quarta-feira, 18 de maio de 2016

A queda dos primeiros pais e o início do sofrimento humano - Johanes Wollebius

(I)

1. Muito do governo de Deus sobre o ser humano se estabelece no estado de inocência. O seu governo sobre eles no estado de miséria significa que Deus, pelo justo juízo, sujeita o homem, a quem pelo seu próprio ato caiu em pecado, para várias penalidades.
2. Entretanto, este estado consiste do pecado, e do sofrimento como um resultado do pecado.
3. Pecado é transgressão da lei, ou algo contrário a lei divina (1 Jo 3:4). Neste ponto, por “lei” entende-se tanto os mandamentos como as proibições primeiramente entregues ao homem, e a lei da natureza escrita em seu coração. Anteriormente, no devido lugar, falaremos da restauração e extensão da lei após a queda.

PROPOSIÇÕES

I. A palavra “pecado” é usada tanto concretamente, do assunto sem lei com a sua ilegalidade, como abstratamente, da simples ilegalidade.
II. A definição de pecado é pelo que se pensa, diz e faz é também restrita. De tal maneira os papistas a definem; como aparecerá abaixo, esta definição não cobre o pecado original.
III. Deus não pode, sem blasfêmia, ser chamado o autor do pecado.
IV. Não há razão de por que o mesmo ato, de diferentes perspectivas, não pode ser tanto um pecado e uma punição do pecado.

(2)

1. Pecado é tanto o primeiro pecado ou o resultado dele.
2. Este primeiro pecado é a desobediência dos primeiros pais, pelo qual eles transgrediram a proibição de Deus acerca da árvore do conhecimento do bem e do mal.

PROPOSIÇÕES

I. A causa da transgressão de Adão e Eva não foi Deus, nem um decreto de Deus, nem a anulação de alguma graça especial, nem a permissão da queda, nem qualquer motivo incitado naturalmente, nem o governo providencial da própria queda. Ela não foi Deus, porque ele tinha estritamente proibido o comer do fruto daquela árvore. Ela não foi o seu decreto, porque este conduz somente a uma imutável e para uma coerciva necessidade, nem induz ninguém a pecar. Ela não foi a anulação de alguma graça especial, porque o homem poderia ter se preservado inocente, pois não havia obrigação de dar nem mesmo a graça que Deus deu ao homem; de fato, ele recebeu a habilidade de agir como ele quisesse, apesar de não tê-lo disposto como poderia. Ele não foi incitado por algum motivo natural, pois um motivo em si não era pecado. Ele não foi o governo providencial da queda, pois trazer o bom do mal é ser a fonte do bem antes do que do mal.
II. Deus tanto quis, como não realizou o primeiro pecado. Ele não quis, a medida em que é pecado, mas ele quis a medida em que ele signifique a revelação de sua glória, misericórdia e justiça.
III. A causa imediata do pecado original foi a instigação e persuasão da antiga serpente, o demônio.
IV. A causa antecedente foi a vontade do homem, a qual por si era indiferente em relação ao bem ou mal, mas, quando convencido por Satanás, ela se voltou para o mal.
V. Há cinco estágios da queda, pelos quais o homem caiu de Deus um passo por vez, e não de uma vez: (1) Irrefletida e intrometidamente quando Eva conversou com a serpente na ausência de seu marido; (2) incredulidade, que pouco a pouco ela começou a concordar com as mentiras de Satanás, quem atribuiu dúvida sobre a bondade de Deus em relação ao homem, de modo que ela desconfiou de Deus; (3) desejo pelo fruto proibido e pela glória divina; (4) o próprio ato; (5) a tentação de Adão e também o despertamento nele de um desejo indisciplinado.
VI. Se todos os aspectos [pars] deste pecado forem levados em conta, então, é corretamente ele chamado de transgressão de toda a lei natural. O homem pecou por incredulidade, desconfiança, ingratidão e idolatria, bem como ele deixou Deus, e fez para si um ídolo. Ele também pecou ao desprezar a palavra de Deus, por rebelião, homicídio e descontrole por acatar secretamente aquilo que não tinha a permissão de Deus, por concordar com falsas declarações, e finalmente por desejar uma maior dignidade, de fato, uma dignidade que pertence somente a Deus. Todavia, onde a lei natural é limitada para uma definição que chame este pecado de intemperança, ambição ou orgulho.
VII. Corretamente, entretanto, com o bendito apóstolo, chamamos este pecado de “transgressão”, “crime” e “desobediência” (Rm 5:14, 18-19).
VIII. Neste caso, Adão precisava entender não somente como indivíduo particular, mas também em sua capacidade pública [ut publica persona], e assim, como pai de toda a raça humana, e seu cabeça e raiz.
IX. Portanto, tanto faz se ele perdeu ou ganhou, ele ganhou e perdei para si, bem como para toda a sua posteridade. Assim como o cabeça de uma família negocia tanto sobre o seu favor e dos outros membros, e um nobre pode perder ou preservar os seus privilégios como os de sua posteridade, do mesmo modo, Adão perdeu esta sua felicidade e de sua posteridade. Como de uma raiz envenenada nada saudável pode germinar, assim são naturalmente os que descendem de Adão, nascem sob os efeitos deste pecado.
X. Portanto, este pecado não é apenas pessoal, mas também natural. De fato, toda a natureza foi corrompida por ele, pelo mesmo fato que a posteridade de Adão – que é, toda naturalmente descendente de Adão – está presa. Então, Cristo é exceção desta culpa. Ele nasceu de Adão, mas não através de Adão; não por geração natural, mas pelo poder do Espírito Santo.
XI. Portanto, como uma pessoa corrompeu a natureza, agora a natureza corrompe as pessoas.
XII. Nós piamente cremos que os nossos primeiros pais foram recebidos em graça por Deus.


Tradução de Rev. Ewerton B. Tokashiki
Extraído de Johannes Wollebius, Compendium Theologicae Christianae in: John W. Beardslee III, Reformed Dogmatics: seventeenth-century Reformed Theology through the Writings of Wollebius, Voetius, and Turretin(Grand Rapids, Baker Books, 1977), pp.66-68.

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