expedição de franceses e suíços [de genebrinos] que veio para o Brasil. Eles aportaram na Baia da Guanabara, no Rio de Janeiro. Ele era "doutor ver em teologia e ex-frade carmelita, convertera-se ao Protestantismo e, após haver feito seus estudos em Genebra, dirigiu-se ao Brasil em 1556, de onde voltou no ano seguinte, sendo então enviado a Rochelle, em cujo lugar organizou a Igreja e morreu a 8 de março de 1580. Ali publicou ele, primeiro em latim (1561) e depois em francês (1562), a Refutação às loucas fantasias, às execráveis blasfêmias, aos erros e às mentiras de Nicolas Durand de Villegaignon." Jean Crespin, A tragédia da Guanabara - A História dos Primeiros Mártires do Cristianismo no Brasil (Rio de Janeiro, CPAD, 2006), p. 25. Nota do revisor.
[2] Enquanto tradicionalmente a nossa história apresenta, duma perspectiva católica, os franceses como invasores, na realidade eles eram colonizadores. Nota do revisor.
[3] Nicolas Durand de Villegagnon. Nota do revisor.
[4] Para uma análise da Confissão de Fé da Guanabara recomendo a leitura da Dissertação de Mestrado do Ms. Rev. Folton Nogueira da Silva. # [SILVA, Folton Nogueira da. Principais doutrinas da Confissão de fé da Guanabara. 1998] que pode ser obtida nos arquivos do CPAJ na Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Para estudo continuado sobre o assunto recomendo dois livros que oferecem ad fontes:
1. Jean Crespin, A tragédia da Guanabara - A história dos primeiros mártires do Cristianismo no Brasil (Rio de Janeiro, CPAD, 2006).
2. Jean Crespin, A tragédia da Guanabara - A história dos primeiros mártires do Cristianismo no Brasil (São Paulo, Editora Cultura Cristã, 2007).
Tradução de Sergio Milliet
Revisão e notas por Rev. Ewerton B. Tokashiki
Extraído do livro Viagem à terra do Brasil, Jean de Léry, nota 134, Editora Itatiaia, 1980.
Não quis desprezar a presente ocasião, para esclarecê-lo, meu irmão, acerca das nossas coisas. Em primeiro lugar quero que seja por ti conhecido o benefício que de Deus recebemos até agora, a fim de que conosco lhe dês graças pela sua bondade. Pois de todos nós teve tal cuidado que, pela sua bondade nos conduziu todos ao porto, sãos e incólumes, através das multas separações das terras e do mar. Saih, na verdade, como é natural, expôs-nos, no caminho, a diversos perigos: mas, como filhos, embora indignos, sempre experimentamos muito a mão auxiliadora do Pai que continua misericordiosamente estendida para nós através dos dias.
Ao chegarmos ao porto, Villegagnon[3] quis que a Palavra de Deus fosse publicamente pregada.[3] Na semana subsequente desejou que fosse administrada a ceia sagrada de Cristo, a que ele próprio com alguns de seus domésticos, religiosamente compareceu, dando um exemplo da sua fé para a edificação das pessoas presentes. Quem podia melhor auxiliar o nosso plano? Que podia corresponder mais oportunamente aos nossos desejos todos de que a verdadeira igreja ter-se patenteado a esses furiosos junto de nós? Com tais benefícios o nosso supremo Pai se dignou recompensar-nos.
Esta região, doutro lado, porque seja inculta e com raros habitantes, quase nada produz daquilo que a gente de nosso país gosta de saborear. Produz milho é verdade, figos silvestres e umas certas raízes com as quais fabricam para seus habitantes, a farinha que lhes serve de provisão de viagem. Não tem pão, nem produz vinho ou algo semelhante. Além disso, não nos servimos, em nenhum tempo ou lugar, de nenhum fruto familiar. Todavia, qualquer coisa nos basta, e passamos perfeitamente bem, bastando dizer que estou mais forte que de costume e o mesmo acontece a todos os outros. Um naturalista teria acrescido ao que disse a bondade do ar, que de tal sorte se tempera e corresponde ao nosso maio. De tal forma o Pai celeste se mostra bom e nos oferece o seu paterno afeto que aqui, em tão bárbaro e agreste solo, nos ministra o seu favor, a fim de que comprovemos que a provisão de viagem do homem não depende do pão, mas, da Palavra de Deus, cuja bênção substitui para nós todas as delícias.
Uma coisa há que nos constrange e preocupa: a selvageria do povo, tão grande que maior não podia ser. Não lhes censuro serem antropófagos o que, entretanto, é neles muito vulgar; mas deploro a estupidez de sua mente que é palpável mesmo nas trevas. Sobre a virtude do Pai também nada conhecem não distinguindo o bem do mal e os vícios que a natureza revela naturalmente às outras gentes eles os têm por virtude; não conhecendo a torpeza do vício pouco diferem das feras. E o que é a mais perniciosa de todas as coisas, não sabem se Deus existe. Estão muito longe de observar a Sua lei ou admirar o Seu poder e vontade, por isso não temos esperança de ganhá los inteiramente para Cristo, embora seja realmente a coisa mais importante de todas. Aprovo na verdade quem os descreve como uma “tábula rasa”, facilmente pintável em quaisquer cores, pois essa espécie de cores nada tem de contrário à pureza natural.
Mas o grande obstáculo é a diversidade de idiomas. Acrescente se que não temos intérpretes fiéis a Deus. O mérito de nossa obra consiste para nós em refrear o passo e esperar pacientemente que os adolescentes aprendam a língua dos índios. E já alguns vivem entre eles. Praza a Deus que fique aquém deles qualquer perigo para as suas almas. Desde que o Altíssimo nos impôs esta tarefa, devemos esperar que esta terra se torne a futura possessão de Cristo. Neste ínterim precisamos mais gente para que se forme esta nação bárbara e que nossa igreja receba seu incremento. Abundaríamos certamente de toda a cópia de bens se aqui houvesse um povo numeroso; sendo poucas almas progride o agricultor muito devagar. Mas por todas as coisas vela o Altíssimo. Nós em verdade, desejamos fortemente ser recomendados às preces de todas as nossas Igrejas.[4]
NOTAS:
[1] O Rev Pedro Rechier foi um dos pastores formados na Academia de Genebra e indicados por Calvino para integrarem a primeira expedição de franceses e suíços [de genebrinos] que veio para o Brasil. Eles aportaram na Baia da Guanabara, no Rio de Janeiro. Ele era "doutor ver em teologia e ex-frade carmelita, convertera-se ao Protestantismo e, após haver feito seus estudos em Genebra, dirigiu-se ao Brasil em 1556, de onde voltou no ano seguinte, sendo então enviado a Rochelle, em cujo lugar organizou a Igreja e morreu a 8 de março de 1580. Ali publicou ele, primeiro em latim (1561) e depois em francês (1562), a Refutação às loucas fantasias, às execráveis blasfêmias, aos erros e às mentiras de Nicolas Durand de Villegaignon." Jean Crespin, A tragédia da Guanabara - A História dos Primeiros Mártires do Cristianismo no Brasil (Rio de Janeiro, CPAD, 2006), p. 25. Nota do revisor.
[2] Enquanto tradicionalmente a nossa história apresenta, duma perspectiva católica, os franceses como invasores, na realidade eles eram colonizadores. Nota do revisor.
[3] Nicolas Durand de Villegagnon. Nota do revisor.
[4] Para uma análise da Confissão de Fé da Guanabara recomendo a leitura da Dissertação de Mestrado do Ms. Rev. Folton Nogueira da Silva. # [SILVA, Folton Nogueira da. Principais doutrinas da Confissão de fé da Guanabara. 1998] que pode ser obtida nos arquivos do CPAJ na Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Para estudo continuado sobre o assunto recomendo dois livros que oferecem ad fontes:
1. Jean Crespin, A tragédia da Guanabara - A história dos primeiros mártires do Cristianismo no Brasil (Rio de Janeiro, CPAD, 2006).
2. Jean Crespin, A tragédia da Guanabara - A história dos primeiros mártires do Cristianismo no Brasil (São Paulo, Editora Cultura Cristã, 2007).
Tradução de Sergio Milliet
Revisão e notas por Rev. Ewerton B. Tokashiki
Extraído do livro Viagem à terra do Brasil, Jean de Léry, nota 134, Editora Itatiaia, 1980.
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