quarta-feira, 9 de abril de 2014

Carta de João Calvino a Frances Daniel [1529]

CARTA 2 - A FRANCES DANIEL

CALVINO EM PARIS — NICOLAS COP —
OS DOIS AMIGOS VISITAM UM MOSTEIRO.

PARIS, 27 de junho de 1529.


Cansado da jornada, no dia seguinte a nossa viagem para cá mal podíamos colocar o pé para fora casa. Pelos próximos quatro dias, enquanto eu ainda me sentia incapaz de me mover, todo o tempo foi gasto em saudações amigáveis. No Dia do senhor, voltei ao mosteiro com o Cop, que havia consentido em me acompanhar, e que de acordo com o seu conselho, eu devia marcar com as freiras o dia no qual sua irmã deveria fazer os votos. Foi-me dito, em resposta a minha pergunta, que, junto com algumas outras de sua própria ordem, ela tinha obtido da irmandade, em conformidade com os hábitos aprovados (ex. solemni more), o poder de fazer ela mesma seus votos. A filha de um determinado banqueiro de Orleans, que é professor de artes de seu irmão, faz parte do grupo. Enquanto Cop estava envolvido numa conversa com a madre superiora, eu sondei a inclinação de sua irmã, se ela tomaria aquele jugo pacientemente, — ou se não estaria sendo vencida por submissão forçada, ao invés de submeter-se voluntariamente. Eu instei com ela novamente para que livremente confiasse em mim quanto ao que ela poderia ter em mente. Nunca vi ninguém que fosse mais rápida ou mais pronta em responder, e assim não poderia vir tão logo a satisfazer seus desejos. Você chegaria quase a pensar que ela estava brincando com sua boneca tão freqüentemente quanto ouvia falar do voto. Não quis retirá-la do seu propósito, porque eu não tinha vindo com esse objetivo. Mas, em poucas palavras, eu a admoestei a não confiar demais em suas próprias resoluções, que ela não deveria fazer promessas precipitadas por si só, mas que, pelo contrário, ela deveria descansar na força de Deus para toda a ajuda necessária, — em quem vivemos e temos o nosso ser.

Enquanto estávamos envolvidos na conversa, a madre superiora deu-me uma oportunidade de falar com ela, e quando eu propus que ela deveria estabelecer um dia, ela deixou a escolha por minha conta, mas com a condição de que Pylades deveria estar presente, o qual estará em Orleans no prazo de oito dias. Então, visto que o dia não pode ser marcado com mais certeza, nós deixamos isso para Pylades decidir. Portanto, você deve acertar com ele como parecer mais conveniente, visto que eu não posso ser de mais utilidade pra você aqui.

Sobre meus assuntos; — eu ainda não me fixei em um alojamento, embora houvesse muitos para ficar se eu desejasse alugar um; e também oferecidos por amigos, se eu tivesse disposto a aproveitar do uso deles. O pai do nosso amigo Coiffart ofereceu sua casa para mim, com aquela generosidade que você tinha dito que não havia nada que ele desejasse mais do que eu ficasse hospedado com seu filho. Coiffart também, com muitos rogos, e daqueles que não são de forma nenhuma frios ou distantes, insistiu muitas vezes que deveria me ter por colega e companheiro; não há nada que preferisse mais que receber de braços abertos este convite da parte do meu amigo, cujo conhecimento é agradável e proveitoso para mim, você mesmo pode testemunhar, e que eu teria aceitado imediatamente se eu não pretendesse estudar o dinamarquês, cuja escola está situada a uma grande distância da casa do Coiffart. Todos os amigos que estão aqui desejam ser lembrados por você, especialmente Coiffart e Viermey, com quem eu estou prestes a sair para cavalgar. Cumprimente sua mãe; sua esposa e sua irmã Francisca. Adeus. Eu comecei uma carta para o decano, a qual terminarei quando retornar. Se qualquer inconveniente for ocasionado pelo atraso eu o recompensarei.


[Cópia Latim - Biblioteca de Berna.Volume 450.]
Extaído de Letters 1528-1545 - Selected Works of John Calvin (Albany, Ages Software, 1998), vol. 4, pp. 31-32.
Tradução em 19 de Março de 2014.

Tradutor: Rev. Antônio dos Passos Pereira Amaral, ministro presbiteriano, pastor efetivo na Igreja Presbiteriana de Lagoa Santa; professor de teologia e hermenêutica na Escola Bíblica Central do Brasil/Lagoa Santa-MG; Bacharel em Teologia e Missiologia pela Escola Superior de Teologia e Estudos Transculturais/Montes Claros-MG (2003), Bacharel em Teologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie/São Paulo-SP (2013), cursando Mestrado (MDiv) em Teologia Histórica pelo Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper/SP.

Revisado por Rev. Ewerton B. Tokashiki
Pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Porto Velho
Professor de Teologia Sistemática no SPBC-RO

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Caro leitor, a sua opinião sobre este post é muito importante. Para boa ordem, os comentários são moderados e somente são publicados os que forem assinados e não forem ofensivos, lembrando que discordar não é ofensa. Por isso, sigo alguns critérios:
(1) Reservo-me no direito de não publicar comentários de "anônimos". Quer criticar e ter a sua opinião publicada, por favor, identifique-se. (2) Se quiser discordar faça-o com educação, e sem usar palavras imorais ou, ofensivas! (3) Ofereça o seu ponto de vista, contudo, não aceitarei que você ensine heresia em seu comentário, e não contribuirei para que ela seja divulgada neste espaço.

Carta de Johannes Aecolampadius para Hulrich Zwingli

20 de agosto de 1531.[1]   Saudações. Eu li, mui querido irmão, a opinião que você expressou a respeito do caso do rei da Inglaterra, e...