terça-feira, 28 de agosto de 2018

Carta de Martinho Lutero para Alberto de Maguncia [31 de Outubro de 1517]

Para Alberto de Maguncia

31 de outubro de 1517

Ao Reverendíssimo Padre em Cristo, Senhor Alberto, Arcebispo de Magdeburg e Maguncia, Senhor de Brandeburg, seu estimado senhor e pastor em Cristo. A graça de Deus seja com ele.

Que a sua Alteza Eleitoral graciosamente me permita, o menor e mais indigno dos homens, escrever a você. O Senhor Jesus Cristo é minha testemunha de que eu, por conta de minha indignidade, há muito tempo tenho hesitado fazer o que agora faço audaciosamente, movido a isso por um senso de obrigação que eu devo a você, reverendíssimo padre. Que a sua Graça olhe graciosamente para mim, pó e cinzas, e responda à minha ânsia por sua aprovação eclesiástica.

Com o consentimento de sua Alteza Eleitoral, a Indulgência Papal para a reconstrução da Basílica de São Pedro em Roma está sendo levada pelo do território. Eu não me queixo muito do alto clamor do pregador de Indulgências, o qual eu não ouvi, mas me entristece o falso significado que o povo simples atribui às indulgências, as pobres almas acreditando que, quando compram tais cartas, asseguram a sua salvação; e também que, no momento em que o dinheiro cai na caixa, almas são libertas do purgatório; e que todos os pecados serão perdoados por meio de uma carta de Indulgência, mesmo aquele de ultraje à Mãe de Deus, fosse alguém blasfemo o suficiente para fazer tal coisa; e, finalmente, que, por meio dessas Indulgências, o homem é livre de todas as punições! Ah, Santo Deus! Assim estão aquelas almas que têm sido entregues aos seus cuidados, querido padre, sendo levadas no caminho de morte. E por elas você terá de prestar contas. Porque os méritos de nenhum bispo podem assegurar a salvação das almas confiadas a ele, o que nem sempre é assegurado através da graça de Deus, o apóstolo admoestando-nos a "trabalhar a vossa própria salvação com temor e tremor"; e que o caminho que leva à vida é tão estreito, que o Senhor, por meio dos profetas Amós e Zacarias, assemelha aqueles que alcançam a vida eterna a um tição tirado do fogo; e, acima de tudo, o Senhor aponta para a dificuldade da redenção. Portanto, eu não poderia mais permanecer em silêncio.

Então, como você pode, por meio de falsas promessas de Indulgências, as quais não promovem a salvação ou a santificação das almas deles, levar o povo à segurança carnal, declarando-os livres das dolorosas consequências da má conduta, com as quais a Igreja costumava punir os pecados deles?Porque atos de piedade e amor são infinitamente melhores do que Indulgências, mas ainda assim os bispos não pregam estes atos tão energicamente, embora o principal dever deles é pregar ao seu povo o amor de Cristo. Em nenhum lugar, Cristo mandou pregar as Indulgências, mas sim o Evangelho. Assim, a que perigo um bispo se expõe quando, ao invés de pregar o Evangelho entre o povo, condena-o ao silêncio, ao mesmo tempo em que o clamor das Indulgências ressoa através do território? Não irá Cristo dizer a eles, "Tu coas um mosquito, mas engoles um camelo"?

Em adição a isto, reverendo padre, tem sido espalhado largamente, sob o seu nome, mas certamente sem o seu conhecimento, que esta Indulgência é o inestimável presente de Deus, por meio do qual o homem pode ser reconciliado com Deus e escapar do fogo do purgatório, e que aqueles que comprarem a Indulgência não têm necessidade de arrependimento.

O que mais eu posso fazer, reverendíssimo padre, além de implorar que a Sua Serena Alteza olhe para este assunto e possa abolir este livreto de instruções, e que ordene aqueles pregadores a adotarem um outro estilo de pregação, para que não surja alguém e lhes refute escrevendo um outro livro em resposta ao primeiro, para a confusão da sua Serena Alteza, ideia que muito me alarma. Eu espero que a sua Serena Alteza possa graciosamente se dignar a aceitar o fiel serviço que o seu insignificante servo, com verdadeira devoção, renderia a você. Que o Senhor guarde você para toda a eternidade. Amém.

Wittenberg, véspera do Dia de Todos os Santos, 1517.

Se for conforme o desejo de sua Graça, talvez você poderia olhar as minhas teses que envio em anexo, para que você possa perceber que a opinião sobre as Indulgências é muito variada, enquanto aqueles que as proclamam fantasiam que tais Indulgências não podem ser disputadas. Seu filho indigno,

Martinho Lutero
Agostiniano, separado como Doutor de Sagrada Teologia.

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