(1)
1. Deus é um espírito, auto-existente desde a eternidade; um em essência, três em pessoa, o Pai, o
Filho e o Espírito Santo.
2. Deus é conhecido em si e em suas obras.
3. Ele é conhecido em si absolutamente em sua essência, e relativamente nas pessoas.
4. A essência de Deus pode ser entendida tanto de seus nomes como de suas propriedades.[1]
5. Os nomes de Deus são baseados em seu ser (Jehovah, Jah, YHWH),[2] que correspondem com a palavra “Senhor” no Novo Testamento [kuriós], ou o seu poder (El e Elohim), ou a sua autoridade auto-suficiente (Shaddai), ou a sua grandiosidade (Elyon).
PROPOSIÇÕES
I. “Jehovah” é o principal e mais importante nome de Deus. Ela procede de uma raiz que significa “ele foi” [fuit], e assim, ele é um símbolo do mais alto de si, de quem foi, e é, e será desde a eternidade a toda eternidade (Ap 1:4-6), e que permanece o mesmo para sempre (Sl 102:27), e ele não pode dar a algum objeto criado, exceto por metonímia, e deste modo eles são símbolos da presença de Deus, tais como o altar (Êx 17:15), a arca (Sl 47:6) e Jerusalém (Ez 48:35).
II. Sendo este nome o que mais foi enfaticamente usado nas promessas e garantias divinas. Entretanto, temos expressões como “assim diz Jehovah”, “a palavra de Jehovah”, etc. Como Deus permanece como ele é, a sua palavra permanece confiável.
III. O nome “Elohim”, apesar de ser plural, é um predicado de Deus não somente pessoal, mas também essencial, e no idioma hebraico ele é um predicado de um Deus e de pessoas individuais ao mesmo tempo. Assim, não existe três “elohims”, ou deuses, mas somente um.
Deste modo, o Credo Atanasiano corretamente declara “o Pai onipotente, o Filho onipotente, e o Espírito Santo onipotente, todavia, não são três onipotentes, mas apenas um”; e embora Deus seja chamado de Elohim por um plural majestático, ele não é três, mas somente um, como em Sl 7:11 Elohim Zaddiq, ou seja “um justo Deus”.
(2)
I. As propriedades divinas são os atributos de Deus, pelos quais ele nos oferece o seu conhecimento, de quão fracos somos e, por meio dos quais ele se distingue das criaturas.
II. As propriedades não são qualidades, ou acidentes em Deus, ou alguma coisa separada de sua essência, ou diferente dela. Isto se tornará evidente abaixo quando tratar da simplicidade de Deus.
III. As propriedades divinas não estão separadas de sua essência, ou uma da outra. Isto destrói a doutrina luterana da transfusão das propriedades divinas na natureza divina de Cristo. Se aquela natureza é para ter a ubiquidade, onisciência e onipotência atribuídas nela, por que também seria o seria a eternidade?[3]
IV. Algumas propriedades não são comunicáveis às criaturas: outras são comunicáveis com efeitos analógicos.
(3)
1. Os atributos da primeira espécie são simplicidade e infinidade. A imutabilidade e perfeição podem ser acrescentadas, mas elas são meros corolários necessários para a simplicidade e infinidade.
2a. Por simplicidade é entendida que Deus é um ser livre de toda composição [de partes].
2b. Por infinidade é entendida que Deus é um verdadeiro ser infinito, bom e cada aspecto e sem fim.
PROPOSIÇÕES
I. Deus é um ser verdadeiro e de simplicidade única. Isto significa que ele não é composto de partes, ou de genus e espécies [differentia], ou de substância e acidentes, ou de potencialidade e atos, ou de ser e essência.
II. Todavia, não há nada em Deus que não seja o próprio Deus.
III. A essência de Deus é incompreensível para nós. A diferença entre o finito e o infinito é de ordem completamente diferente daquela entre um pequeno prato e o oceano.
IV. Deus é abrange todos os pontos de vista: o todo em si, a inteireza de todas as coisas, o tudo de cada coisa particular, e tudo além de cada detalhe.
V. Deus nunca é contido num lugar, nem pode ser limitado a um lugar, nem incluído nele, ou excluído dele, ou de qualquer lugar.
VI. Deus é eterno, sem começo, fim, ou mudança.
3. As propriedades da segunda espécie são vida, que é atribuída à Deus em essência, vontade, atribuída a ele em comando, poder atribuído a ele em ação.
PROPOSIÇÕES
I. As propriedades da segunda ordem são atribuídas a Deus do mesmo modo como as da primeira; que cada uma deve ser entendida como absolutamente simples e infinita.
II. No entanto, eles são predicados de Deus e não apenas de modo concreto, mas também abstratamente. Deus não é somente chamado de vivo, sábio, bom e justo, mas também de vida, sabedoria, bondade e justiça.
III. Deste modo, a vida de Deus é absolutamente simples e infinita; no entanto:
1. Para Deus a vida e viver é a mesma coisa.
2. Não há causa externa desta vida, mas ele é a causa da vida de todas as criaturas vivas, de modo que, pela comparação com ele, eles têm uma vida mutável e emprestada.
3. A imutável vida de Deus é absolutamente perfeita e absolutamente abençoada.
IV. O intelecto de Deus é absolutamente simples e infinito, então:
1. Ele conhece a si mesmo primariamente como um objeto infinito.
2. Ele conhece todas as coisas mais intimamente, embora elas estejam escondidas da criatura.
3. Ele conhece todas as coisas por si mesmo.
4. Ele conhece absolutamente tudo por um simples ato; ele não necessita de revelação, nem raciocínio, seja intuitivo ou dedutivo.
5. O passado e o futuro são igualmente conhecidos por ele como é o presente.
6. O conhecimento de Deus é infinito.
7. O conhecimento de Deus é totalmente livre da ignorância e do esquecimento.
V. Por ser a vontade de Deus absolutamente simples, então:
1. Não há em Deus duas vontades, ou muitas vontades, ou volições contraditórias. Há várias distinções na vontade, as quais estão apresentadas abaixo acerca dos decretos divinos, mas elas são matéria do nome, antes do que da realidade [res].
2. O objeto primário da vontade é o próprio Deus.
3. A vontade de Deus é completamente livre.
4. Nada poderia existir se Deus não quisesse ou se opusesse.
5. A vontade de Deus para um objeto específico tem um ou outro nome, tal como santidade, bondade, amor, graça, misericórdia, ira, justiça e assim por diante.
VI. Por ser o poder de Deus absolutamente simples e infinito, então:
1. O poder de Deus está numa classe única [unicus].
2. Deus é onipotente e pode não somente fazer o que ele quiser, mas muito mais do que ele quer.
3. O ato ou ser de alguma coisa não precisa ser inferido do poder de Deus, a menos que seja acompanhada com poder.
4. O objeto da onipotência de Deus é algo que não pode ser contrário à sua natureza e não envolve contradição, e deste modo, e por isso é “não-impotência” ao invés da “possibilidade de tudo”. Todavia, mentir, fazendo desfazer o que está feito,[4] criar um corpo humano infinito, ou algo semelhante, não são coisas que devem ser atribuídas a Deus, pois eles poderiam ser atos de impotência antes do que de poder.
5. O poder de Deus é completamente irresistível.
NOTAS:
[1] Wollebius assume que Nomen est natura – que Deus revelou verdade em seus nomes aos usá-los para si. Nota de John W. Beardslee III.
[2] Apenas conjectura. O texto de Wollebius trás: IEHOV, IAH, EHEIE. Veja o texto hebraico de Êx 3:14. Nota de John W. Beardslee III.
[3] Uma parte da inacabada argumentação entre teólogos luteranos e reformados acerca da pessoa de Cristo, o resultado da base original da separação entre Lutero e Zwingli – a Eucaristia. Por volta da metade do século XVII, os teólogos reformados iniciavam a ênfase não meramente do “erro luterano”, mas que aquele erro era uma rejeição dos “fundamentos” e deste modo, não conduziria a comunhão da igreja. Veja o ensaio em francês de Francis Turretin sobre a Harmonia Reformado-Luterana, publicada por Jean-Alphonse Turrentin em Nubes Testium. Nota de John W. Beardslee III.
[4] O texto inglês está: “making undone what has been done”. Nota de Ewerton B. Tokashiki.
Texto de John W. Beardslee III, Reformed Dogmatics: seventeenth-century Reformed Theology through the Writings of Wollebius, Voetius, and Turretin (Grand Rapids, Baker Books, 1977), pp. 37-40.
Traduzido em 6 de Janeiro de 2015.
Rev. Ewerton B. Tokashiki
Pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Porto Velho
Professor de Teologia Sistemática no SPBC-RO
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